BRASÍLIA - A cúpula do PT aprovou neste sábado, 7, uma resolução política que acusa "artimanhas" da Faria Lima para "minar conquistas econômicas e sociais por meio da especulação". Em reunião do Diretório Nacional do partido, os petistas viram "sabotagem" do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para paralisar a agenda do Palácio do Planalto por meio da elevação da taxa básica de juros, atualmente em 11,25%.
O documento de 10 páginas traça um diagnóstico amplo dos resultados obtidos pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o ano passado, mas também critica a comunicação do Planalto. "As realizações do governo são extraordinárias, mas nem sempre isso é percebido adequadamente pela sociedade, devido à timidez de vários dos nossos porta vozes em travar abertamente o debate e a disputa política contra as forças conservadoras e reacionárias", avaliaram os dirigentes do PT, sem citar o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta.
O partido admite que "as entregas" citadas na resolução, como a redução da taxa de desemprego e menor índice histórico de pobreza no País, "não estão se traduzindo em aumento de popularidade de Lula e de sua gestão". A resolução propõe, portanto, que Lula se engaje no embate político com a extrema-direita e utilize a cadeia nacional de rádio e TV para comunicar políticas públicas e disputar pautas.
"Corações e mentes jovens das favelas e subúrbios de médias e grandes cidades, que nunca souberam que o PIB cresceu 7,5% com Lula em 2010, anseiam por uma vida melhor", diz a resolução. Como antecipou em reportagem a colunista Vera Rosa, o documento faz a ressalva de que "povo não come PIB", frase usada pela economista Maria da Conceição Tavares, que morreu em junho. "É hora de fincar nossa bandeira em cada uma dessas casas e reconduzir esse povo ao campo de quem sempre o defendeu: Lula e o PT", destaca um trecho do documento.
Os dirigentes do PT traçaram um panorama da correlação de forças no Congresso e abordaram o poderio da extrema-direita, as eleições de 2026, o cenário econômico e o contexto internacional. Na reunião deste sábado, 7, os petistas também aprovaram um calendário para o Processo de Eleição Direta (PED), que vai renovar suas direções municipais, estaduais e nacionais em 6 de julho de 2025. O nome mais cotado para substituir a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é o do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que conta com o aval de Lula.
Na resolução que passou pelo crivo do Diretório Nacional, o PT acusou os "especuladores" da Faria de Lima de terem promovido "a maior alta do dólar na história" na esteira do pacote de corte de gastos anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Segundo o partido, a equipe econômica desenhou um conjunto de medidas para melhorar o ambiente econômico e fiscal do País, mas foi imediatamente impactada por um ataque especulativo. "Trata-se de uma manobra claramente política para debilitar o governo e impedi-lo de continuar avançando no caminho do desenvolvimento e da justiça social", descreve a resolução.
Ao mesmo tempo em que elogia a posição de Haddad e o seu pacote econômico, o PT sustenta que, "em um cenário em que as elites econômicas mantêm uma postura especulativa e frequentemente adversa aos interesses populares, a pressão por cortes em gastos sociais emerge como uma ameaça constante ao bem-estar social".
Ainda na seara econômica, o partido chamou Campos Neto de "uma espécie de serviçal do sistema financeiro que atua inventando todo tipo de falsos pretextos para que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve os juros, em benefício dos banqueiros, e iniba a atividade econômica". A última alta da taxa Selic foi aprovada com votos de diretores indicados por Lula, inclusive do próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo, que assumirá o cargo em janeiro de 2025.
Na prática, os ataques dos petistas ao BC e ao mercado financeiro contrastaram com críticas sutis - e vastos elogios - à política econômica do governo.
Como mostrou o Estadão, o PT recuou e, a pedido do Planalto, retirou do texto o trecho no qual criticava o que chamou de "republicanismo excessivo" do governo na distribuição de emendas parlamentares. Na avaliação de dirigentes do partido, essa estratégia prejudicou candidatos petistas nas eleições municipais e beneficiou o Centrão.
Um dos trechos do documento aprovado ontem também diz que "o enfrentamento resoluto contra o radicalismo violento da extrema-direita bolsonarista" deve ser "uma prioridade inegociável". A resolução conclama os apoiadores do partido a irem às ruas no próximo dia 10 contra o projeto de lei de anistia aos golpistas envolvidos no 8 de Janeiro e em outros crimes apurados pela Polícia Federal.
Cenário internacional e gesto ao MST
Ao discorrer sobre o cenário internacional, o PT afirma que a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos "acende um preocupante alerta" para as forças progressistas e o campo democrático global. O partido avalia que o republicano coloca em xeque a sobrevivência dos organismos multilaterais e de muitos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
Em contrapartida, menciona as vitórias de Claudia Sheinbaum no México e, mais recentemente, de Yamandú Orsi no Uruguai como sinais de "bons ventos para o campo progressista e as perspectivas de integração latino-americana". Também foi citada como positiva a parceria estratégica entre Brasil e China.
Dirigentes do PT fizeram, ainda, um gesto de apoio ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), que ameaça o governo com novas mobilizações - após o chamado "abril vermelho" - por descontentamento com a política agrária. "Os trabalhadores no campo também não devem ser esquecidos e, por isso, apoiamos a meta defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) de assentar 60 mil famílias em 2025?, afirma a resolução política.