O jornalista americano Glenn Greenwald, que denunciou a espionagem dos Estados Unidos ao governo e a empresas brasileiras, afirmou nesta quarta-feira que já publicou todas as informações que ele possui sobre o assunto. "Todas as informações que eu sei já foram publicadas", disse Greenwald, durante uma audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem do Senado. O jornalista americano e o companheiro dele, o estudante brasileiro David Miranda.
"O que eu sei, eu já publiquei", afirmou Greenwald. "Eu não posso falar mais sobre a espionagem contra a Petrobras", disse ele, após ser questionado sobre a interceptação na estatal brasileira.
Segundo as denúncias do jornalista, a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) teria espionado órgãos do governo brasileiro, inclusive a presidente Dilma Rousseff, além de empresas - entre elas, a Petrobras. Greenwald e Miranda moram no Rio de Janeiro.
Em agosto, o brasileiro foi detido no aeroporto de Heathrow, em Londres, quando embarcava para o Brasil. Miranda oi interrogado por nove horas seguidas. As autoridades britânicas confiscaram seu telefone e os equipamentos de informática que trazia consigo, mas ele foi libertado sem qualquer acusação.
A oitiva de Greenwald foi antecipada pela presidente da CPI, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). A senadora não descarta a hipótese de integrantes da CPI irem à Rússia ouvir o americano Edward Snowden, técnico de informática que trabalhava para a Agência Central de Inteligência (CIA, no acrônimo em inglês) e fonte das denúncias publicadas por Greenwald. O governo russo concedeu asilo ao técnico, e a ida dos senadores a Moscou depende de autorização das autoridades daquele país.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal tambéminstaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.