O Palácio do Planalto quer evitar que o projeto de lei em tramitação no Senado que define o crime de terrorismo no Brasil criminalize manifestações populares. A matéria, que ganhou apoio ontem em meio à comoção com a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, foi tratada com mais cautela hoje.
"A orientação do Palácio do Planalto é que nós possamos dar resposta a essa questão (a tipificação do crime de terrorismo) e que essa resposta de forma alguma represente de forma alguma objetivo de restrição à liberdade", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
O presidente do Senado, Renan Calheiros, e outras lideranças partidárias tentaram, nesta terça-feira, romper a ligação entre o projeto que define o crime de terrorismo no Brasil e a morte do cinegrafista, atingido por um rojão em uma manifestação no Rio de Janeiro. Ontem, senadores chegaram a defender a aceleração do projeto que tramita na Casa, mas a discussão da matéria, prevista para hoje, acabou adiada.
"Não tem nada a ver uma coisa com a outra, até porque esse rapaz que soltou o rojão é um homicida, não um terrorista”, disse Renan, após reunião de líderes no Senado.
A morte do cinegrafista ocorre no momento em que o Senado coloca como destaque de sua pauta o projeto que prevê pena de 15 a 30 anos por atos de terrorismo - provocar ou infundir terror ou pânico mediante ofensa à vida, à integridade física, à saúde ou à liberdade da pessoa. Opositores ao texto acreditam que a proposta pode ser uma tentativa em reprimir as manifestações durante a Copa do Mundo de 2014.
Senadores sugeriram um requerimento de urgência para apressar a votação, mas o texto do senador Romero Jucá (PMDB-RR) não tem consenso na base aliada. Humberto Costa sugeriu uma nova redação, com base na definição de terrorismo da proposta de reforma do Código Penal, também em tramitação no Senado.
Publicidade
"Nós achamos que ele deixa muito em aberto e subjetivo a caracterização do terrorismo. Há ali muitas coisas livres do pensamento que ficariam limitadas", explicou o senador.
O senador Romero Jucá afirmou, no entanto, que o texto do Código Penal é menos abrangente. Ele quer a votação da matéria em até 15 dias.
"Esse projeto não deve ser votado por conta da última manifestação popular. Não podemos tentar criminalizar manifestações populares", disse. "Pelo meu texto, os black blocs não são um grupo terrorista. Por enquanto, graças a Deus, não tem terrorismo no Brasil. O Brasil não tem uma configuração do crime e muito menos uma penalização dura como deve ser", defendeu.
Ontem, o senador Jorge Viana (PT-AC) chegou a afirmar que o crime cometido contra o funcionário da TV Bandeirantes se enquadraria na nova legislação. "É o caso. Foi usado um explosivo. Não é um rojão de festa junina. Foi usada uma bomba. Muitas pessoas poderiam ter morrido", disse. "É uma bomba feita com pólvora e com detonador, que, se acendida e apontada para um grupo de pessoas, mata muita gente. E ela foi colocada nas costas do jornalista para matar, para causar danos. Foi, sim, uma ação terrorista o que nós vimos na manifestação", afirmou.
O senador Paulo Paim (PT-RS), que presidia a sessão, afirmou que abriria mão de um requerimento para debater o projeto na Comissão de Direitos Humanos, acelerando a análise da proposta. "Em vez de nós debatermos lá na Comissão de Direitos Humanos, eu renuncio ao meu requerimento e nós votamos a matéria aqui, num amplo debate, de forma tal que aqueles que cometem crimes - e esse é o fato real de um crime - possam ser punidos com o rigor da lei, exemplarmente", disse.
Publicidade
1 de 30
10 de fevereiro - Advogado diz ter informado a polícia sobre nome de suspeito pela morte de cinegrafista
Foto: Daniel Ramalho
2 de 30
O jornalista Santiago Andrade, em fotografia de arquivo pessoal divulgada pela Rede Bandeirantes
Foto: Arquivo pessoal / Rede Bandeirantes
3 de 30
8 de fevereiro - Delegado participou de uma entrevista coletiva na tarde deste sábado
Foto: Marcus Vinícius Pinto
4 de 30
7 de fevereiro - Polícia mostra rojões similares ao que teria atingido o câmera
Foto: Fernando Frazão
5 de 30
6 de fevereiro - Um cinegrafista da Band foi atingido por uma bomba que estourou ao lado dele. Ele foi encaminhado ao Hospital Souza Aguiar
Foto: Daniel Ramalho
6 de 30
10 de fevereiro - O parlamentar, no entanto, negou que tenha qualquer ligação com o responsável pelo artefato e mesmo com a manifestante
Foto: Mauro Pimentel
7 de 30
10 de fevereiro - O deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ) confirmou nesta segunda-feira que recebeu uma ligação da ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho, solicitando ajuda porque tinha medo de que o tatuador Fábio Raposo fosse torturado na prisão
Foto: Mauro Pimentel
8 de 30
10 de fevereiro - Cinegrafistas e outros profissionais da imprensa do SBT, Record, Globo, Band, Rede TV, agências de notícias e veículos alternativas colocaram seus equipamentos no chão em protesto contra a violência sofrida pela imprensa e contra a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade no Rio de Janeiro
Foto: Reynaldo Vasconcelos
9 de 30
10 de fevereiro - Cerca de 50 fotógrafos, jornalistas e cinegrafistas colocaram as câmeras no chão em frente à igreja da Candelária e fizeram um minuto de silêncio pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, que morreu após ser atingido por um rojão na cobertura de um protesto no Rio
Foto: Marcus Vinicíus Pinto
10 de 30
10 de fevereiro - Cerca de 50 fotógrafos, jornalistas e cinegrafistas colocaram as câmeras no chão em frente à igreja da Candelária e fizeram um minuto de silêncio pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, que morreu após ser atingido por um rojão na cobertura de um protesto no Rio
Foto: Marcus Vinicíus Pinto
11 de 30
10 de fevereiro - Cerca de 50 fotógrafos, jornalistas e cinegrafistas colocaram as câmeras no chão em frente à igreja da Candelária e fizeram um minuto de silêncio pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, que morreu após ser atingido por um rojão na cobertura de um protesto no Rio
Foto: Marcus Vinicíus Pinto
12 de 30
10 de fevereiro - Segundo delegado, caso fique comprovado que suspeitos agiam em bando organizado, ambos podem ser acusados também por formação de quadrilha
Foto: Daniel Ramalho
13 de 30
11 de fevereiro - O Disque-Denúncia lançou um cartaz com a foto do suspeito de jogar um rojão contra o cinegrafista da Band
Foto: Divulgação
14 de 30
11 de fevereiro - Cerca de 60 repórteres fotográficos, cinematográficos e jornalistas paralisaram suas atividades e fizeram uma manifestação em memória ao repórter cinematográfico Santiago Andrade
Foto: Joyce Carvalho
15 de 30
11 de fevereiro - Cerca de 60 repórteres fotográficos, cinematográficos e jornalistas paralisaram suas atividades e fizeram uma manifestação em memória ao repórter cinematográfico Santiago Andrade
Foto: Joyce Carvalho
16 de 30
12 de fevereiro - Delegado Maurício Luciano (esq.) anunciou a prisão do suspeito na Bahia. Ele concedeu coletiva horas depois no Rio de Janeiro ao lado do chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso
Foto: Mauro Pimentel
17 de 30
12 de fevereiro - Em entrevista coletiva no Rio de Janeiro, o delegado responsável pela investigação afirmou que Caio Silva de Souza é uma pessoa "tranquila" descrição corroborada por colegas de trabalho e vizinhos dele, que teriam ficado surpresos com a prisão
Foto: Mauro Pimentel
18 de 30
12 de fevereiro - Chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, disse que a polícia chegou primeiro ao Caio, suspeito de disparar o rojão que matou o cinegrafista da Bandeirantes Santiago Andrade, graças ao advogado
Foto: Mauro Pimentel
19 de 30
12 de fevereiro - Suspeito de ter lançado o rojão que matou cinegrafista da Band Santiago Andrade foi preso durante a madrugada na Bahia. Caio Silva de Souza foi apresentado pela polícia no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel
20 de 30
12 de fevereiro - Ele foi preso no município de Feira de Santana, na Bahia, acusado de ser a pessoa que acendeu o artefato explosivo que vitimou fatalmente o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade
Foto: Mauro Pimentel
21 de 30
12 de fevereiro - Caio foi descrito como um jovem de família pobre, morador da Baixada Fluminense, e simpático com os vizinhos e colegas de trabalho, mas que se transformava ao chegar às manifestações
Foto: Mauro Pimentel
22 de 30
12 de fevereiro - Repórteres fotográficos e cinematográficos de São Paulo também realizaram homenagem ao cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, morto durante um protesto no centro do Rio de Janeiro na última quinta-feira
Foto: Nico Nemer
23 de 30
13 de fevereiro - O velório foi aberto à imprensa
Foto: Mauro Pimentel
24 de 30
13 de fevereiro - Arlita Andrade, mulher do cinegrafista morto no protesto
Foto: Mauro Pimentel
25 de 30
13 de fevereiro - Nas costas, uma frase: "poderia ter sido qualquer um de nós"
Foto: Mauro Pimentel
26 de 30
13 de fevereiro - Cinegrafista Santiago Andrade é velado no Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel
27 de 30
13 de fevereiro - Cinegrafistas da Band também usaram uma estampa na camiseta em homenagem ao amigo
Foto: Mauro Pimentel
28 de 30
13 de fevereiro - Com uma camisa do Flamengo, a mulher de Santiago fez uma declaração de amor ao seu companheiro
Foto: Mauro Pimentel
29 de 30
13 de fevereiro - O velório foi aberto ao público na manhã desta quinta
Foto: Mauro Pimentel
30 de 30
13 de fevereiro - Diretor nacional de jornalismo da Band, Fernando Mitre, falou sobre a morte de seu colega de emissora
Foto: Mauro Pimentel
Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) no início da tarde do dia 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital, onde ficou internado no Centro de Terapia Intensiva desde a noite do dia 6.
O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.