A geógrafa Flávia Bonolo, que teve o carro depredado por bolsonaristas na Paraíba na última semana, divulgou nas redes sociais na segunda-feira, 7, um vídeo em que aparece sendo agredida (veja acima). Ela foi presa no dia 2 de novembro, acusada de lesão corporal e de embriaguez ao volante, depois de avançar sobre o grupo bolsonarista para furar o bloqueio.
Flávia nega os crimes e alega que tentou sair com o carro depois de ser agredida, com o objetivo de dar fim à hostilidade.
"Mais um vídeo que comprova a minha versão. Eu fui covardemente agredida em atos bolsonaristas na Av. Epitácio Pessoa, em João Pessoa. O ataque aconteceu por volta das 20h do dia 02/11, quarta-feira", escreveu nas redes sociais. "No vídeo, é possível identificar um dos agressores, que brutalmente bate a minha cabeça no volante do carro, inclusive retirando meus óculos – instrumento fundamental pra conseguir continuar dirigindo. Vejam que eu não revido ao ataque, mesmo ele tendo cuspido na minha cara", afirmou Flávia.
A geógrafa ainda relatou que na versão apresentada pela Polícia Militar e pelos agressores, ela não teria sofrido nenhuma agressão. "Fica claro, no vídeo, que é mentira. Inclusive, me quiseram negar o direito a um exame de corpo de delito", acrescentou.
Entenda o caso
O episódio aconteceu na noite de 2 de novembro. O carro de Flávia, que estava com adesivos da campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi depredado e teve o pára-brisa quebrado por apoiadores do candidato derrotado, Jair Bolsonaro (PL), na Avenida Epitácio Pessoa, em João Pessoa (PB).
A motorista foi acusada de lesão corporal e de embriaguez ao volante ao tentar furar o bloqueio e chegou a ser detida. Flávia, no entanto, negou que tinha bebido naquela noite.
Em entrevista à TV Cabo Branco, afiliada da TV Globo na região, o Sargento Albérgio, da BPTran, alegou que foi ofertado o teste de bafômetro à motorista, mas ela se recusou a realizá-lo.
"Ela informou que não bebeu. Foi perguntado a ela se ela tinha consumido bebida alcoólica e ela disse que não bebeu, e foi feita a recusa. Mediante isso, o CTB manda fazer o termo de constatação da capacidade de alteração psicomotora, e foi constatado sinais de alteração psicomotora", disse.
O advogado de Flávia, Getúlio Souza, informou à TV que a cliente deveria ter tido a chance de fazer uma contraprova ao teste do bafômetro.
"A gente compreende que não foi questão de acidente de trânsito, porque compreende que houve agressões antes, o que será aferido pela autoridade policial. No primeiro momento, ela disse que não iria fazer [o teste do bafômetro] porque isso não compete à polícia de trânsito", disse.
Após recusar o teste e ser levada para a delegacia, a geógrafa mudou de ideia, e, quando quis fazer o teste, o policial recusou atender ao pedido, segundo o advogado.
"Indaguei o policial por que ele estava recusando, e ele disse que era porque ela já tinha recusado. Se ela pode fazer uma contraprova, eu me pergunto por que um agente de segurança negou-se a fazer o teste nela, o famigerado teste do bafômetro", questionou o advogado.
Flávia foi ouvida durante a madrugada de quinta-feira, 3, e liberada mediante pagamento de fiança no valor de R$ 600. O caso foi registrado como lesão corporal e embriaguez ao volante contra a condutora. A defesa negou os crimes e os responsáveis por depredar o carro não foram detidos.
Advogado dos manifestantes pró-Bolsonaro, Rogério Capistrano disse que a polícia constatou a embriaguez ao volante e que três pessoas teriam sido atingidas pelo veículo.
"A carteira dela tem que ser levada para o Detran e lá [tem que] ser resolvido administrativamente", disse.
Relato de Flávia
A motorista disse, em entrevista à TV local, que foi hostilizada, e que os manifestantes jogaram objetos, como latas de cerveja e casca de banana, dentro de seu carro, além de água em seu rosto.
"Comecei a ficar nervosa, tentava fechar a janela mas não conseguia, porque eles estavam bem assim no carro [segurando as janelas]. Eles rasgaram, me puxaram, inclusive eu tenho marcas e hematomas, minha roupa foi rasgada, e em certo momento eu percebi que meu carro estava movendo, sendo linchado, e eu vi que o pára-brisa do meu carro estava quebrado. Nesse momento eu tirei o meu carro, e foi o momento que estão dizendo que eu quis atropelar as pessoas", relatou.
A geógrafa disse ainda que estava apenas tentando sair do local para cessar a hostilidade, e não teve intenção de atropelar ninguém ou seguir adiante com o veículo.
"Eles vieram para cima, colocaram a mão para dentro do meu carro, para tirar a chave da ignição. Meu carro travou e a PM chegou e cercou o carro", relembrou.