A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados aclamou nesta quarta-feira seu líder, Eduardo Cunha (RJ), como candidato à presidência da Casa, três meses antes da eleição, em um movimento que pode pressionar o PT e o governo a aceitar a candidatura do peemedebista, desafeto político do Planalto.
A eleição para presidente da Casa só ocorrerá em fevereiro de 2015, quando os novos deputados tomam posse.
A estratégia da bancada peemedebista da Câmara ocorre à revelia da cúpula do PMDB e visa a atrair partidos de oposição, em meio a um clima de insatisfação entre o governo e a atual legislatura. Além de não ter a simpatia da presidente reeleita Dilma Rousseff, Cunha não cultiva boas relações com o vice-presidente Michel Temer, que também preside a legenda.
Até agora, governo e PT, que terá a maior bancada da Câmara em 2015, estão apenas assistindo aos movimentos de Cunha, o que pode colaborar com sua estratégia de pavimentar o terreno para a candidatura até um ponto irreversível.
Deputados peemedebistas descartam manter o acordo que tinham com os petistas até agora, que previa um rodízio no comando da Câmara. Com base nesse acerto, seria a vez do PT apontar um candidato à presidência com o apoio do PMDB.
Após uma reunião da bancada nesta quarta, Cunha disse que não acredita que uma candidatura do PT tenha força para vencer.
O deputado peemedebista Danilo Forte (CE) afirma, no entanto, que a candidatura de Cunha não será de oposição. "Nós vamos tentar construir um consenso com o governo e com o PT", disse à Reuters após a reunião da bancada.
"Nosso desejo não é o do confronto", afirmou. O deputado afirmou, no entanto, que se não for possível construir essa unidade em torno da candidatura de Cunha, ele pode virar candidato de oposição ao governo.
"Pode ser de oposição, se não construir um entendimento com o PT", argumentou, dizendo ainda que Cunha é único deputado atualmente com liderança para conduzir a Casa com independência.
"AGONIA" DISTANTE
Uma fonte próxima a Temer afirmou não ter dúvidas de que Cunha está trilhando o caminho para uma candidatura de oposição e que o vice-presidente não tem sido sequer consultado sobre os movimentos da bancada.
Segundo essa fonte, que falou sob condição de anonimato, não haveria movimentos de reação do governo até o momento e nem da presidente. Dilma não teria pedido a intervenção de Temer na disputa, acrescentou a fonte.
No Palácio do Planalto o tema é tratado com pouca intensidade por enquanto, segundo duas fontes ouvidas pela Reuters nesta quarta e com conhecimento das negociações com o Congresso.
Uma delas disse que essa é uma "agonia" que não chegou ao governo ainda e que a eleição está muito distante para qualquer negociação sobre sucessão.
A outra afirmou que o único caminho que se vislumbra, nesse momento, para tirar Cunha do caminho é revitalizar o acordo entre PT e PMDB na sucessão da Câmara.
Sabendo da resistência que enfrentará do governo e do PT, Cunha tem procurado líderes de bancadas aliadas insatisfeitas com o governo e de partidos de oposição para garantir apoio ao seu projeto, numa tentativa de sobreviver à pressão que virá pela frente.
Um deputado petista experiente disse à Reuters, porém, que o peemedebista pode sofrer os efeitos de antecipar o processo eleitoral e negociar com bancadas que não representam a configuração da Câmara no próximo ano.
"Ele está sendo esperto, mas não inteligente. Está tentando criar um clima de abafa. Mas o jogo ainda não começou e ele pode se cansar antes do início da partida", afirmou o deputado à Reuters sob condição de anonimato.
Esse petista reconhece que tanto o governo quanto o PT estão inertes nesse momento, mas avalia que esse é "um quadro temporário" e que no momento certo o partido agirá, talvez nem apoiando uma candidatura própria. Mas, certamente, contra Cunha.
Já Forte não considera a estratégia errada.
"Nós posicionamos nossas peças já no tabuleiro, antes que tirassem o tabuleiro do lugar", afirmou.
OPOSIÇÃO E PSB
Os partidos mais articulados da oposição na Câmara, PSDB, PSB e DEM ainda não fecharam suas estratégias para a sucessão na Câmara.
PSDB e DEM cogitam lançar uma candidatura, mas podem aderir a Cunha, caso ele se transforme num candidato de oposição ao governo. O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), é um dos cotados para concorrer.
O PSB, que pretende ficar na oposição no Congresso no ano que vem, pensa em lançar um candidato também para marcar posição e demonstrar que não fará oposição atrelada às pautas do PSDB e do DEM.
Se isso ocorrer, o nome mais forte da bancada seria o deputado Júlio Delgado (MG), que já concorreu na eleição passada à presidência da Casa.