Queiroga fala sobre falta de autonomia e gabinete paralelo

Ministro será confrontado com imagens de reunião no Planalto que lançou dúvidas sobre eficácia de vacinas para tratamento de covid-19

8 jun 2021 - 00h06
(atualizado às 07h23)

A CPI da Covid vai pressionar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a esclarecer o funcionamento do chamado "gabinete paralelo", e o aconselhamanto ao presidente Jair Bolsonaro para recomendar medicamentos sem comprovação científica, como o uso da cloroquina. Um mês depois de comparecer pela primeira vez à CPI, Queiroga prestará novo depoimento aos senadores nesta terça-feira, 8, e será questionado sobre a autonomia que disse ter para a condução do ministério.

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga
06/05/2021
REUTERS/Adriano Machado
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga 06/05/2021 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

A avaliação da cúpula da comissão é que, no dia 6 de maio, o ministro da Saúde se esquivou de responder perguntas sobre as ações de Bolsonaro na pandemia. Agora, no entanto, Queiroga será confrontado com um vídeo de uma reunião no Palácio do Planalto, na qual o presidente e médicos admitem dúvidas sobre a eficácia de vacinas contra a covid e discutem medicamentos alternativos. As imagens foram divulgadas na semana passada pelo site Metrópoles e, na avaliação de integrantes da CPI, provam a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde.

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Na mesma sessão desta terça-feira estão previstas votações de requerimentos. Já há consenso para aprovar as convocações do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e dos médicos Paulo Zanotto e Luciano Dias. Os três são apontados como integrantes desse núcleo de assessoramento de Bolsonaro longe dos holofotes.

A suspeita de um gabinete paralelo deve levar a CPI a avaliar, mais uma vez, pedido para quebra do sigilo telefônico do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Um requerimento nesse sentido foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), mas a aprovação ainda não é dada como certa entre parlamentares independentes e de oposição, que formam maioria no colegiado.

Vieira também apresentou pedido para abrir o sigilo telefônico de outras sete autoridades, entre elas o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten. O empresário admitiu à CPI que alertou Bolsonaro sobre e-mails enviados pela Pfizer, e ignorados pelo Ministério da Saúde, nos quais a companhia oferecia vacinas para o Brasil.

"O ministério da Saúde continua sendo ministério paralelo. Queiroga falou que tinha autonomia. Mas na própria semana (do primeiro depoimento do ministro à CPI) foi demonstrado que não tinha nada, autonomia nenhuma. E silenciou diante da realização da Copa América no Brasil", afirmou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.

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Para Renan, o ministro da Saúde tem "apego" ao cargo e por isso não questiona as atitudes de Bolsonaro, que continua provocando aglomerações, além de desestimular o isolamento social. "Queiroga tentou demonstrar que era autônomo, podia falar qualquer coisa e nunca falou sobre nada. Nunca teceu nenhuma consideração sobre nenhuma loucura do Bolsonaro", criticou o senador.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que o ministro terá de se explicar sobre a falta de informações referentes à prescrição de cloroquina pelo governo. "Ele disse que ia se posicionar, mas que era autoridade máxima na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) e não queria fazer nenhum tipo de posicionamento naquele momento. E até agora, um mês depois, nada. E haja cloroquina por aí", ironizou Aziz.

Queiroga demitiu nesta segunda-feira, 7, o militar Angelo Martins Denicoli, que defendia o uso de cloroquina para tratamento de covid. Denicoli havia sido nomeado pelo general Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde, e ocupava o cargo de diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS.

Ao depor pela primeira vez à CPI, Queiroga também afirmou que Bolsonaro havia lhe dado autonomia para conduzir o Ministério da Saúde, mas o depoimento da infectologista Luana Araújo, na semana passada, contrariou essa versão.

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Luana chegou a ser anunciada em maio como chefe da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, mas disse ter sido desconvidada dez dias depois. Na ocasião, Queiroga teria dito apenas que o nome dela não passaria pelo crivo da Casa Civil. A médica tem posições divergentes das defendidas por Bolsonaro e fez várias críticas nas redes sociais ao uso de cloroquina.

"A primeira que o ministro indicou, o governo não nomeou. Vamos também querer saber o que ele resolveu de vacina, de aquisição do kit intubação e de Copa América", disse o senador Humberto Costa (PT-PE). "Por que a Conitec é só para estudo hospitalar? Por que não entra na questão da prevenção, do tal do tratamento precoce?"

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