A menos de 20 dias da votação nas prévias para a escolha do candidato à Presidência em 2022, o PSDB enfrenta um embate com acusações mútuas, ataques apócrifos e até memes com fake news. A disputa cada vez mais acirrada entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) é motivo de preocupação entre tucanos, que temem que a sigla saia rachada da eleição interna, marcada para o próximo dia 21.
Após a Comissão das Prévias excluir 92 prefeitos e vices filiados em São Paulo da lista de eleitores com base em uma representação feita por aliados de Leite, novos fatos divulgados nesta quarta-feira, 3, serviram para colocar mais gasolina na fogueira tucana.
Um grupo de WhatsApp da pré-campanha de Doria foi invadido por um ex-funcionário do gabinete do governador gaúcho, que alterou o nome da comunidade de "PSDB com Doria" para "PSDB com Doria e Leite". Ele também incluiu a foto do chefe do Executivo gaúcho na descrição.
O responsável pela manipulação foi Henrique Fornari Leite, servidor que integrou o gabinete do governador do Rio Grande do Sul, mas foi exonerado. Em nota, a campanha de Leite admitiu que Fornari trabalhou no gabinete, mas afirmou que se tratou de uma "iniciativa individual, isolada e absolutamente contrária" ao comportamento coletivo da campanha.
"Não apenas condenamos a atitude, mas jamais compartilharemos com atos que destoem do modo respeitoso e democrático de se fazer campanha política. Ao sermos comunicados pela campanha de João Doria, e tendo comprovado a veracidade do fato, achamos que o mínimo que podemos fazer é lamentar o ocorrido e reforçar nossas diretrizes para que episódios como esse não se repitam", disse Leite em um comunicado enviado ao Estadão.
'Curso intensivo'
Em outra frente, cards apócrifos com fake news sobre a campanha de Doria começaram a circular em grupos de WhatsApp de tucanos, o que gerou uma reação enfática no entorno do governador paulista. O card anuncia o "1.º curso intensivo de filiação partidária" e cita os nomes de Marco Vinholi, Carlos Balotta e Wilson Pedroso, que formam a linha de frente da pré-campanha do governador. Diz ainda que o evento aconteceria em um resort no Guarujá e seria patrocinado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), organização fundada por Doria.
A pré-campanha do paulista reagiu e distribuiu um novo card com o selo de fake news, no qual acusou o adversário pela iniciativa. "Essa é mais uma mentira criada pela turma do Eduardo Leite, que mostra que eles usam a mesma estratégia dos bolsonaristas para deturpar a realidade. Esse é o ódio travestido de diálogo." A pré-campanha de Leite negou que tenha produzido o material.
Na dinâmica das prévias, o diretório do PSDB de Minas Gerais, que está fechado com Leite e é comandado por aliados do deputado Aécio Neves, assumiu a linha de frente beligerante contra o governador paulista.
Um dos coordenadores da Comissão das Prévias do PSDB, o ex-deputado Marcus Pestana (MG) disse que algum nível de acirramento é natural nas prévias, mas fez um alerta. "É importante o day after. Não se pode queimar os navios."
Data-limite
Em uma tentativa de pacificar os dois lados da disputa interna, o presidente do partido, Bruno Araújo, fixou o prazo de 31 de maio como data-limite para o filiado estar cadastrado no sistema do TSE e poder votar nas prévias.
"As prévias do PSDB são um acontecimento inédito no Brasil. Por isso, é natural que ocorram questionamentos em relação a todas candidaturas. O fundamental é a boa-fé de todos que estão imbuídos na construção do fortalecimento do partido", afirmou Araújo. Com esse gesto, o dirigente exclui do processo os casos supostamente irregulares apresentados na filiação de aliados dos dois lados.
O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também se inscreveu nas prévias, mas "corre por fora".