Às vésperas de mais protestos contra o governo federal, Dilma Rousseff (PT) chega ao centésimo dia de seu segundo mandato à frente da Presidência da República tendo que se manter firme diante do barulho das ruas, das denúncias de corrupção e de uma economia declinante.
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O cenário para a presidente não mudou muito desde as eleições, em outubro do ano passado. A Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras, já estava em andamento, e diversos dados já demonstravam desaceleração econômica e avanço da inflação no País.
Neste ano, a popularidade de Dilma caiu para os níveis recordes desde que foi eleita pela primeira vez. Segundo pesquisa Datafolha, a taxa de reprovação da presidente atingiu 62% em março, próxima aos 68% do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1992.
Para tentar reverter o quadro econômico, Dilma convocou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O governo passou a defender o ajuste fiscal. Embora Levy tenha ganhado, inicialmente, o apoio do empresariado, as medidas têm sofrido pressão no Congresso Nacional, além de não serem nada populares entre trabalhadores.
Confira alguns números que marcaram a economia do Brasil e a rotina de Dilma nesses primeiros 100 dias do segundo mandato:
1 - Economia estagnada - 0,1%
Por um triz a economia brasileira não entrou em recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no País – do ano passado, divulgado no fim de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teve leve alta de 0,1%. Em comparação aos outros países que compõem o G20, o Brasil só cresceu mais do que Itália e Japão em 2014.
2 - Desemprego dá as caras - 5,9%
Com a estagnação econômica, o nível de desemprego no País começou a subir. De acordo com o IBGE, a taxa atingiu 5,9% em fevereiro, o maior patamar desde junho de 2013. Em dezembro do ano passado, a taxa indicava 4,3%, passando para 5,3% em janeiro.
Somente em fevereiro o Brasil fechou 2.415 postos de trabalho, o pior resultado para o mês desde 1999.
3 - Gasolina pesa no bolso - 7,5%
Com o intuito de reforçar o caixa do governo e da Petrobras, o governo promoveu, em fevereiro, aumentos de R$ 0,22 e R$ 0,15 no litro da gasolina e do diesel. Na ocasião, o ministro Joaquim Levy disse que a medida fazia parte de “uma sequência de ações que estão sendo tomadas com o objetivo de aumentar o confiança". "De tal forma que no devido momento a gente possa ter uma retomada da economia”. Era o início do que ficaria conhecido como ajuste fiscal.
O aumento médio no preço da gasolina no País foi de 7,5%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
4 - Aumento na conta de luz - 23,4%
Conforme a seca atingia o reservatório das hidrelétricas, o rombo das distribuidoras de energia crescia ao ter que recorrer às termoelétricas para manter o abastecimento. Com isso, não houve jeito. A conta de luz ficou, em média, 23,4% mais cara em todo o Brasil.
O valor da revisão tarifária variou de acordo com a empresa. No caso da Eletropaulo, de são Paulo, por exemplo, o aumento médio nas tarifas foi de 31,9%, enquanto a da Cemig, de Minas Gerais, subiu 28,8% e a da Light, do Rio de Janeiro, 22,5%.
5 - Inflação mais alta em 20 anos - 1,32%
Com tantos reajustes no início do ano, a inflação foi às alturas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial do País, atingiu 8,13% no acumulado de 12 meses até março, na comparação com igual período anterior. Este patamar é bem superior ao teto da meta do Banco Central, de 6,5%, e se trata do maior nível desde dezembro de 2003.
O avanço no mês passado, de 1,32%, foi a maior taxa para meses de março desde 1995.
A taxa acumulada entre janeiro e março deste ano (3,83%) também é a maior para um primeiro trimestre desde 2003.
6 - Queda das ações da Petrobras - 11%
Em meio às investigações da Operação Lava Jato, a Petrobras se vê em dificuldades para publicar o balanço de suas finanças. O documento referente ao terceiro trimestre do ano passado, que deveria ter sido divulgado até meados de novembro passado, foi publicado somente no final de janeiro. E sem as perdas contábeis em relação ao esquema de corrupção. Como consequência, as ações da empresa chegaram a cair 11% na mesma data.
Dias depois, Graça Foster foi substituída na presidência da petroleira por Aldemir Bendine, até então presidente do Banco do Brasil. O mercado financeiro não reagiu bem à escolha.
A agência de classificação de risco Moody’s rebaixou as notas da estatal para grau especulativo. O rating caiu dois degraus, de Baa3 para Ba2.
7 - Políticos investigados na Lava Jato - 47
No início de março, com o avanço da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma lista com pedidos de investigação contra 54 pessoas citadas no esquema. O ministro Teori Zavascki autorizou a investigação contra 47 políticos, entre eles os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL).
8 - Dólar nas alturas - R$ 3,30
A presença de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda agradou ao mercado, mas não foi o suficiente para conter a valorização do dólar. A moeda tem se mantido no patamar acima de R$ 3 desde o início de março, atingindo R$ 3,30 no dia 19 do mesmo mês, o maior em quase 12 anos.
A moeda norte-americana tem registrado valorização em relação as de emergentes em todo o mundo, mas situações domésticas, como o desentendimento entre Planalto e Congresso em torno do ajuste fiscal, agravaram a depreciação do real.
9 - Mudanças no seguro-desemprego - 18 meses
Uma das medidas do ajuste fiscal, que prevê enxugar os gastos da máquina pública, atingiu diretamente o seguro-desemprego. Todo trabalhador demitido desde o dia 2 de março está sob a regência de novas regras para obter o benefício. Anteriormente, o funcionário que fosse demitido após seis meses de trabalho já teria direito ao seguro-desemprego. Agora, o direito ao benefício, para quem for pedir pela primeira vez, prevê pelo menos 18 meses de trabalho num período de 24 meses.
10 - Imposto de Renda - 6,5%
Neste mês, entrou em vigor a nova tabela do Imposto de Renda. O tema teve ampla discussão entre o Planalto, que queria corrigir as alíquotas pelo centro da meta de inflação, de 4,5%, e o Congresso Nacional, que defendia a correção de 6,5%, o teto e mais próximo do acumulado pelo indicador oficial de inflação no ano passado.
A saída foi uma correção escalonada, com as alíquotas sendo ajustadas conforme as faixas de renda. Para a faixa isenta e a alíquota de 7,5% de IR, a correção foi de 6,5%. O percentual vai caindo nas demais faixas de renda até a correção de 4,5% na alíquota de 27,5% sobre a renda.
A partir desta situação, o ministro Joaquim Levy, até então com discursos técnicos, passou a ter uma postura de negociador entre o Executivo e o Legislativo federal.
Uma nova política econômica
Guido Mantega, antecessor de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, promoveu a desoneração de tributos sobre a folha de pagamentos de diversos setores para impulsionar a economia brasileira durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Aliados do ex-ministro dizem que essa política evitou que o País entrasse em recessão, enquanto críticos afirmam que essas e outras medidas contribuíram para a desordem da economia.
A política de desonerações de Mantega deu lugar ao ajuste fiscal de Joaquim Levy. Segundo o ministro, o objetivo é fazer o País voltar a crescer ordenadamente e não perder o grau de investimento.
Com isso, uma medida provisória reduzindo as desonerações foi editada no final de fevereiro. Em sua defesa, Levy diz que o governo, até o momento, não criou nenhum novo imposto, somente rearranjou os que já estavam em vigor.