Polícia Federal resgata 30 mil monitoramentos ilegais feitos e apagados pela Abin de Bolsonaro

No dia 20 de outubro, a operação Última Milha, da PF, vasculhou a sede da Abin e encontrou apenas 1.800 registros; restante, que foi recuperado, vai passar por perícia

4 nov 2023 - 10h35
(atualizado às 10h38)
Jair Bolsonaro (PL)
Jair Bolsonaro (PL)
Foto: Carolina Antunes/PR

A Polícia Federal resgatou 30 mil monitoramentos ilegais feitos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Esses registros haviam sido apagados e havia apenas 1.800 ainda disponíveis. O órgão foi alvo da operação Última Milha no dia 20 de outubro. Além de ter o prédio vasculhado, dois servidores da Abin foram presos e outros tiveram seus endereços como alvo de buscas e apreensões.

A informação dos monitoramentos recuperados é do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. A estimativa é de que os peritos da PF levem cerca de um mês para analisar todos esses monitoramentos. A corporação afirma que a Abin teria realizado atos ilegais de espionagem, inspecionando a localização de ministros, políticos, jornalistas e advogados.

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Isso era feito através de um programa chamado FirstMile, feito pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint) e comprado pelo governo brasileiro em 2018. A ferramenta detecta os sinais de 2G, 3G e 4G trocados entre celulares e torres de telecomunicações para fornecer a localização exata dos aparelhos. Basta, para essa busca, ter o número do telefone.

Nos 1.800 monitoramentos que foram inicialmente encontrados pela PF, havia um homônimo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que reforça o indício de que ele foi um dos alvos dessa operação de espionagem. As demais pessoas da lista estão sob o sigilo das investigações.

Durante a gestão Bolsonaro, a Abin foi comandada pelo seu correligionário Alexandre Ramagem (PL-RJ), que era delegado da PF e hoje é deputado federal. Ele fez a segurança do ex-presidente depois do atentado em Juiz de Fora, em 2018, e caiu nas graças do clã Bolsonaro. Prova disso é a proximidade com o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que se interessava pelo funcionamento da inteligência do governo do pai.

Além do vínculo de amizade, o Estadão revelou que Ramagem emprega, no seu gabinete de deputado federal, uma empresa de comunicação comandada por dois ex-integrantes do "gabinete do ódio", uma rede de comunicação violenta e ancorada no disparo de fake news. O "gabinete" era encabeçado por Carlos, o "02? do ex-presidente.

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As investigações da PF sobre a espionagem ilegal feita pela Abin colocam Ramagem e os Bolsonaro na mira. Isso porque, além de uma eventual responsabilidade vinda da gestão, em vários momentos o ex-presidente mencionou que possuía uma "Abin paralela", que lhe fornecia informações "confiáveis". Bolsonaro tentou colocar Ramagem na chefia da Polícia Federal, mas foi impedido pela Justiça.

Presos e afastados

No dia da operação, 20 de outubro, dois servidores da Abin foram presos: Eduardo Arthur Izycki e Rodrigo Colli. Eles são suspeitos de estarem diretamente envolvidos com os mais de 30 mil monitoramentos ilegais.

Na noite desse mesmo dia, a Casa Civil - pasta à qual a Abin passou a ser subordinada no governo Lula, deixando o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) - anunciou a demissão dos dois.

A causa, no entanto, foi outra: eles respondiam a um processo administrativo disciplinar por apresentarem-se como donos de uma empresa privada em um pregão do Comando do Exército, o que é vedado para servidores públicos.

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É como se a PF, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, tivesse "atravessado" a Abin. Desde que o governo Lula assumiu a gestão, tem trabalhado para desmilitarizar as estruturas de governo. A mudança da pasta da Abin é um desses gestos.

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