PT pede que STF investigue Bolsonaro por obstrução da Justiça

No sábado, Bolsonaro disse ter pegado os áudios da portaria do condomínio Vivendas da Barra para "evitar que eles fossem adulterados"

4 nov 2019 - 17h43
(atualizado às 18h12)

Lideranças do PT vão apresentar ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro. Segundo o PT, Bolsonaro praticou crime de obstrução à Justiça ao se apoderar da memória da secretária eletrônica do condomínio Vivendas da Barra.

No documento, o partido argumenta que o presidente "de modo autoritário e com uso da força (do seu cargo) se apropria de provas que podem, em tese, incriminar a si ou seus familiares". A queixa-crime também pede que o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, sejam investigados por suposta interferência no inquérito.

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Jair Bolsonaro.
Jair Bolsonaro.
Foto: Madoka Ikegami / Reuters

No sábado, Bolsonaro disse que pegou os áudios para evitar que eles fossem adulterados. "Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha", afirmou.

Hoje, diante da reação negativa da oposição, que o acusa de obstruir as investigações, o presidente deu outra versão: "O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada. E a memória da secretária eletrônica está com a Polícia Civil há muito tempo. Ninguém quer adulterar nada, não".

Os áudios filmados e postados por Carlos em redes sociais desmentem o porteiro do condomínio que, em depoimento, disse que Élcio Queiroz, acusado de ser um dos autores do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, teria sido autorizado por "seu Jair" a entrar no condomínio depois de interfonar para a casa do presidente.

No áudio, quem autoriza a entrada de Élcio é Ronnie Lessa, outro acusado pelo assassinato de Marielle e Anderson, que mora no mesmo condomínio que Bolsonaro e Carlos, o Vivendas da Barra.

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"Trata-se, à toda evidência, de uma clara tentativa de destruição e/ou manipulação de provas, visando afetar e mesmo frustrar a lisura das investigações policiais e ministeriais em curso e que, como dito, atingem direta ou indiretamente, o Presidente da República e, ao menos por enquanto, um de seus filhos (Carlos Bolsonaro)", diz a denúncia-crime apresentada pelo PT.

No documento, o partido pede a busca e apreensão de todo material em posse de Jair e Carlos Bolsonaro, que o Supremo faça o "acautelamento" (guarda) provisória das provas, determine a instauração de inquéritos para apurar possíveis crimes de obstrução à Justiça e improbidade administrativa.

Segundo o senador Humberto Costa (PT-PE) , o objetivo da queixa-crime é investigar a conduta de Bolsonaro, Carlos e Moro no caso. "Queremos que isso seja investigado. O objetivo não é pedir o impeachment do presidente, mas se alguém quiser fazê-lo existem crimes de responsabilidade de sobra, este é só mais um", disse o senador.

O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, foi procurado mas não pôde comentar a ação do PT porque estava em uma reunião.

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