Nomeado por Lula e Marina para Fórum do Clima vira réu em ação sobre desvios em programas culturais

Sérgio Xavier, ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, e mais nove alvos da Operação Fantoche vão responder ação penal por 'furto qualificado' em suposto esquema que teria desviado R$ 6 milhões do Sistema S; ativista afirma que denúncia é 'absurda' e 'requentada'

23 ago 2023 - 05h11
(atualizado às 07h19)
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao lado de Sérgio Xavier, nomeado para o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao lado de Sérgio Xavier, nomeado para o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima.
Foto: Divulgação/governo federal / Estadão

A Justiça Federal aceitou denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e abriu ação penal sobre supostos desvios de R$ 6 milhões do Sistema S em contratos para programas culturais em Pernambuco. Dez acusados vão responder por 'furto qualificado'.

Um dos acusados é Sérgio Xavier, ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e atual coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), órgão vinculado ao governo federal.

Publicidade

Xavier foi nomeado para a função no dia 5 de julho, por ato do presidente Lula e da ministra do Meio Ambiente Marina Silva. A atividade é voluntária e sem remuneração.

Procurado pela reportagem, ele negou irregularidades. Xavier afirma que tem longa trajetória de ativismo ambiental e "jamais foi acusado de qualquer desvio". Ele também classificou a denúncia como "requentada" e "sem fundamento".

"Na década passada o MPF formulou uma denúncia de 'peculato' que foi julgada improcedente (pois não havia recurso de nenhum órgão público) e rapidamente arquivada pela justiça", diz um trecho da nota. "É incompreensível que alguém já inocentado esteja revivendo o pesadelo de uma acusação absurda e injusta", segue o texto (leia a íntegra ao final da matéria).

Os contratos questionados foram firmados para patrocinar as edições de 2014 e de 2017 do Relix Pernambuco, programa voltado para ações de arte, educação, tecnologia e sustentabilidade.

Publicidade

A procuradora da República Silvia Regina Pontes Lopes, que assina a denúncia, afirma que gestores firmaram contratos sem pesquisa de preço e sem acompanhamento da execução orçamentária, o que teria aberto margem para superfaturamento e desvios.

Veja todos os réus:

  • Ricardo Essinger - diretor regional da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) no Estado;
  • Sérgio Luís de Carvalho Xavier - ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima;
  • Ernane de Aguiar Gomes - superintendente do Departamento Nacional do Sesi-PE à época;
  • Hebron Costa Cruz de Oliveira - diretor do Instituto Origami;
  • Romero Neves Silveira Souza Filho - diretor do Instituto Origami;
  • Júlio Ricardo Rodrigues Neves - sócio da Idea Locação de Estruturas e Iluminação;
  • Luiz Otávio Gomes Vieira da Silva - administrador da Aliança Comunicação e Cultura;
  • Lina Rosa Gomes Vieira da Silva - administradora da Aliança Comunicação e Cultura;
  • Luiz Antônio Gomes Vieira da Silva - administrador da Alto Impacto Entretenimento;
  • Nilo Augusto Câmara Simões - ex-superintendente do Departamento Nacional do Sesi-PE.

O juiz Jaime Travassos Sarinho, substituto na 4.ª Vara da Justiça Federal em Pernambuco, considerou em uma análise preliminar que há elementos suficientes para a abertura do processo. Nesta etapa, não há análise do mérito das acusações.

"A denúncia apresentou as circunstâncias de tempo e lugar, e descreveu de forma suficiente a conduta dos acusados, embora a sua comprovação seja dependente de um conjunto probatório que só se confirmará - ou não - após regular instrução criminal", escreveu Jaime Travassos Sarinho.

COM A PALAVRA, SÉRGIO XAVIER

"Esta denúncia, sobre uma atividade privada realizada há quase 10 anos, foi julgada improcedente e arquivada pela justiça, simplesmente por não haver recurso público. Portanto, a divulgação do MPF visando ressuscitar um processo, já transitado em julgado, é uma estranha tentativa de burlar uma decisão do STJ e atacar publicamente pessoas que jamais cometeram irregularidades. Síntese dos fatos: (1) Em 2014, quando não ocupava cargo público, Sérgio Xavier foi consultor do Projeto Relix - um projeto privado de interesse social, patrocinado pelo setor industrial, que envolvia reciclagem, educação ambiental, artes cênicas e apoio a cooperativas de catadores; (2) Os serviços foram comprovadamente prestados pela empresa SX Brasil, da qual era sócio, a outra empresa privada - a Aliança Comunicação, e foram pagos com as devidas emissões de notas fiscais e corretas transferências bancárias entre pessoas jurídicas; (3) Não havia recurso público e os resultados do Projeto foram amplamente reconhecidos e difundidos pela imprensa. Na década passada o MPF formulou uma denúncia de "peculato" que foi julgada improcedente (pois não havia recurso de nenhum órgão público) e rapidamente arquivada pela justiça. Agora, a mesma procuradora, sem apresentar qualquer fato novo, requenta a denúncia e procura espaço na imprensa, repetindo algo sem fundamento e já definitivamente julgado. É incompreensível que alguém já inocentado esteja revivendo o pesadelo de uma acusação absurda e injusta. Com uma longa trajetória de ativismo ambiental e atuação pública Sérgio Xavier jamais foi acusado de qualquer desvio. Atualmente coordena o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, uma atividade voluntária e sem remuneração."

Publicidade

COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS

A reportagem busca contato com os citados. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com, fausto.macedo@estadao.com).

Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se