O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou nesta quinta-feira que “não é possível” partidarizar órgãos de controle e polícias no Brasil. Possível candidato à Presidência pelo PSB em 2014, Campos evitou fazer juízo de valor sobre as acusações do PSDB contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de interferência nas investigações do caso Siemens e defendeu que todas as denúncias sejam apuradas.
“Não é possível partidarizar órgão de controle, ação de polícias. Essa é a nossa visão quando nós governamos, quando nós administramos, quando sobre algum governo, sob a liderança do PSB, aparece algum questionamento”, disse o governador, em Porto Alegre, antes de se reunir com empresários, evitando se posicionar sobre o pedido de afastamento do ministro da Justiça, como defendem os tucanos.
“Não tenho juízo de valor sobre esse caso específico. Se houve isso ou não houve isso, não tenho condições aqui de saber. Não tenho nenhuma informação se houve ingerência política no aparelho social”, acrescentou o governador, que integrou o governo federal no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na terça-feira, líderes do PSDB acusaram o PT de forjar documentos que foram entregues por Cardozo à Polícia Federal para incriminar os tucanos e atenuar o impacto das prisões de petistas envolvidos com o esquema do mensalão. Alguns dos documentos que vieram à tona agora eram conhecidos do Ministério Público de São Paulo desde 2009.
Em passagem pelo Rio Grande do Sul, Campos se reuniu com integrantes do PPS de olho no processo eleitoral de 2014. O pessebista evitou, no entanto, dar conotação eleitoral a sua aproximação com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável candidato tucano ao Planalto. O governador considera ser cedo para pensar em eventuais apoios para o segundo turno.
“Nós não estamos discutindo segundo turno, estamos discutindo programa. Vamos ver como a eleição vai se comportar a partir do início da campanha”, disse. “Há um constante desejo de mudança (por parte da sociedade brasileira). (...) Quando inaugurarmos a fase em que a sociedade vai entrar no debate efetivamente, lá por agosto, aí nós vamos ver como vai se instalar o segundo turno”, acrescentou.
Recentemente aliado à ex-senadora Marina Silva, Campos considera haver um esgotamento da polarização PT-PSDB, presente nas últimas quatro eleições presidenciais. “Eu compartilho desse sentimento de que há um esgotamento desse padrão. Isso faz bem à democracia e vai ter a opção de fazer um debate. O Brasil é mais complexo do que isso, o mundo vive um momento muito mais complexo. O Brasil tem feito um grande esforço de olhar além do amanhã”, afirmou.
Dentre as críticas à polarização partidária, Campos chamou de “sofismas” a tentativa do PT em diferenciar o modelo de concessão adotado pelo governo federal do realizado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Essa coisa de conceituar não está correta. Não vamos usar de sofisma. PPP (Parceria Público Privada) é PPP em qualquer lugar do mundo e concessão é concessão em qualquer lugar do mundo. Tem concessão bem feita e concessão mal que pode ser feita de maneira lesiva. O que eu acho é que nós demoramos de fazer uso desse instituto”, disse.
O governador de Pernambuco levantou dúvidas sobre a política econômica do governo federal, voltando a afirmar que o governo deve garantir a manutenção do tripé econômico (superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação). “É uma condição importante para que possamos reverter uma crise de expectativa que há sobre o Brasil”, disse.