BRASÍLIA - Após desavenças públicas, o armistício entre os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foi a solução para ambos se blindarem no governo. A avaliação de interlocutores do Planalto, que acompanharam no fim de semana a construção da trégua, é de que os dois sairiam perdendo se insistissem na briga.
Salles, que tem o apoio da ala ideológica, é criticado pela condução da política ambiental, enquanto Ramos, integrante do núcleo militar, é apontado como o homem que ajudou a abrir as portas do governo para o Centrão.
Desde o início do embate, o presidente determinou o fim das brigas e evitou demonstrar preferência por um ou outro, em uma tentativa de se afastar mais uma crise. Portanto, no entendimento de auxiliares do Palácio, contrariar o chefe do Executivo, poderia transformá-los em substituições certas na minirreforma ministerial, aguardada para o início de 2021. No governo, existe a defesa que Salles seja deslocado para o Ministério do Turismo, no lugar de Marcelo Álvaro Antônio, enquanto Ramos poderia ganhar um cargo de assessor especial da Presidência.
Salles acabou pedindo "desculpas pelo excesso", em mensagem publicada domingo, enquanto Ramos disse que "uma boa conversa apazigua as diferenças". Nesta segunda-feira, 26, a determinação do gabinete presidencial era para que os ministros tratassem o assunto como encerrado. Integrantes do Executivo, no entanto, admitem que se trata apenas de uma trégua. Procurados, Salles e Ramos não comentaram o caso, alegando que o assunto foi resolvido.
A briga entre os dois ministros se tornou pública na quinta-feira, após o chefe do Meio Ambiente se referir ao general como "Maria Fofoca" no Twitter, ao comentar uma nota do jornal O Globo, que afirmava que Salles estava "esticando a corda" com militares do governo. A reação de Salles ocorreu após considerar que Ramos agiu para tirar verbas do Meio Ambiente.
Salles foi respaldado por outros integrantes do governo, parlamentares bolsonaristas e os filhos do presidente, que saíram em sua defesa.
Bolsonaro agiu para amenizar o atrito
No dia seguinte, Bolsonaro agiu rápido para amenizar o atrito. Em cerimônia de apresentação da aeronave F-39E Gripen, na Base Aérea de Brasília, ele se deixou fotografar ao lado dos dois ministros, que prometeram ter uma conversa para aparar as arestas.
O presidente não gostou quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), entrou na briga, segundo interlocutores do governo. "O ministro Ricardo Salles, não satisfeito em destruir o meio ambiente do Brasil. Agora resolveu destruir o próprio governo", escreveu Maia, às 10h19 do sábado, 24. Às 13h18, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também saiu em defesa de Ramos. "Não é saudável que um ministro ofenda publicamente outro ministro."
Chamou a atenção que outros ministros militares não saíram em defesa do chefe da Secretaria de Governo. Os líderes do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), e do Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), também se abstiveram de comentários. Críticos de Ramos no governo apontaram no silêncio a aproximação de Ramos com o Progressistas, que tenta emplacar Arthur Lira (PP-AL) como próximo presidente da Câmara.