Na primeira mobilização nacional durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou atos nesta sexta-feira, 8, pelo Dia Internacional da Mulher nos principais Estados do País sem invadir uma única fazenda. Em 15 anos, é a primeira vez que isso acontece.
No ano passado, durante a jornada de março, mulheres do MST invadiram a fazenda do então presidente Michel Temer (MDB), no interior de São Paulo, o porto de Natal, a fábrica da Nestlé em São Lourenço (MG), a sede da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), além das sedes do Incra em Brasília e em outras capitais, em ações que exigiram intervenção policial.
Este ano, a jornada foi marcada por atos públicos em capitais, como São Paulo, Salvador, Belém, Porto Alegre e Maceió, sem a ocupação de prédios e áreas públicas ou particulares. Os atos incluíram atividades culturais, oficinas artísticas e homenagens a Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio de Janeiro. Houve até distribuição de alimentos cultivados nos assentamentos para a população em cidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apenas em Ipiaú, na Bahia, 200 mulheres do MST e do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) ocuparam a mineradora australiana Mirabela Nickel. A empresa foi desocupada duas horas depois sem que os trabalhos fossem paralisados.
A atuação 'comportada' do maior movimento de luta agrária do País coincide com a ofensiva de Bolsonaro para criminalizar o MST. Depois de nomear o ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Nabhan Garcia, inimigo declarado do MST, para a Secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Bolsonaro determinou aos órgãos do governo que só ouvissem movimentos sociais com personalidade jurídica - o que excluiria o MST -, mas voltou atrás. O presidente também ameaçou tratar como "ato de terrorismo" invasões de propriedades.
O MST informou que as ações do Dia Internacional da Mulher foram atos políticos em defesa da reforma agrária, da luta das mulheres pelos seus direitos e contra a reforma da previdência. De acordo com Débora Nunes, da coordenação nacional, as manifestações em todo o país foram pacíficas, mas atingiram o objetivo de chamar a atenção da sociedade para "os ataques que a reforma agrária e os movimentos de luta pela terra têm recebido do governo Bolsonaro". Segundo ela, a mobilização continua até o dia 14 e nenhuma forma de luta está descartada.