O que Mauro Cid já revelou sobre a 'minuta do golpe'

Ex-ajudante de ordens afirmou à PF que Bolsonaro mostrou para comandantes das Forças Armadas um roteiro de golpe que previa prisão de adversários políticos e anulação das eleições

10 nov 2023 - 12h49
(atualizado às 13h49)
Moraes negou pedido para que Mauro Cid deixasse o Exército e retirasse tornozeleira eletrônica
Moraes negou pedido para que Mauro Cid deixasse o Exército e retirasse tornozeleira eletrônica
Foto: Geraldo Magela/Agencia Senado / Estadão

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, afirmou em delação premiada que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de uma intervenção militar. À Polícia Federal (PF), Cid detalhou o encontro em que foi apresentada a "minuta do golpe".

O documento serviria como um roteiro para anular o resultado das eleições de 2022, impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter Bolsonaro no poder.

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No dia 15 de junho, a PF encontrou um roteiro para um golpe de Estado no celular de Mauro Cid. O texto dá um passo a passo em oito etapas para que as Forças Armadas assumissem o comando do País diante da derrota de Bolsonaro nas urnas.

As Forças Armadas nomeariam um interventor, que fixaria um prazo para "restabelecimento da ordem constitucional", as decisões do Judiciário seriam imediatamente suspensas e os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seriam afastados e substituídos. Por fim, seriam realizadas novas eleições.

Quem é Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Quem é Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

A minuta reproduz ainda questionamentos de militares sobre o sistema de votação. O texto afirma que o TSE teria limitado a transparência do processo eleitoral e impedido acesso ao código-fonte das urnas, o que não é verdade. Também classifica como "arbitrária" a multa de R$ 22,9 milhões imposta ao PL, partido de Bolsonaro, pelo pedido para anular parte dos votos do segundo turno. A condenação foi por "litigância de má-fé" - quando a Justiça é acionada de forma irresponsável ou mal-intencionada.

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Quatro dias após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, outra minuta havia sido encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Esse documento previa a decretação de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral, com potencial para mudar o resultado das eleições.

O tenente-coronel Mauro Cid ao lado do então presidente Jair Bolsonaro
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

Cid disse que Bolsonaro teria mostrado minuta para comandantes das Forças Armadas

Na delação premiada, Cid afirmou que Bolsonaro havia se reunido com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado das eleições. A informação foi publicada pelo portal Uol e pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estadão.

O ex-ajudante de ordens disse que o então presidente mostrou a "minuta do golpe" para os militares como forma de tentar convencê-los a participar da trama golpista. Cid disse que teria recebido o documento de Filipe Martins, então assessor de Bolsonaro e integrante do chamado "gabinete do ódio". No texto, estava previsto que o governo decretaria a prisão de adversários políticos e a convocação de novas eleições.

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Segundo Cid, Bolsonaro levou o documento para a alta cúpula das Forças Armadas, mas apenas o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria se empolgado com a ideia. Os outros militares não concordaram com o plano e o ex-presidente chegou a ouvir de um oficial do Exército que, em caso de um golpe, ele também acabaria sendo retirado da Presidência.

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Memória de Cid e seus acessos no Planalto são problemas para Bolsonaro

Como ajudante de ordens, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio do Planalto, estando ao lado do Bolsonaro em entrevistas, lives, reuniões e salas de cirurgia, sendo o braço-direito e secretário particular de Bolsonaro nos quatro anos do governo passado. As memórias dele e os acessos que teve tornam a delação um problema para o ex-chefe do Executivo.

Cid foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19. Após ter a delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Cid foi liberado de um quartel onde estava detido no dia 9 de setembro.

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