O Palácio do Planalto começou a receber nesta segunda-feira, 6, as obras de arte restauradas após os ataques de 8 de janeiro de 2023. As peças foram submetidas a um processo de recuperação e serão expostas novamente ao público como parte das celebrações pelos dois anos do episódio. Entre os itens entregues, estão o quadro "As Mulatas", de Di Cavalcanti, a escultura em madeira "Galhos e Sombras", de Frans Krajcberg, e a escultura de bronze "O Flautista", de Bruno Giorgi.
O transporte das obras foi realizado com escolta da Polícia Federal (PF). As peças chegaram ao Planalto pela rampa de entrada do prédio. Nesta terça-feira, 7, outra peça será devolvida ao acervo: o relógio do século XVII de Balthazar Martinot e André Boulle, presenteado pela Corte francesa a Dom João VI em 1808 e restaurado na Suíça.
A destruição das obras ocorreu durante a invasão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) às sedes dos Três Poderes, em uma tentativa de contestar os resultados das eleições de 2022. Imagens amplamente divulgadas mostram Antônio Cláudio Alves Ferreira destruindo o relógio. Por sua participação nos ataques, ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 17 anos de prisão.
Nas semanas seguintes ao 8 de Janeiro, a Embaixada da Suíça ofereceu ajuda ao governo federal por deter conhecimento histórico na relojoaria. O acordo envolveu o Ministério da Cultura, a Presidência da República e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O relógio restaurado é um dos dois únicos exemplares conhecidos. O outro está no Palácio de Versalhes, na França. A peça é feita em casco de tartaruga e bronze.
O restauro das demais obras demandou um investimento de R$ 2,2 milhões e mobilizou mais de 30 especialistas. Um laboratório foi montado no Palácio da Alvorada, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O trabalho incluiu a recuperação de itens feitos de madeira, metal, cerâmica e papel, utilizando técnicas que variaram de análises microscópicas a colagens minuciosas.
Nesta quarta-feira, 8, uma cerimônia no Planalto reunirá autoridades e sociedade civil em memória aos ataques. O evento inclui o descerramento de "As Mulatas" por Lula e uma atividade popular na Praça dos Três Poderes, chamada de "Abraço da Democracia". O ato simbólico contará com a presença de representantes do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, de movimentos sociais e da militância de esquerda.
No STF, servidores que atuaram na reconstrução das instalações vão participar de uma roda de conversa liderada pelo vice-presidente da Corte, ministro Edson Fachin. Além disso, será apresentado um site que documenta desde os ataques até o processo de recuperação do prédio.
Artistas de Brasília contribuíram para transformar os destroços do vandalismo em obras de arte. Entre elas, está o "Manto da Democracia", de Valéria Pena-Costa, que simboliza a força coletiva feminina ao reimaginar a toga da ministra Rosa Weber. Outras peças, como uma pintura de Carppio de Morais, abordam temas históricos e sociais, reforçando a mensagem de resistência e renovação.