O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, de 46 anos, tem mais relação com a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, do que seu antecessor, Ricardo Salles. Atuando na área privada, Pereira Leite desenvolveu projetos de preservação da floresta, mas também assessorou ruralistas.
A dúvida dos que o conhecem é se, no ministério de Jair Bolsonaro, ele conseguirá fazer valer sua experiência em preservação florestal ou se dobrará à linha do "um manda e o outro obedece".
Há dez anos, quando era diretor da MRPL Consultoria, o goiano Pereira Leite participou de projetos de manejo florestal sustentável e de créditos de carbono na Amazônia. Em um desses projetos, conheceu a engenheira florestal Janaína Dallan, uma das especialistas da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. "Fizemos um projeto de preservação da floresta há mais de dez anos e ele foi uma das pessoas envolvidas", lembra Janaína.
O agora ministro atuou também como conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB) - a bancada ruralista, com mais de 200 deputados e senadores, tem dado suporte ao governo de Bolsonaro. Em 2019, ele foi atuar no Departamento Florestal do Ministério. No ano seguinte, assumiu a Secretaria de Florestas e Desenvolvimento Sustentável, depois substituída pela da Amazônia e Serviços Ambientais.
Foi quando Janaína retomou o contato com Pereira Leite. "Ele queria manter um canal aberto com as empresas voltadas à preservação da floresta na Amazônia. Estava interessado em ajudar para que houvesse mais projetos de preservação", disse. Como secretário, Leite integrou a comissão de preservação do Conselho Nacional da Amazônia Legal.
'Mais aberto'
Segundo Janaína, o novo titular do Meio Ambiente é pessoa mais aberta que seu antecessor, gosta de conversar e entender o que está acontecendo. "Salles já devia ter caído há muito tempo. Ele tinha uma postura de pouca preocupação com a floresta, até favorável ao desmatamento, como se viu. Mas era também muito fechado." Em comparação, ela diz que "o Joaquim é mais acessível, busca entender um pouco mais sobre preservação da floresta. Sabe que pode ser importante inclusive para trazer negócios para o Brasil, de mercado de carbono, de pagamento por serviços ambientais. É a diferença mais impactante, que nos deixa com esse fundo de expectativa de que possa melhorar".
Mas essa expectativa, segundo a engenheira florestal, é "um pouco controvertida". Joaquim "está no governo, atua juntamente com Bolsonaro. O Brasil perdeu o protagonismo ambiental, teve muito retrocesso com o desmatamento explodindo, batendo recordes. A gente tem essa parte que é muito ruim, pois o governo não vem desenvolvendo um bom trabalho nessa questão. Há uma certa expectativa porque o Joaquim entende um pouco mais, tentou realizar bons projetos, mantém diálogo aberto com as empresas. Mas tem o alinhamento político, que é preocupante", completa a engenheira florestal.
Formado em Administração de Empresas, em Marília, o sucessor de Salles tem, em família, uma pendência de certo modo ligada ao seu trabalho: uma disputa desde os anos 1980 com a Funai, e com pouco mais de 500 indígenas, pela ocupação de uma área no Pico do Jaraguá, em São Paulo. Em 2014 o Tribunal Regional Federal da 3ª região (TRF-3) suspendeu uma reintegração de posse e manteve os indígenas na área. A família Pereira Leite recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça.
A Funai informou que a Terra Indígena Jaraguá está juridicamente regularizada desde 1987, havendo reivindicação de ampliação da área em análise no âmbito da fundação. "A Funai esclarece ainda que os documentos relacionados ao processo demarcatório foram publicados no Diário Oficial da União à época", disse, em nota.