O embaixador Mauro Vieira, indicado nesta sexta-feira, 9, pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva como futuro ministro das Relações Exteriores, afirmou ao Estadão que terá como missão principal trazer o País de volta ao centro das decisões mundiais. "Política externa é um instrumento da afirmação internacional do País e de defesa da soberania, da presença no mundo. O Brasil esteve ausente do mundo e dos grandes centros de decisão nos últimos anos. Todas as medidas que se tomam são importantes nesse sentido, de trazer de volta o Brasil para o cenário internacional", afirmou Vieira.
A primeira declaração de Vieira após a indicação repete o tom adotado por Lula na viagem internacional de estreia como presidente eleito. O petista viajou à Cúpula do Clima (COP-27), no Egito, e afirmou que o Brasil estava "de volta ao mundo". Vieira foi ao país acompanhar a agenda de Lula.
O discurso é também uma crítica direta à política externa adotada pelo governo Jair Bolsonaro, que escanteou diplomatas mais experientes como Mauro Vieira e colocou em segundo plano a agenda do multilateralismo - o termo chegou a ser vetado em documentos e discursos.
"Tenho uma grande relação com Mauro Vieira. Tive uma extraordinária relação quando presidente e resolvi escolhê-lo como meu ministro das Relações Exteriores", disse Lula ao confirmar o retorno do ex-chanceler ao Itamaraty. "O Brasil precisa voltar a ter uma política externa protagonista, uma política externa, como diz sempre o companheiro Celso Amorim, ativa e altiva."
Vieira vai retornar ao Brasil no fim de semana para estar presente na cerimônia de diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na segunda-feira, 12. No mesmo dia, ele também terá a primeira reunião presencial com o presidente eleito como futuro chanceler. Vieira disse que vai discutir com Lula a composição de sua equipe no Itamaraty e as indicações para embaixadas. Lula conseguiu travar as sabatinas no Senado com indicados de Bolsonaro.
Mulheres
Vieira sofreu forte pressão política de mulheres diplomatas, que almejavam ter uma chanceler pela primeira vez na história do País. Cobram ainda indicações para os postos mais prestigiados, como as embaixadas em Washington, Buenos Aires e Paris, além da secretaria-geral das Relações Exteriores.
Vieira não quis antecipar qual espaço elas terão no ministério antes de conversar com Lula. Na equipe de transição, a aposta principal é que as embaixadoras Maria Laura da Rocha e Maria Luiza Viotti, ambas ex-colaboradoras de Amorim, desempenhem funções-chave na chancelaria.
Croácia
O diplomata Mauro Vieira ocupa atualmente o cargo de embaixador do Brasil na Croácia. Logo após a confirmação de seu nome, a seleção brasileira foi derrotada pelo time do país do Leste Europeu na Copa do Mundo, dando adeus à competição.
Vieira foi chanceler no governo Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016. Foi sucedido por José Serra (PSDB) após o impeachment da ex-presidente. Chegou à embaixada brasileira na Croácia em 2019, na gestão Jair Bolsonaro. Antes, ocupou as embaixadas de Buenos Aires, entre 2004 e 2010, e a de Washington, entre 2010 e 2014.
Ao retomar o comando do Itamaraty, Vieira terá a missão de recuperar a imagem do Brasil, concluir negociações de acordos em andamento, como entre Mercosul e União Europeia, e recuperar posições tradicionais da política externa brasileira, a exemplo do protagonismo na diplomacia verde.