Impeachment não é tese, e, como tal, precisa se valer de fatos concretos ou razão objetiva para ser requerido contra o governante – caso contrário, é ação precipitada, fora das regras do jogo democrático. A avaliação foi feita neste domingo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) após um evento com empresários e políticos do qual participou em Comandatuba, no sul da Bahia.
O ex-presidente foi em direção oposta à de movimentos de rua que têm pedido o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e mesmo de partidos e representantes da oposição.
“Impeachment não pode ser tese – ou houve razão objetiva, ou não houve, e quem pode dizer isso é a Justiça, o Tribunal de Contas, a polícia... partidos não podem se antecipar a tudo isso, não tem sentido”, avaliou. “Você não pode transformar seu eventual desejo de que seria melhor outro [governante], não pode fazê-lo fora das regras da democracia. Temos que esperar que essas regras sejam cumpridas – qualquer coisa é precipitação”, opinou.
Fernando Henrique falou sobre o assunto em entrevista coletiva. Indagado se manteria a mesma opinião sobre o impeachment se o Tribunal de Contas da União (TCU) desaprovar as contas de 2014 de Dilma – em função das manobras fiscais apelidadas de “pedaladas” fiscais , o tucano foi enfático: “Isso é uma especulação. ‘Se’ acontece qualquer coisa? Não posso responder”, encerrou.
No último dia 11, pesquisa do instituto Datafolha apontou que 63% dos entrevistados aprovam que o Congresso abra um julgamento político visando o impeachment de Dilma. O mesmo levantamento mostrou que o índice de popularidade da governante parou de cair, mas continua em mínimos históricos.
Eduardo Cunha repete discurso de FHC
O ex-presidente participou do 14º Fórum de Comandatuba, no sul da Bahia, evento organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) em um resort de luxo. Presente ao mesmo evento, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adotou tom semelhante ao de FHC.
“A gente não pode discutir teses. Impeachment é uma coisa grave, séria, aconteceu uma vez no Brasil [com o então presidente Fernando Collor de Mello] com motivações completamente diferentes do que acontece hoje. Se vai ou não ser apresentada argumentação ao pedido, vamos analisar”, resumiu.
* A jornalista viajou a convite da organização do Fórum de Comandatuba