Evidências reunidas pela Polícia Federal consolidaram a linha de investigação que aponta para a atuação de uma organização criminosa, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teria influenciado em frentes que variam desde ataques à democracia até a obtenção de benefícios ilícitos por meio de uso dos recursos públicos. A informação é da colunista Bela Megale, do jornal O Globo.
Nesta quinta-feira, 31, compareceram simultaneamente Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e outras seis pessoas envolvidas no escândalo das joias em depoimento na Polícia Federal de Brasília e de São Paulo. A oitiva coletiva foi uma forma utilizada pela PF para evitar a chance de uma combinação de versões, e pode ser determinante para os próximos passos das investigações que colocam o ex-chefe do Executivo em uma situação jurídica delicada.
Segundo O Globo, os depoimentos serão importantes para os policiais federais delinearem o papel e os delitos de cada suspeito de compor essa organização. Fontes da PF afirmaram ao jornal que existem provas consistentes de que o mesmo grupo agia em conjunto e com papéis definidos em todos os casos investigados.
Preso desde maio no bojo de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde e suspeito por fazer parte desse núcleo, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, passou a colaborar com os policiais e presta, nesta quinta-feira, seu terceiro depoimento em um período de seis dias.
De acordo com o jornal, a PF pretende apresentar até dezembro os relatórios finais dos inquéritos que investigam Bolsonaro e seu entorno. Porém, esse prazo depende de alguns fatores, como o retorno do pedido de colaboração feito à polícia dos Estados Unidos sobre a venda e compra das joias do ex-presidente.
Além disso, investigadores afirmam que há a possibilidade de serem feitos acordos de colaboração com suspeitos de envolvimento na organização criminosa. "Sempre há chance de fazermos delação. É um direito de qualquer investigado fazer esse acordo. Ele só tem que entender que pode colaborar", explicou um investigador à coluna de Bela Megale.
Entenda o esquema de vendas de joias
Segundo a PF, Mauro Cid teria vendido com o auxílio do seu pai, o general Mauro Lourena Cid, as joias omitidas do acervo da Presidência no exterior. De acordo com os investigadores, uma das peças comercializadas pelo ex-ajudante de ordens foi um relógio da marca Rolex, estimado em R$ 300 mil e recebido por Bolsonaro em uma viagem presidencial à Arábia Saudita em 2019. Peça que foi recomprada por Wassef nos Estados Unidos para ser entregue ao Tribunal de Contas da União (TCU).
De acordo com a PF, os montantes obtidos das vendas ilegais foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal de Bolsonaro, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores. Os investigadores agora trabalham para descobrir se o ex-presidente foi ou não o mandante da ordem de realização das vendas e também da recompra.