O novo coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Alessandro Fernandes Oliveira, disse ao Estadão que pretende dar continuidade ao trabalho desenvolvido desde 2014 pelo procurador da República Deltan Dallagnol, a quem vai substituir. "Em time que está ganhando não se mexe", afirmou Oliveira.
Atualmente integrante do grupo de trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República, Oliveira disse ainda que não é aliado do chefe do Ministério Público Federal, Augusto Aras, e da subprocuradora-geral Lindôra Araújo, a quem respondia até esta Terça-feira (1º). "Sou aliado da promoção de Justiça, da independência funcional, daquilo que seja o melhor para o Ministério Público e para o Brasil", declarou.
O que o senhor já pode dizer sobre sua atuação como chefe da Lava Jato no Paraná?
Continuidade. Usando o jargão popular, em time que está ganhando não se mexe. É uma equipe altamente competente. O Deltan é um líder nato, uma pessoa de caráter e profissionalismo inquestionáveis. Eu costumo dizer que eu não pretendo substituí-lo, mas tão somente lhe suceder. Espero que a equipe permaneça, todos são altamente qualificados. Nossa viga mestra será a continuidade, tentar manter o que nós temos e avançar naquilo que seria um processo natural. Parafraseando já o Iluminismo, eu vou conseguir enxergar certamente um longo horizonte porque estarei apoiado aos ombros de gigantes.
O procurador-geral Augusto Aras defende uma correção de rumos na Lava Jato. Concorda?
A frase usada pelo PGR, eu imagino que ele possa explicar melhor o sentido que ele atribuiu. Eu, como admirador da Lava Jato, a vejo até com certo idealismo. Mas, é claro, de maneira concreta, assim que assumir a posição na força-tarefa, terei melhores condições de avaliar o trabalho e verificar eventuais arestas a serem aparadas. Se eventualmente existirem, serão arestas a serem aparadas, porque é uma bandeira que eu tenho acompanhado e reitero a minha admiração.
Como descreve a sua relação com o procurador-geral Augusto Aras e a coordenadora da Lava Jato na PGR, Lindôra Araújo?
Estritamente profissional, apesar de intensa, pela natureza e quantidade de tarefas desempenhadas no GT.
O senhor se descreveria como um aliado de Augusto Aras ou de Lindôra Araújo?
Não, absolutamente. Sou aliado da promoção de Justiça, da independência funcional, daquilo que seja o melhor para o Ministério Público e o Brasil.
Como o senhor descreve o momento da Lava Jato do ponto de vista político?
É difícil avaliar, porque ainda não ingressei na força-tarefa para verificar como está, mas, em relação ao contexto da Lava Jato em geral, desde o seu início, eu sou um dos maiores admiradores, sou apoiador quase incondicional dos trabalhos da Lava Jato, tanto é que, até para ingressar no grupo de trabalho em 2018, fui voluntário por acreditar nas bandeiras, nesse divisor de águas que significa a Lava Jato. Em relação ao cenário atual, eu vou precisar de um tempinho para entender o contexto.
Aras tem sido criticado por colegas por tentar hierarquizar ou centralizar o MPF. Como vê essa disputa interna?
Eu não me sentiria à vontade (para comentar) porque cada um tem sua independência funcional. Somente a partir de eu tomar pé da situação, terei condições de avaliar. Mas não há dúvida de que a independência funcional é uma das grandes bandeiras do MP que precisam ser preservadas.
A PGR pediu ao Supremo o compartilhamento dos dados da Lava Jato do Paraná. O sr. vai entregar esses dados?
Como a questão já foi judicializada, ela precisa ser discutida no âmbito judicial. Eu estaria sendo leviano de apresentar posição inicial sem conhecer os argumentos de um lado ou de outro. Hoje, de ofício, não tenho nada a fazer.
Deltan Dallagnol é ativo nas redes sociais e já virou alvo de representações no CNMP. O senhor tem perfil diferente?
Eu acredito que isso é mais uma característica da pessoa, por ser uma pessoa com vinculações funcionais, particularmente eu tenho muitas ressalvas quanto à possibilidade de instituições de controle adentrarem nas manifestações de opinião de qualquer cidadão e muito mais de membros do MP. Particularmente, sou um pouco mais reservado, mas isso não quer dizer que é melhor ou pior. É uma característica pessoal. Nas minhas redes, costumo ter apenas pessoas de vínculos familiares e próximas. Raramente procuro emitir alguma opinião que tenha alguma consequência ou indique algum posicionamento que tenha qualquer coisa político-partidária. A única rede que tenho uso para temas 100% particulares.
O senhor deixou o grupo de trabalho da Lava Jato na gestão de Raquel Dodge alegando incompatibilidade. Houve nova debandada na gestão Aras, mas o senhor ficou. Como compara as duas situações?
O que ocorreu em relação à gestão anterior foram alguns entendimentos que, decorrentes da independência funcional, deixaram alguns procuradores desconfortáveis, eu incluso. Mais recentemente tivemos notícia de que houve situação parecida em relação à atual gestão. Porém, essas eventuais incompatibilidades não afetavam minha atual tarefa no grupo de trabalho.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.