'Não vou ser recheio de pizza', diz único opositor na CPI dos Ônibus do RJ

9 ago 2013 - 17h08
(atualizado às 17h12)
<p>Manifestantes que ocuparam a Câmara Municipal do Rio exigem que vereador do Psol assuma presidência da CPI</p>
Manifestantes que ocuparam a Câmara Municipal do Rio exigem que vereador do Psol assuma presidência da CPI
Foto: Daniel Ramalho / Terra

A comissão parlamentar de inquérito (CPI) que vai investigar o sistema de ônibus da cidade do Rio de Janeiro na Câmara Municipal começou com polêmica. Em reunião marcada de última hora para a manhã desta sexta-feira, o plenário escolheu quatro aliados do prefeito Eduardo Paes (PMDB) para compor a mesa diretora da CPI. Presidente e relator são do próprio partido de Paes. O propositor da comissão, Eliomar Coelho (Psol), ficou isolado, o que causou indignação de cerca de 300 manifestantes que esperavam participar da primeira reunião, mas foram impedidos pela segurança da casa.

O presidente da CPI, Chiquinho Brazão (PMDB), o relator Professor Uoston (PMDB), além dos outros dois integrantes aliados do prefeito - Jorginho da SOS (PMDB) e Renato Moura (PTC) - não estavam entre os vereadores signatários do requerimento. Isso deu indícios sérios aos manifestantes de que uma "pizza" está a caminho. E colocou o vereador do Psol em uma situação de isolamento. Ele deu uma entrevista exclusiva ao Terra em que prometeu manter sua posição na comissão.

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Terra - Os manifestantes estão revoltados porque foram escolhidos quatro aliados do prefeito Eduardo Paes para comandar a CPI. Eles gostariam que você fosse o presidente. Como fica a sua situação na comissão?

Eliomar Coelho - Realmente, isso não aconteceu e significa ter provocado esta frustração enorme, de forma que as pessoas estão colocando para fora sua indignação. Por que isso existe? Porque eu fui o proponente desta CPI e me preparei o tempo todo para presidi-la. Passei o recesso inteiro buscando informações, parcerias, tanto na academia como em instituições sindicais. Achava eu mais do que natural. Os interesses eram atender a pedidos das manifestações de rua. Isso foi traduzido no meu pedido de CPI.

Primeiro houve uma dificuldade. Quis fazer a instalação da CPI na quinta-feira e colocaram uma série de barreiras. Aí eles marcaram para terça-feira e, sem a minha participação, anteciparam para hoje a reunião no auditório que só cabe 50 pessoas. Aí se fez um acordo para que fosse no salão nobre, com capacidade para 250, 300 pessoas. O salão nobre tinha espaço até dizer chega, mas as pessoas tiveram dificuldade de acesso. Tinha que se identificar e o processo era lento, o que impediu as pessoas de participar. A presidência da Câmara agiu com insensibilidade, o que se refletiu nesta ocupação que estamos vendo agora.

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Terra - O senhor reconhece esta reunião como válida?

Coelho - Ela é válida. Eu discordo dos métodos que foram adotados anteriormente para que esse fosse o resultado.

Terra - Se depender do senhor, a CPI continua do jeito que eles definiram?

Coelho - A CPI continua e eu sou membro. Não sou presidente, não sou relator, mas continuo como membro. E vou discutir com meus companheiros de partido, de movimentos sociais, o que eu devo fazer.

Terra - Mas os manifestantes votaram em plenária e não reconhecem esta reunião. Eles querem a revogação da escolha dos quatro vereadores aliados para formar a mesa diretora da CPI.

Coelho - A primeira perplexidade é terem sido indicadas quatro pessoas que eram contra a CPI. Ou seja, não subscreveram o requerimento. Depois de terem sido indicados, as declarações que eles vêm dando na imprensa também são um negócio complicado. Um disse que pouca coisa havia a se apurar. Outro disse que não existe monopólio de ônibus no Rio de Janeiro. Outro que não entendia de transporte, mas queria participar para aprender. Realmente são declarações comprometedoras que dão o direito de qualquer pessoa a ter dúvida quanto ao resultado aqui. A única coisa que tenho afirmado é que não vou, de forma alguma, servir de recheio para uma pizza que seja preparada por essa CPI.

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Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

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Fonte: Terra
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