Diante do aumento da pressão nas redes sociais para a abertura de um processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o Palácio do Planalto faz investidas para ter ao seu lado o apoio irrestrito do MDB. Bolsonaro, ao se aproximar do Centrão, já considera ter 172 votos na Câmara, número suficiente para evitar a abertura de um processo de impedimento. O governo busca agora conquistar os 34 emedebistas para ter folga nas votações.
Apesar do aceno com novos cargos no Executivo, a cúpula do MDB resiste e indica que manterá um pé no governo e outro fora. A sigla tem dois dos três líderes do governo no Congresso e filiados ocupando cargos na estrutura federal, mas adotou o discurso de que não precisa de nomeações para votar a favor das pautas que estão na agenda econômica. Assim, diz que manterá a independência para criticar eventuais ações do presidente e do seu entorno que confrontarem com os limites democráticos.
Ontem, o presidente do partido, deputado Baleia Rossi (SP), esteve em reunião no Planalto com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para marcar posição, ao lado dos líderes do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), e no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE). "Chega de briga, chega de discussão inútil. A gente está vendo um monte de coisa que não acrescenta em nada neste momento. Tem 16 mil brasileiros que morreram, uma série de angústias, mas vai ficar com brigas políticas? Temos alinhamento total com a pauta de recuperação do País. E essa questão de um cargo aqui e um cargo ali já está superada. O governo respeita a posição do MDB", disse Baleia ao Estadão.
A posição da cúpula do MDB, no entanto, não reverbera em todo o partido. Um grupo de deputados discorda do posicionamento e gostaria de ter acesso aos cargos no governo, principalmente em seus redutos eleitorais. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, é outro que defende que a sigla componha com Bolsonaro.
"Não vejo problema em indicar cargos. Bolsonaro quer construir a maioria no Parlamento e, para isso, tem de trabalhar com os partidos", disse o deputado Hildo Rocha (MDB-MA), afirmando que outros 13 deputados da sigla têm a mesma opinião.
Líder da bancada ruralista, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) afirmou que, se algum deputado quiser acertar cargos no governo, terá de fazer isso em sua cota pessoal. "Se um ministério precisa de pessoa com tal perfil e essa pessoa tem ligação política com o MDB, não tem nenhum mal para o País, mas não é uma indicação partidária, nem vai ser indicado em troca de nada", disse.
O posicionamento do MDB tem irritado o líder do Progressistas na Câmara, Arthur Lira (AL), que negociou com Bolsonaro a aproximação do governo com o Centrão. Lira tem dito que Baleia faz "demagogia" ao dizer que não aceitará cargos, uma vez que já tem quadros do partido no governo.
Na semana passada, Lira e Baleia se desentenderam na votação da medida provisória da regularização fundiária. A proposta era uma demanda do governo com apoio do Centrão. O texto tinha respaldo para ser aprovado, apesar da contrariedade da bancada ambientalista. A medida, no entanto, naufragou.
Após polêmicas no plenário, o presidente do MDB defendeu a substituição da MP por um projeto de lei e teve apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o que contrariou Lira. O líder do Progressistas quer ser o próximo presidente da Câmara com o apoio de Bolsonaro e vê na proximidade entre Maia e Baleia um jogo que pode atrapalhar seus planos.