A perspectiva de uma possível confissão do tenente-coronel Mauro Cid, juntamente com as declarações do hacker Walter Delgatti durante a CPMI do 8 de Janeiro, levou a um clima de especulação no cenário político, no qual se discute a hipótese de uma prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro em um futuro próximo.
Contudo a Polícia Federal (PF) adota um roteiro diferente. Segundo a jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, a estratégia dos investigadores é deixar Bolsonaro "sangrar" politicamente por um período considerável, motivadas por algumas razões.
Primeiramente, há duas possibilidades de prisão em relação a Bolsonaro. A opção viável no momento seria a prisão preventiva, visto que o ex-presidente ainda não foi indiciado, acusado formalmente ou condenado.
Para decretar a prisão preventiva de alguém, é necessário dispor de evidências que indiquem que a pessoa está interferindo ou tem a capacidade de interferir nas investigações.
De acordo com informações de agentes da PF que estão lidando com o caso, de fato, existem algumas evidências nesse sentido. No entanto, essas provas não foram divulgadas publicamente e ainda não seria o momento apropriado para fazê-lo.
Além disso, essas provas não seriam substanciais o suficiente para embasar um pedido de prisão preventiva, mesmo considerando a autoridade de Alexandre de Moraes, que possui um grande poder no Supremo Tribunal Federal (STF) e influência nos círculos políticos.
Fator PGR
Outra barreira significativa para a PF é a Procuradoria Geral da República (PGR), responsável por emitir parecer toda vez que um pedido de prisão é apresentado, e que tem se mostrado relutante em apoiar as ações propostas pela PF.
Esses despachos são assinados pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, conhecida por ser aliada da família Bolsonaro e pessoa de confiança do Procurador-Geral da República, Augusto Aras.
Apesar de as decisões de Moraes terem desconsiderado os pareceres de Lindôra, a PF avalia que, para prender um ex-presidente da República, é crucial obter um consenso mínimo entre as várias entidades envolvidas na investigação, incluindo o Ministério Público.
Por esse motivo, fontes internas da corporação e contatos próximos a Moraes no STF têm manifestado de forma não oficial que não planejam solicitar o indiciamento de Bolsonaro nem apresentar acusações contra ele no Supremo antes do término do mandato de Aras, que ocorre no final de setembro.
Até que um novo procurador-geral esteja em função, a estratégia é aprofundar na investigação em torno de Bolsonaro - abrangendo o inquérito das joias sauditas, bem como o caso dos atos de 8 de janeiro e, agora, na apuração da suposta colaboração do hacker Walter Delgatti em uma possível tentativa de minar a credibilidade do sistema eleitoral.
Com essa estratégia, os investigadores planejam fortalecer a obtenção de evidências e também atrair possíveis colaboradores que possam fornecer informações mais detalhadas nos meses que antecederam a eleição e o episódio de 8 de janeiro.