Publicações recentes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em suas redes sociais sugerem que ele e sua família já tinham conhecimento sobre a operação da Polícia Federal que aconteceu nesta segunda-feira, 29. Seu filho, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), foi alvo da ação. Os rumores foram destacados pelo colunista Leonardo Sakamoto, do Uol.
As publicações foram feitas na semana passada. Em 21 de janeiro, Bolsonaro escreveu em um grupo no Telegram que "as próximas semanas serão decisivas" e que "vivemos momentos difíceis". No X (antigo Twitter), o ex-presidente fez uma postagem similar a essa, no dia 24, véspera da operação que teve o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, como alvo.
- As próximas semanas poderão ser decisivas.
- Vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas.
- "Quando um ímpio não quer que você olhe para um lado da estrada, ele bota fogo no outro lado da mesma, pois assim ninguém saberá do mal maior que ele fez do lado que você…
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 24, 2024
Segundo o colunista, tais publicações fomentaram a desconfiança no governo federal sobre o atual número 2 da Abin, Alessandro Moretti. Fontes do Palácio do Planalto informaram que a operação vai ajudar a entender a que informações privilegiadas e ilegais o ex-presidente continua tendo acesso.
Nesta segunda, Carlos Bolsonaro foi alvo de busca e apreensão pela PF, em uma operação que teve como foco possíveis envolvidos no recebimento de informações obtidas ilegalmente pela Abin. No último dia 25 de janeiro, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi alvo da PF.
Investigação
Na última quinta-feira, 25, a PF deflagrou a Operação Vigilância Aproximada, um desdobramento da Operação Última Milha, de outubro do ano passado. Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi alvo de busca e apreensão. Segundo a investigação, o parlamentar usou a estrutura do órgão para fazer espionagens ilegais que favoreceriam a família de Bolsonaro.
Conforme a PF, a Abin teria monitorado ilegalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann e o ex-governador Camilo Santana, do Ceará, hoje ministro da Educação do governo Lula, entre outras pessoas. A investigação aponta que ferramentas e serviços da Abin foram utilizados para monitorar ilegalmente essas autoridades.
A Abin é o órgão responsável por fornecer informações e análises estratégicas à Presidência da República para contribuir na tomada de decisões. Conforme as investigações, a organização criminosa utilizava ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial. Sob as orientações de Ramagem, sete policiais federais cumpriam as determinações, monitorando alvos e produzindo relatórios apócrifos que seriam divulgados com o fim de criar narrativas falsas.
A Polícia Federal encontrou, por exemplo, registros de que a Abin tentou produzir provas que relacionassem ministros do STF e deputados federais de oposição ao governo de Bolsonaro ao Primeiro Comando da Capital (PCC). As notícias falsas ligando essas autoridades à organização criminosa circularam em grupos bolsonaristas.
A PF também encontrou documentos que indicam que o sistema de inteligência da Abin foi usado indevidamente para monitorar uma promotora de Justiça do Rio de Janeiro que investigou o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Os documentos sobre a promotora teriam a mesma identidade visual de relatórios apócrifos produzidos pela "estrutura paralela" que, segundo os investigadores, teria sido montada na Abin.