Planejamento operacional, prisão ilegal e envenenamento: o que se sabe sobre trama para matar Lula, Alckmin e Moraes

Cinco pessoas foram presas suspeitas de planejar golpe de Estado no final de 2022; PF aponta elo de Bolsonaro em cronologia de crimes

19 nov 2024 - 17h20
(atualizado às 18h43)
Lula e Alckmin eram chamados de “Jeca” e “Joca” em plano golpista, que tinha como objetivo suas execuções
Lula e Alckmin eram chamados de “Jeca” e “Joca” em plano golpista, que tinha como objetivo suas execuções
Foto: WILTON JUNIOR/Estadão / Estadão

A Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Contragolpe nesta terça-feira, 19, com o objetivo de cumprir mandados de prisão e busca e apreensão contra suspeitos de planejar um golpe de Estado no final de 2022, para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Cinco pessoas foram presas — incluindo militares que fazem parte da elite do Exército — após autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a PF, o plano dos suspeitos incluía também o assassinato de Lula, de seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

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Confira a seguir o que já se sabe sobre a trama golpista.

Quem são os presos

A operação prendeu o general de brigada da reserva Mario Fernandes, e três militares com formação em Forças Especiais (FE), os chamados "kids pretos": o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira.

Na foto: Hélio Ferreira Lima, Mário Fernandes, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo
Foto: Reprodução/Polícia Federal

Entre eles, Mario Fernandes é um dos nomes mais conhecidos. Ele ocupou o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Jair Bolsonaro e também foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), sendo afastado dessa função por ordem do STF.

O quinto preso foi o policial federal Wladimir Matos Soares. Segundo as investigações da PF, ele passava informações sobre o cotidiano de Lula para pessoas próximas e para Bolsonaro. Como agente da PF em Brasília, Wladirmir tinha acesso fácil a Lula e Alckmin, incluindo detalhes sobre o esquema de segurança que garante a integridade física das autoridades.

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Qual era o plano, segundo a PF

De acordo com as investigações da Polícia Federal, o documento central intitulado "Punhal Verde Amarelo", elaborado pelo general Mario Fernandes, apresenta detalhes de um "planejamento operacional" que visava a execução de Moraes, Lula e Alckmin.  

Conforme apurado pela PF, Fernandes imprimiu o documento no Palácio do Planalto em 9 de novembro de 2022. Na mesma data, os celulares de outros investigados, como Rafael Martins de Oliveira e Mauro Cid, estavam conectados à rede de internet do Palácio. Posteriormente, o material foi levado ao Palácio da Alvorada, residência oficial do então presidente Jair Bolsonaro.

General que integrou governo Bolsonaro está entre presos por planejar matar Lula, Alckmin e Moraes
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O documento elaborado pelo general continha tópicos relacionados à munição que seria utilizada na ação clandestina. A Polícia Federal destacou que as armas mencionadas, incluindo pistolas, fuzis e armamentos mais pesados, são típicas de uso militar e policial devido à alta eficácia de seus calibres.

Entre os armamentos coletivos citados, chamou a atenção dos investigadores a presença de equipamentos de guerra, como:

  • Metralhadora M249: Uma metralhadora leve, usada em combate para suporte de fogo, que combina alta taxa de disparo com fácil manuseio, sendo amplamente valorizada em operações táticas.
  • Lança-granadas de 40 mm: Uma arma versátil, capaz de disparar granadas de fragmentação ou munições especiais, permitindo fogo indireto e diferentes usos táticos.
  • Lança-rojão AT4: Um lançador antitanque, projetado para destruir veículos blindados e estruturas fortificadas. É um foguete guiado com ogiva explosiva, comumente usado por forças militares e de segurança.

A Polícia Federal ainda detalhou que, no planejamento analisado, o quarto tópico detalha os riscos e impactos associados à execução de um plano para assassinar o ministro Alexandre de Moraes. Entre as possibilidades consideradas estavam o uso de artefatos explosivos ou o envenenamento em um evento oficial público.

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O documento também menciona os riscos da ação, alertando que os danos colaterais seriam grandes, a probabilidade de captura dos envolvidos seria alta e que o risco de baixas (mortes, no contexto militar) entre os executores também seria elevado. Além disso, também é investigada a possível utilização de veículos do Exército para monitorar o ministro, inclusive em seu apartamento funcional.

"Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", acrescentou a PF. 

O plano foi discutido na residência do general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022, em 12 de novembro daquele ano, menos de 15 dias após a divulgação oficial do resultado do segundo turno, segundo apontam os policiais federais.

Envolvimento de Bolsonaro

De acordo com a PF, a análise dos dados armazenados no aparelho celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, revela que o ex-presidente não apenas tinha conhecimento da minuta golpista, mas também participava ativamente da redação e ajustes do documento.

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Em uma troca de mensagens entre Cid e o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirma que o ex-presidente "enxugou" a minuta e também que estava sendo pressionado por deputados e por parte do agronegócio para "tomar uma medida mais pesada utilizando as forças [armadas]."

O tenente-coronel Mauro Cid e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

Além disso, segundo os policiais federais, a análise de dados do celular de Mauro Cid revelou que, poucos dias após Bolsonaro fazer alterações na minuta de decreto para o golpe, ele e Marcelo Câmara trocaram mensagens indicando que acompanhavam ações de monitoramento de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época.

Também consta no relatório da PF que o general da reserva Mário Fernandes afirmou, em conversa com o tenente-coronel Mauro Cid, que o ex-presidente autorizou o golpe de Estado até 31 de dezembro de 2022, último dia de seu mandato.

Em um diálogo interceptado pela investigação, datado de 8 de dezembro de 2022, Fernandes relata: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”, referindo-se à diplomação de Lula.

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Prisão ilegal

A Polícia Federal obteve acesso a mensagens trocadas pelos militares investigados que indicam o envolvimento do grupo em uma "ação clandestina" planejada em 2022, com o possível objetivo de prender Moraes. 

De acordo com a PF, pelo menos seis pessoas participaram da operação executada em 15 de dezembro de 2022. Para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, os envolvidos utilizaram linhas telefônicas registradas em nome de terceiros e criaram um grupo usando codinomes no aplicativo Signal, chamado "copa 2022".

As mensagens analisadas pela polícia mostram que os investigados estavam organizados em pontos específicos de Brasília para realizar ações coordenadas, no entanto, decidiram "abortar" a missão, conforme pritns de conversas dos militares obtidos na investigação.

Mensagens apontam que militares tentaram prender Moraes em 2022, diz PF
Foto: Reprodução/PF
Fonte: Redação Terra
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