O segundo turno da eleição presidencial entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deverá ser marcado por uma troca de acusações ainda mais intensa entre os candidatos sem um aprofundamento de propostas para o País, de acordo com analistas políticas ouvidos pelo Estadão.
Para Graziella Testa, doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), é possível que o confronto de ideias fique em segundo plano até o dia 30 de outubro. "Um segundo turno tão polarizado desse jeito dificilmente terá discussão em torno de políticas públicas. A tendência é de que seja uma campanha sobretudo de acusações para tentar atrair o voto estratégico do eleitor que rejeita um outro candidato", disse.
Em relação à estratégia de campanha dos dois candidatos, a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Nara Pavão acredita que Lula e Bolsonaro devem focar as suas agendas em locais onde o desempenho no primeiro turno ficou abaixo do esperado. "O Sudeste terá uma disputa acirrada porque é uma região estratégica. Mas eles devem evitar áreas onde já têm apoio consolidado. Então Lula vai, em geral, evitar o Nordeste", avaliou.
Neste cenário, Paulo Fábio, professor de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (Ufba), vê Lula com mais possibilidade de ampliar o seu arco de aliados e atrair votos da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e de Ciro Gomes (PDT). "Lula, que já conseguiu unir a esquerda - à exceção do PDT de Ciro Gomes - e tem a figura de Geraldo Alckmin (PSB) como vice, buscará dialogar ainda mais com o centro. Esse movimento será mais difícil para Bolsonaro, que se encontra mais no extremo do espectro político."
Em uma disputa tão acirrada no primeiro turno, os votos da chamada terceira via serão decisivos para definir o vencedor em 30 de outubro. Juntos, Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Luiz Felipe d'Avila (Novo) somaram mais de 9 milhões de voto.