Eleita com 76.306 votos em 2018 na esteira do antipetismo e do bolsonarismo, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) tem se tornado uma espécie de auxiliar informal do governo em momentos de crise e esteve no centro de dois eventos recentes e capitais para o Planalto: a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e da atriz Regina Duarte da Secretaria Especial da Cultura.
Após a troca de mensagens com Moro, na qual a deputada procurou evitar a saída do ex-juiz e sugeriu que ele teria uma vaga garantida no Supremo Tribunal Federal - diálogo incluído no inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal -, Carla Zambelli assumiu a missão de resolver a crise com Regina Duarte, de quem tornou-se amiga e conselheira.
Bolsonaro pediu à deputada que encontrasse uma saída honrosa para a atriz: "Veja o que pode fazer para deixar a Regina feliz. Ela deixou a Rede Globo e me sinto responsável", disse o presidente, segundo ela. Carla então ficou de marcar um café da manhã de Regina com Bolsonaro para apaziguar os ânimos.
Foi de Carla Zambelli a sugestão de oferecer à atriz o comando da Cinemateca. O protagonismo da deputada no caso virou foco de reclamação no entorno do presidente: após o episódio, recebeu mensagens que a aconselhavam a sair dos holofotes. Mas também houve outras de apoio, conta.
Sobre o episódio com Moro, Carla disse que tomou a iniciativa de procurá-lo após falar com o chefe da Secretaria de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, mas alegou que não consultou Bolsonaro. "Se eu tivesse falado direto com o presidente, não teria pedido para o Moro ficar. Eu estava com os olhos vidrados no juiz da Lava Jato, mas Moro tinha uma agenda desarmamentista. O presidente não fazia questão de que ele ficasse", disse Carla ao Estadão. Ainda segundo a deputada, a admiração pelo juiz da Lava Jato - que foi um dos padrinhos de seu casamento, em fevereiro - foi "substituída por decepção".
Segundo a parlamentar, a aproximação dela com Bolsonaro se deu após o rompimento da também deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) com o governo. Segundo Carla Zambelli, Joice a "bloqueava" do contato com Bolsonaro e fazia intrigas. "Bolsonaro ficou quatro meses sem falar comigo na campanha por causa da Joice, que inventou mentiras de que eu usava drogas e teria feito um aborto."
As duas foram amigas e participaram juntas do movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). Foi Carla Zambelli quem abriu espaço para Joice no carro de som do grupo Nas Ruas, o que ajudou a projetar a jornalista nos grupos de direita. "Quem a trouxe para os movimentos de rua fui eu."
"O Bolsonaro nunca gostou da Carla Zambelli. Ele chegou a mandar a Carla descer de um trio elétrico. Ele dizia: 'Tire essa mulher de perto de mim'. Eu não tive nada a ver com isso", disse Joice ao Estadão. Procurada, a assessoria do Planalto não se manifestou.
Carla Zambelli era gerente de projetos da KPMG em São Paulo quando tornou-se líder do movimento Nas Ruas. Em 2013, conta ela, sua irmã, Paula Zambelli, assinou um manifesto do Mackenzie contra Bolsonaro. O presidente, depois, chegou a questioná-la. À irmã, disse: "Use outro sobrenome ou vou para o embate com você". Ela conta que o pedido foi acatado. "Minha irmã é de centro-esquerda."