A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quarta-feira, 8, dois suspeitos de integrarem a organização terrorista Hezbollah. Segundo a PF, os investigados faziam parte de um grupo que planejava atacar prédios da comunidade judaica no Brasil.
Na batizada Operação Trapiche, os agentes da PF também realizaram buscas em 11 endereços, em Minas Gerais (7), no Distrito Federal (3) e em São Paulo (1). Os investigadores também inseriram mandados de prisão contra outros dois brasileiros que estariam no Líbano, país de atuação do Hezbollah.
No último dia 16 de outubro, o repórter Marcelo Godoy, do Estadão, mostrou que a general americana Laura Richardson havia alertado para "intenções malignas" da milícia radical no Brasil, ao citar como as atividades do grupo radical na América Latina são uma "preocupação".
O que é o Hezbollah?
O Hezbollah, cujo nome em árabe significa "Partido de Deus", é uma milícia xiita criada durante a guerra civil libanesa, ainda nos anos 80, sendo financiada pelo Irã. Ela tem braços políticos, sociais e militares, e professa uma visão radical do Islã. Desde sua criação, foi responsável por atentados no Oriente Médio, Europa e na América Latina, como o ataque na embaixada israelense em Buenos Aires, em 1992, que deixou 29 mortos.
O grupo atua no Líbano, país do Oriente Médio que se localiza ao norte de Israel, país que considera como inimigo. Em 2008, o Hezbollah lutou em uma guerra sangrenta que durou 34 dias e deixou áreas da capital libanesa Beirute arrasadas pelos ataques israelitas.
Na última sexta-feira, 3, o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, chamou a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas de "guerra santa". Desde o início do conflito no início de outubro, a milícia trocou disparos com o exército israelense na fronteira libanesa, aumentando a tensão na região.
Onde foram presos os integrantes do grupo?
Um dos alvos presos nesta quarta-feira foi detido no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Com ele, a PF apreendeu US$ 5 mil. Já o segundo alvo foi detido em uma panificadora, também no Estado paulista.
Quais eram os possíveis alvos da milícia radical?
De acordo com o portal BBC News, que conversou com pessoas próximas da investigação da PF, o grupo supostamente já teriam selecionados os prédios da comunidade judaica em que desejavam atacar. Os edifícios escolhidos seriam sinagogas e até mesmo a Embaixada de Israel, em Brasília.
Quais crimes os presos pela PF podem responder?
De acordo com a PF, os presos nesta quarta-feira devem responder pelos crimes de constituir ou integrar organização terroristas e de realizar atos preparatórios de terrorismo. Eles estão previstos na Lei nº 13.260, de 2016, chamada de Lei de Terrorismo.
De acordo com a legislação, a pena para constituir ou integrar organização terrorista é de cinco a oito anos de prisão, além do pagamento de multa. No caso dos presos pela PF, considerando também a preparação de ataques terroristas, a pena pode ser elevada para 15 anos e seis meses de reclusão.
O que disse o governo brasileiro?
Durante uma agenda no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino afirmou que a operação foi uma ação preventiva deflagrada a partir de uma "hipótese".
"Temos um compromisso claro, liderado pelo presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] de combate ao terrorismo. Isso se dá também na esfera criminal. Hoje mesmo, a PF está realizando uma investigação em torno da hipótese de uma rede terrorista buscar se instalar no Brasil. Vejam, é uma hipótese que a PF está investigando. E que mostra que, neste caso, só temos um lado, que é o lado da lei, dos compromissos internacionais que o Brasil assumiu", afirmou o ministro.
O que disse o governo israelense?
Em uma nota divulgada nesta quarta-feira, 8, o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que o Mossad, o serviço secreto do país, colaborou com as autoridades brasileiras nas investigações da PF. Segundo Netanyahu, o grupo descoberto no Brasil faz parte de uma rede da milícia radical que também opera em outros países.
"O Mossad agradece às autoridades brasileiras por seu papel na prisão da célula terrorista operando sob ordens do Hezbollah, que pretendia lançar um ataque contra alvos da comunidade judaica no Brasil", diz a nota.