A Polícia Federal (PF) apontou que as mensagens exibidas por manifestantes em atos antidemocráticos, incluindo aqueles em frente a quartéis, eram planejadas com o envolvimento direto do Palácio do Planalto durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo a investigação, que levou ao indiciamento o ex-presidente e outras 36 pessoas, incluindo militares, o governo orientava quais frases deveriam constar nas manifestações, promovidas como sendo espontâneas pela população.
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De acordo com os investigadores, mensagens e documentos obtidos demonstram a atuação coordenada entre a Presidência da República, representada pelo general Mario Fernandes, e os manifestantes. As provas incluem diálogos entre Fernandes e o coronel da reserva George Hobert Oliveira Lisboa, assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência à época.
"Nas mensagens fica evidente que os militares, integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro, estavam confeccionando materiais de propaganda das manifestações antidemocráticas que ocorriam no QG do Exército em Brasília/DF", apontou a PF.
Nas conversas, registradas em novembro de 2022, Hobert orienta a confecção de materiais de propaganda para os atos antidemocráticos realizados no Quartel-General do Exército em Brasília. Em uma troca de mensagens no dia 7 de novembro, Hobert passa instruções para a criação de um panfleto, pedindo a inclusão da frase “Concentração no QG do Exército”.
Dois arquivos foram localizados pelos policiais federais: um rascunho à mão com o planejamento do material e o panfleto finalizado, que convocava os manifestantes para um ato no dia 9 de novembro.
Além disso, Fernandes solicita que Hobert parabenize um terceiro indivíduo, possivelmente responsável pela elaboração do material gráfico.
Propaganda antidemocrática e frases direcionadas
Ainda no dia 7 de novembro, foi compartilhado entre os interlocutores um arquivo intitulado “FAIXAS”, contendo uma lista de frases planejadas para as manifestações. Entre os dizeres estavam:
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“LIBERDADE SIM, CENSURA NÃO”
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“RESPEITO À CONSTITUIÇÃO, CONTAGEM PÚBLICA DOS VOTOS”
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“SOS FORÇAS ARMADAS”
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“NÃO À DITADURA DO JUDICIÁRIO”
- “NOVAS ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE”
O arquivo sugeria um planejamento detalhado para a produção e uso desses materiais nas manifestações próximas ao Quartel-General do Exército, segundo a Polícia Federal.
Plano para caos em Brasília
Outro documento identificado pela PF, intitulado “COMUNICADO”, trazia orientações sobre uma manifestação marcada para 10 de dezembro de 2022. O texto, que alertava que a mensagem não deveria ser compartilhada em grupos, orientava que ela fosse repassada apenas individualmente e a pessoas confiáveis. O objetivo declarado era criar um “cenário caótico” em Brasília, capaz de justificar a convocação das Forças Armadas e impedir a diplomação do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A mensagem finalizava com a instrução: “Depois de mandar essa mensagem e se certificar de que a pessoa a recebeu, apague-a. Para que não fique registrado em nenhum WhatsApp. Chegou a hora, povo brasileiro!”. Os metadados do arquivo apontam que ele foi criado em 5 de dezembro de 2022.