Percepção de que Brasil está no rumo errado supera fase do impeachment e atinge nível recorde, diz pesquisa

Segundo levantamento do instituto Ipsos, somente 5% dos brasileiros consideram que país está no caminho certo; proporção dos que avaliam governo federal como 'ruim ou péssimo' também atingiu maior patamar.

29 jun 2017 - 09h03
(atualizado às 09h46)
Cresceu proporção dos que consideram que Lava Jato 'está mostrando que todos os partidos são corruptos'
Cresceu proporção dos que consideram que Lava Jato 'está mostrando que todos os partidos são corruptos'
Foto: Agência Brasil

A percepção de que o Brasil não está no caminho certo atingiu o maior nível já alcançado, superando o recorde anterior, registrado durante os últimos meses de governo da ex-presidente Dilma Rousseff, segundo uma pesquisa feita pela consultoria Ipsos e divulgada nesta quinta-feira.

De acordo com o levantamento, 95% dos brasileiros consideram que o país segue no rumo errado. O índice é superior ao verificado durante março do ano passado (94%), antes, portanto, de que a petista fosse suspensa temporariamente e posteriormente afastada em definitivo do cargo.

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A pesquisa 'Pulso Brasil' conduziu 1,2 mil entrevistas, pessoais e domiciliares, em 72 municípios no Brasil durante os dias 1º e 13 de junho deste ano. A margem de erro é de três pontos percentuais.

"Não vemos nenhuma fagulha de esperança por parte da população quanto à melhora nos rumos do país. A avaliação da esmagadora maioria da população é fortemente negativa", diz à BBC Brasil Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs, responsável pelo estudo.

Entre os que consideram que o país está no caminho certo (5%), houve uma piora na avaliação das classes A, B e C em relação a maio. Para as classes D e E, foi registrada uma ligeira melhora.

Ainda na mesma base de comparação, todas as regiões, com exceção do Nordeste, também tiveram mais pessoas apontando que o Brasil está no rumo errado.

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A avaliação dos brasileiros sobre o governo federal também piorou. Para 84% dos entrevistados, o governo Temer é considerado "ruim ou péssimo", outro número recorde.

Até então, a pior avaliação havia ocorrido em setembro de 2015, quando 82% descreviam a administração de Dilma Rousseff dessa forma.

Segundo a pesquisa, 12% consideram o governo como "regular". Apenas 2% avaliam a gestão de Temer como "ótima ou boa". Os 2% restantes não souberam ou não responderam.

Lava Jato

Para 96% dos entrevistados, a operação Lava Jato deve continuar "com as investigações até o fim, custe o que custar".

Entre eles, 95% defendem a continuidade das investigações "mesmo que isso traga mais instabilidade política" enquanto que a operação é apoiada por 94% "mesmo que isso traga mais instabilidade econômica".

Segundo a pesquisa, um número maior de brasileiros (74%) acredita que a Lava Jato "está investigando todos os partidos". Em maio, a proporção era de 66%.

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Já o porcentual dos que discordam caiu de 21% para 15%.

Também aumentou a proporção (para 82%) dos que consideram que a operação "está mostrando que todos os partidos são corruptos".

Na mesma base de comparação, mais brasileiros acham que a Lava Jato ajuda a "transformar o Brasil em um país sério" (79% contra 74%).

Metade dos entrevistados (50%) discorda da afirmação de que a operação "vai acabar em pizza". Em maio, esse número havia sido de 47%.

Cresceu ainda a percepção de que as lideranças políticas estão tentando acabar com a Lava Jato.

Em maio, 83% concordavam com essa possibilidade. Em junho, esse porcentual subiu para 89%.

Já 87% consideram que a Lava Jato vai "fortalecer a democracia no Brasil".

Para 64% dos brasileiros, o PT continua sendo o partido mais associado à Lava Jato - alta de sete pontos percentuais em relação ao mês anterior.

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PMDB (12%) e PSDB (3%) completam a lista. Não sabe ou não responderam somam 17%.

Quando questionados sobre quem consideram o nome "mais envolvido na operação", 57% dos entrevistados afirmaram ser o ex-presidente Lula.

O petista é seguido por Aécio Neves (44%), Michel Temer (43%), Dilma Rousseff (35%), Eduardo Cunha (33%), Renan Calheiros (9%), José Serra (4%), Geraldo Alckmin (3%), Fernando Henrique Cardoso (2%), Romero Jucá (2%), Rodrigo Maia (2%), Marina Silva (1%), Gilmar Mendes (1%) e Jair Bolsonaro (1%).

Presidente Michel Temer tem maior índice de rejeição entre lideranças políticas analisadas
Foto: BBC News Brasil

Lideranças políticas

Entre as lideranças políticas analisadas pela pesquisa, o presidente Michel Temer tem o maior índice de rejeição.

Segundo a pesquisa, 93% desaprovam "totalmente ou um pouco" o peemedebista. Em maio, esse porcentual era de 86%.

A ex-presidente Dilma Rousseff ocupa o segundo lugar, com 82% de desaprovação.

Em terceiro, está o ex-presidente Lula. Segundo o levantamento, 68% o desaprovam "totalmente ou um pouco".

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O levantamento mostra que todas as lideranças analisadas, independentemente da coloração político-partidária, registraram um aumento de rejeição.

Isso inclui até mesmo figuras notoriamente elogiadas pelos brasileiros, como o juiz federal Sergio Moro, que comanda a Lava Jato, e o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa.

Diferentemente de outras lideranças políticas, ambos ainda têm índices de aprovação superiores aos de desaprovação. Mesmo assim, a forma como vêm atuando no país piorou na percepção dos entrevistados.

Em maio, por exemplo, 22% diziam desaprovar "totalmente ou um pouco" Moro. Esse percentual subiu para 28% em junho.

No caso de Barbosa, sua rejeição aumentou de 26% para 37%, quase se igualando à sua aprovação (42%).

"Toda a classe foi impactada, em maior ou menor proporção, pelo sentimento de insatisfação que assola o Brasil, como se não houvesse luz no fim do túnel", opina Cersosimo.

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"Inegavelmente, parte dessas pessoas nunca aprovou Moro ou Barbosa. Mas outra parte talvez tenha ficado decepcionada por não ter tido atendidas suas expectativas em relação aos dois", acrescenta.

"Desde o impeachment, o Brasil está paralisado. A propalada construção da agenda positiva, defendida por Temer e seus aliados, ainda não ocorreu. O clima é de desesperança generalizada e a percepção da população sobre essas lideranças mostra isso", conclui.

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