BRASÍLIA - Enquanto as dependências do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF) eram invadidas e depredadas por milhares de extremistas, as ruas vicinais dos dois lados da Esplanada dos Ministérios funcionaram como em portão de acesso livre ao Praça dos Três Poderes durante toda a invasão.
A Polícia Militar do Distrito Federal não só fez vista grossa como facilitou o acesso à maioria dos acessos vicinais livres, o que permitiu a chegada dos extremistas sem dificuldade até o gramado da Esplanada. Muitos deles viram o início da marcha pelas redes sociais e decidiram se juntar aos golpistas.
Os estacionamentos ao lado dos prédios anexos aos Ministérios e nos tribunais ficaram lotados e os extremistas puderam caminhar com a tranquilidade até às sedes dos três poderes.
Da Vila Planalto, bairro histórico de Brasília que fica ao lado da Esplanada, os radicais partiram para a marcha também sem dificuldade. Ônibus de turismo que serviram de transportes para os golpistas ficaram estacionados esperando o retorno dos radicais sem serem incomodados pelos policiais que circulavam no bairro na maior tranquilidade.
Na Panificadora Planalto, a mais próxima da Esplanada, três policiais entraram tranquilamente para comprar um lanche ao mesmo tempo que se ouvia o barulho de bombas de gás lacrimogêneo. Um dos policiais disse à Estadão que reforço não chegou antes porque o tamanho do movimento surpreendeu.
Mais de três horas depois do início da invasão, os radicais ainda chegavam para reforçar os atos terroristas. Ele passavam na frente de grupos de PMs, que de forma complacente permaneciam inertes sem impedir o acesso dos invasores.
Sem se identificar, a reportagem do Estadão acompanhou dois grupos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na caminhada até ao gramado. Entre eles, um casal de idosos, moradores de Brasília.
A idosa dizia que agora iriam ter que "reformar" os prédios numa referência irônica à primeira-dama Janja da Silva, que abriu as portas do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, para mostrar o péssimo estado do prédio que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu do seu antecessor.
Uma mãe com um filho ia ao encontro do pai, que já estava na Praça dos Três Poderes. Ela bradava que agora era "guerra".
Em meio ao sobrevoo de helicóptero da PM, um dos extremistas gritava que quatro anos de protestos pacíficos não iriam resolver nada.