Não é porque se dizem manifestantes que terão nosso apoio, diz ministra

11 fev 2014 - 20h35
(atualizado às 20h38)

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, condenou nesta terça-feira, durante uma reunião da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, a ação de Fábio Raposo, que está preso, e de outro homem, com prisão decretada, que provocou a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade, enquanto o jornalista fazia na quinta-feira (6) a cobertura de uma manifestação contra o reajuste das tarifas de ônibus no centro da capital fluminense.

Maria do Rosário comparou a morte do cinegrafista a um ato de impedir o trabalho de profissionais de comunicação como acontecia no pedido da ditadura. Para ela, a repressão amordaçou ativistas e isso não pode se repetir em um páis que está em pleno Estado Democrático de Direito.

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"Nós sempre criticamos os atos desproporcionais por parte dos agentes do Estado. O Conselho de Defesa dos Direitos Humanos aprovou resoluções claras contra o uso desproporcional da força. Há normas internacionais e nacionais que dizem que o policial só pode utilizar da força proporcional para defender a sua própria vida ou de outro ser humano. A vida está acima de tudo, do patrimônio ou de qualquer outra coisa . Se temos estas regras para os agentes do Estado, e eles devem cumpri-las, como podemos pensar que seja adequado ou chamarmos de manifestações quando a participação se dá com a intenção de utilizar-se de um artefato, qualquer que seja, que pode ferir, que pode matar?", questionou.

A ministra disse que, em uma ditadura, os primeiros a serem atacados são os jornalistas. "É impossível que o País não pense que o que aconteceu foi muito grave. Se temos que debater o conteúdo e a atuação de policiais militares, se temos que atuar em outro patamar de relações no âmbito do Estado, é impossível não observar quantos passos atrás se dá quando quem se apresenta como manifestante, na verdade, utiliza práticas que são insuportáveis do ponto de vista dos defensores dos Direitos Humanos. Não é porque se apresentam como manifestantes que terão nosso apoio. Terão a consideração quando estiverem responsabilizados para que se cumpra adequadamente a Lei de Execuções Penais", completou.

Maria do Rosário apontou que, atualmente, os comunicadores são alvos da violência em vários segmentos, seja em um blog no interior do Brasil, em uma cobertura de uma desocupação ou em uma área qualquer, mas, para ela, o inadmissível é que isso ocorra também em manifestações populares. "O que não poderia acontecer de forma alguma em um ambiente que teríamos como democrático de manifestações, eles sejam alvos especial da violência de todos os lados" , analisou.

A ministra defendeu a punição para os dois homens que provocaram a morte do cinegrafista e o fim da violência nas manifestações. "Nós não podemos defender que fiquem impunes. Que sejam responsabilizados, mas me dirijo aos defensores de direitos humanos para que não aceitem a violência. A violência desestrutura a sociedade e arma os nossos adversários, os adversários dos direitos humanos, os adversários  da paz, da vida . A violência nunca foi solução para os povos", disse.

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A ministra acrescentou que em momento democrático, as manifestações devem usar a voz e as palavras. "Era tão mais simples que estes jovens pudessem usar o megafone, porque seriam ouvidos", disse.

Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão durante a cobertura de um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro. Além dele, outras seis pessoas ficaram feridas na mesma manifestação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela secretaria no início da tarde de 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva.

Repórteres cinematográficos e fotográficos fazem homenagem a Santiago
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O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.

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Raposo ajudou a polícia a reconhecer um segundo responsável pelo disparo do artefato que causou a morte do cinegrafista. O tatuador, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou, de acordo com o relato do delegado, que “eles se encontravam em manifestações" e que "esse rapaz tem perfil violento”.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou, na manhã do dia 11, uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que atingiu Santiago Andrade. Caio Silva de Souza, 23 anos, é considerado foragido e tem duas passagens pela polícia. Fábio Raposo, que passou o rojão, reconheceu o autor do disparo a partir da imagem leava pelo delegado. Ele está sendo procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão.

Agência Brasil
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