Perto da filiação de Bolsonaro, Patriota afasta presidente

Contrário à entrada do chefe do Executivo na legenda, o vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, afastou Adilson Barroso por 90 dias

24 jun 2021 - 18h09
(atualizado às 18h17)
 A mudança ocorre no momento em que o presidente Jair Bolsonaro negocia a filiação à legenda 
REUTERS/Adriano Machado
A mudança ocorre no momento em que o presidente Jair Bolsonaro negocia a filiação à legenda REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Uma convenção nacional do Patriota decidiu nesta quinta-feira, 24, afastar por 90 dias Adilson Barroso da presidência do partido. A convenção foi convocada pelo vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, que agora assume o comando de forma interina. A mudança ocorre no momento em que o presidente Jair Bolsonaro negocia a filiação à legenda.

Barroso é a favor da entrada de Bolsonaro no partido e Resende, contra. Antes do novo conflito, aliados do presidente haviam dito que ele planejava se filiar no Patriota até o fim deste mês. "Adilson Barroso foi afastado por 90 dias, podendo haver prorrogação justificada de mais 90 dias. Nosso quórum (participação mínima para reunião ter validade) é legítimo", disse o presidente interino do Patriota ao Estadão.

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Barroso afirmou, porém, que a convenção não tem efeito. Disse que, como presidente do partido, já determinara a nulidade da reunião logo que foi publicado o edital de convocação no Diário Oficial da União, na semana passada. "Não tem fundamento. Então, não necessita nem mesmo a gente entrar na Justiça", reagiu Barroso. "A reunião deles, além de não ter fundamento jurídico e estatutário nenhum, ainda faz um ato de expulsão. É como se um funcionário de uma empresa juntasse cinco ou seis e fizesse uma expulsão de outro funcionário, sem o patrão querer, nem nada".

A articulação de Bolsonaro para se filiar ao Patriota e controlar diretórios estratégicos deflagrou uma guerra entre correligionários. Barroso, por exemplo, já promoveu duas convenções com o objetivo de abrir caminho para a filiação de Bolsonaro, mas uma ala contesta a validade dos encontros.

A convenção desta quinta-feira é a terceira em menos de um mês. Resende disse ao Estadão que Bolsonaro está exigindo o comando dos diretórios do Patriota em São Paulo, Rio e Minas Gerais, os três maiores colégios eleitorais do País.

Desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, o presidente procura uma sigla para abrigar sua candidatura a um novo mandato, em 2022. Tentou montar o Aliança pelo Brasil, mas a empreitada não deu certo.

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Meio caminho

Apesar da disputa no Patriota, Bolsonaro ainda parece disposto a se filiar ao partido. Recentemente, ele disse a apoiadores, recentemente, que está "quase tudo certo". No último dia 16, o presidente se reuniu no Palácio da Alvorada com deputados do seu grupo no PSL e afirmou que estava "a meio caminho andado" da filiação.

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) foi o primeiro a se filiar ao Patriota, que vive uma briga interna sem fim. Egresso do antigo PRP, o presidente interino do partido classificou o processo para filiar Bolsonaro à legenda como desrespeitoso.

"Sou dirigente partidário e hoje estou sendo tratado como um convidado. É falta de respeito e de verdade", disse Resende ao Estadão.

Na última convenção do Patriota, realizada no dia 14 sob a presidência de Barroso, Flávio externou a preocupação do presidente sobre a disputa no partido. Disse que Bolsonaro não iria "cortar a cabeça de ninguém", mas precisava de "segurança jurídica" para se filiar.

Barroso nega irregularidades apontadas pelo grupo de Resende, como mudanças no estatuto sem quórum qualificado e desligamento compulsório de dirigentes. Na prática, Barroso pretendia fazer uma intervenção para mudar o comando de diretórios estaduais, com o objetivo de abrigar o grupo político de Bolsonaro. "É uma benção, um grande milagre termos o presidente no partido, mas eles não entendem isso", insistiu.

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