O Brasil passou cerca de um ano e meio perguntando onde estava Fabrício Queiroz, o ex-assessor acusado de operar "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Desde que teve liberdade concedida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em março deste ano, Queiroz deixou de lado a discrição. Tem aparecido em manifestações bolsonaristas, festas, churrascos e aniversários. Até no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, ele já foi fotografado.
Em seu perfil privado no Instagram, vídeos e fotografias da vida social do policial militar da reserva são publicados quase diariamente. São imagens de Queiroz com a família ou com amigos em situações descontraídas.
Acusado de obstruir as investigações sobre suspeitas de desvios de recursos públicos no gabinete do atual senador quando ele era deputado estadual, Queiroz foi preso preventivamente em junho de 2020. Passou pouco menos de um mês na cadeia, até conseguir, no STJ, o direito à prisão domiciliar. Há pouco mais de seis meses, a mesma Corte lhe garantiu a liberdade. Desde então, deixou para trás o perfil retraído que mantivera nos tempos de refúgio em Atibaia, no interior de São Paulo.
Fora do seu círculo social do Instagram privado, que tem menos de mil seguidores, Queiroz foi visto em atos de apoio ao amigo presidente. No 7 de Setembro, foi a Copacabana para a manifestação bolsonarista. Cantou o Hino Nacional, foi tietado e postou foto prestando continência a um boneco de papelão do presidente do PTB, Roberto Jefferson - preso por ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Queiroz foi denunciado pelo Ministério Público do Rio no ano passado. É acusado de ter operado desvios de salários de assessores de Flávio. A denúncia está parada em meio a um impasse judicial que envolve um pedido de quebra de sigilo e o foro do senador.
Entre a revelação, pelo Estadão, da existência da investigação, em dezembro de 2018, e a liberdade, neste ano, o PM da reserva passou a simbolizar os primeiros indícios de irregularidades envolvendo a trajetória política do clã Bolsonaro. Até ser localizado em Atibaia, a pergunta "Cadê o Queiroz?" se tornou mote de opositores do presidente da República.
'Cadê'
O ex-assessor estava numa casa ligada ao advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, que registrara o endereço como escritório. Wassef havia sido designado para a defesa do senador no processo das "rachadinhas".
A partir da apreensão de celulares, promotores analisaram o WhatsApp do ex-assessor. A vida que ele expõe hoje no Instagram, com festas e bebidas, também era mantida em Atibaia. Ele a compartilhava com a mulher, a também denunciada Márcia Aguiar - que passava a maior parte do tempo no Rio e fazia visitas esporádicas à cidade paulista.
Nos atuais compartilhamentos, Queiroz registra momentos na academia, em festas e no clube de tiro. O filho mais novo, Felipe, tem sido quem mais aparece ao lado do pai. Jogaram bola juntos em mais de uma ocasião e foram em família à manifestação do 7 de Setembro.
No Dia dos Pais, o caçula presenteou Queiroz com uma camiseta do Vasco, time do coração de ambos. A filha Evelyn, denunciada pelo MP sob a acusação de ser funcionária "fantasma" de Flávio, é outra que aparece nos eventos. Nathália, a mais velha, mantém-se afastada da exposição, apesar de interagir em algumas publicações. Ela sempre demonstrou preocupação com a estratégia de defesa nas investigações que envolvem a família. No núcleo familiar, é a principal interlocutora com os advogados que já atuaram no caso desde seu início. A denúncia do MP também a atinge.
Ouvidas pelo Estadão, pessoas próximas a Queiroz não acreditam na possibilidade de o PM da reserva se candidatar a um cargo eletivo em 2022, apesar da empolgação que tem demonstrado com os atos pró-Bolsonaro. O ex-assessor tem até tentado se precaver antes de ir às manifestações - consulta seu advogado para assegurar que as movimentações políticas não vão dar margem para problemas na Justiça. O perfil inquieto de Queiroz, que se queixava de sua situação justamente quando o amigo virou presidente, incomoda Nathalia, como mostraram mensagens analisadas pelo MP no ano passado.