Não foi maior: ato anti-Dilma tem público reduzido em SP
De acordo com a PM, 275 mil pessoas protestaram neste domingo contra o governo da presidente Dilma Rousseff, em São Paulo; no primeiro grande ato, no dia 15 de março, polícia calculou 1 milhão de manifestantes na rua
A promessa de “vai ser maior” não se confirmou. A segunda manifestação contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), realizada neste domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, contou com público menor do que o esperado pelos organizadores. De acordo com a Polícia Militar, 275 mil manifestantes participaram do ato de hoje, enquanto o público do protesto anterior foi estimado em 1 milhão pela corporação. O Instituto Datafolha, por sua vez, calculou 100 mil pessoas na Paulista neste domingo, e 210 mil em 15 de março. Gritos contra o "comunismo", selfies com policiais e clima de micareta, no entanto, mais uma vez deram o tom.
De acordo com o coronel Celso Luiz, comandante do Centro e responsável pela operação, a ferramenta usada para calcular o número de manifestantes foi a mesma usada no protesto do dia 15. Chamado de “Copom Online”, o programa é abastecido por imagens aéreas, que hoje foram captadas por dois helicópteros Águia.
A manifestação foi organizada em blocos, e cada movimento ficou responsável por um espaço. Como alguns coletivos estreantes não receberam grande adesão do público, foram os já conhecidos “ícones anti-PT” que comandaram as reivindicações. De um lado, SOS Forças Armadas pediam intervenção militar no País; do outro, Revoltados Online, Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre discursavam contra a corrupção e defendiam o impeachment.
Além das camisas da CBF e de outras roupas nas cores verde e amarelo, os manifestantes exibiram camisetas com mensagens como “Fora PT”, “A culpa não é minha, eu votei no Aécio” e “Olavo tem razão”, esta última em referência a Olavo de Carvalho, autor idolatrado por simpatizantes da direita. Enquanto bradavam gritos de “quem não pula é comunista” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”, dançavam ao som de paródias de canções variadas, desde Faroeste Caboclo, da banda Legião Urbana, até Show das Poderosas, da funkeira Anitta – a maioria com letras de acusações e ofensas a Dilma.
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Ambulantes relatam queda nas vendas
Não foi só a Polícia Militar que notou queda no número de manifestantes. Os ambulantes que circularam entre os pedestres – disponibilizando opções variadas que iam desde hot dogs até picolés gourmet – também disseram sentir movimento fraco e reclamaram da queda nas vendas.
O vendedor de espetinhos que preferiu se identificar apenas como José é um deles. Ele contou à reportagem que, no último ato, vendeu cerca de 60 espetos (de carne, frango e linguiça) das 16h às 17h30. Neste domingo, das 14h às 15h30, comercializara apenas dois.
“Nem se compara, na outra manifestação tinha muito mais gente. E gente com muito dinheiro, dava para ver na cara deles. Aí vendemos bem. Por volta das 15h, eu já tinha vendido tudo. Hoje, nesse mesmo horário, ainda tem isso”, disse também Sério Ricardo, apontando seu isopor lotado de cervejas, refrigerantes e águas. “O problema é que estão divulgando muito esses eventos. Aí quem nunca trabalhou como ambulante resolve vir vender também. E, como eles não dependem desse dinheiro como nós, colocam preços menores”, reclamou.
Ato contra o governo reúne milhares de manifestantes em SP
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Sérgio se referiu a jovens como Bruno Tuuneli e Vinicius Ianicelli, ambos de 19 anos. Estudantes de engenharia, eles participaram do protesto anterior como manifestantes e se indignaram ao comprar uma água por R$ 5. Por isso, resolveram montar seus próprios isopores e ir até a avenida comercializar bebidas por preços baixos. Uma garrafa de água com eles, por exemplo, saía por R$ 3. “Nós esperávamos que teria mais gente, como no outro protesto. Mas está dando para vender. O bom é que está calor, então o pessoal fica com sede e vem comprar de vez em quando”, explicou Bruno, que diz apoiar o ato pois “o País não está lá essas coisas”.
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Além dos alimentos, outros vendiam ainda “souvenirs” do protesto, como camisetas e faixas de "Fora Dilma" e apitos. Ouvidos pelo Terra, eles também reclamaram do "movimento fraco".
Idoso queima bandeira do PT durante protesto na Av. Paulista
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Impeachment?
Embora nem todos defendessem o impeachment da presidente Dilma, todos os manifestantes entrevistados pelo Terra diziam estar ali protestando contra a corrupção.“Estou inconformada com a situação do País e defendo tudo que seja para tirar o PT”, disse a dona de casa Regiane França de Morais, 43 anos, que defende a saída de Dilma. “Infelizmente quem assumiria seria o vice (Michel Temer), mas acho que ele tentaria fazer algo para parecer diferente”, completou.
Para o educador e advogado Carlos Roberto Sampaio, a saída seria Dilma deixar o PT. “Juridicamente, o impeachment é um tanto difícil. Mas eu queria que ela tivesse a responsabilidade de romper com os seus pares, com os seus iguais. E fazer um término de governo com mais vontade”, afirmou.
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Já a fisioterapeuta Maisa Brito, 52 anos, disse querer novas eleições. Segundo ela, o Brasil precisa “começar do zero”, como políticos com “outras ideias”. “Já estamos saturados de tanta corrupção e impunidade. Estamos de saco cheio disso, basta”.
Manifestante fica nua e é detida
Segundo a PM, a única ocorrência registrada foi a prisão de uma mulher que ficou completamente nua na Avenida Paulista. Ela foi detida por “ato obsceno” e levada para o 78º DP (Jardins). Além disso, um manifestante que defendia a intervenção militar foi hostilizado por uma multidão, próximo à Alameda Campinas. O clima ficou tenso, e o homem precisou ser escoltado pela polícia.
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O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) se juntou aos manifestantes na avenida Paulista, em São Paulo, para protestar contra o governo; foto registrada pelo leitor Daniel Figueiredo Ometo