Se tudo ocorrer como o esperado, as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, marcadas para esta semana, darão ao governo certa tranquilidade no Congresso.
Apoiados pelo Palácio do Planalto, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) deverão ser eleitos. Ambos são tidos como aliados confiáveis da gestão Michel Temer, que contará com eles para a aprovação de pautas consideradas imprescindíveis, como as reformas da Previdência e trabalhista.
Apesar de terem sido citados em delações da operação Lava Jato, os dois parlamentares conseguiram caminhar às margens das acusações, que refutam.
Para o governo, Maia e Eunício garantirão blindagem a Temer no Congresso em um período de tensão política. Aliados do presidente lembram que o impeachment de Dilma Rousseff se deu, em parte, porque ela perdeu o controle sobre os parlamentares, principalmente quando o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ascendeu à presidência da Câmara e se tornou adversário da petista.
Confira, a seguir, quem são os candidatos:
CÂMARA
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Favorito, Maia conta com o apoio informal do Palácio do Planalto, o que foi fundamental para que ele conseguisse se cacifar perante outras legendas.
O governo também vê nele alguém capaz de administrar o tsunami que a homologação das delações da Odebrecht pode causar ao meio político. Apesar de ele ter sido citado como destino de R$ 600 mil em propina - o que ele nega - o governo acredita que Maia pode acalmar a situação na Casa.
O deputado também tem apoio da maioria dos grandes partidos, como o PSDB, o DEM (sua própria sigla) e o PMDB - este último ainda não oficializou sua preferência por ele, mas seguirá a diretriz do governo.
Maia também conseguiu atrair votos de importantes legendas que compõem o chamado "centrão", bloco que reúne 12 partidos médios e nanicos formado pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para, na época, ter força capaz de barrar propostas do então governo Dilma Rousseff. Com a cassação do peemedebista, a articulação perdeu força e agora está dividida nas eleições da Casa.
O PP, o PSD e o PR, por exemplo, desistiram de apoiar Jovair Arantes (PTB-GO), outro candidato à presidência da Câmara e um dos principais articuladores do centrão.
Em troca de seu apoio, o PP negociou com o Planalto e com Maia a possibilidade de indicar o líder do governo na Casa, posto hoje ocupado por André Moura (PSC-SE).
Maia conta ainda com o apoio de PRB, PHS, PSB, PV e PC do B, que, apesar de ser da oposição, decidiu manter o apoio a ele.
O deputado fluminense se viabilizou como o favorito ao equilibrar demandas do governo, de aliados e até de opositores. Ele prometeu a aprovação da Reforma da Previdência para o Planalto ao mesmo tempo em que garantiu a partidos como o PSB que não irá acelerar a tramitação da proposta.
Apesar de seu favoritismo, o deputado ainda pode ser impedido de disputar ou de assumir o cargo. Isso porque a Constituição e o regimento interno da Câmara proíbem a reeleição do presidente em uma mesma legislatura. O mandato para o comando da Casa é de dois anos.
Maia sustenta a tese de que essa regra não se aplica a quem se elegeu para um mandato tampão - ele foi conduzido ao posto quando Cunha foi obrigado pela Justiça a deixar a cadeira, em julho do ano passado.
Seus adversários já questionaram o Supremo sobre o caso. Parlamentares acreditam, porém, que não haverá tempo para que uma decisão saia antes da eleição.
Jovair Arantes (PTB-GO)
Representante do centrão, Arantes não conseguiu unir todo o bloco em torno de sua candidatura. Ele tem o apoio do seu partido, o PTB, do Pros e do Solidariedade, sigla comandada por Paulinho da Força.
Outros partidos menores que integram o centrão devem se manter fiéis a ele. Apesar de ter sido preterido por siglas aliadas, Arantes acredita que muitos deputados podem desobedecer ao encaminhamento da cúpula de seus partidos e votar nele.
Com isso, o parlamentar trabalha para levar a disputa para o segundo turno.
Mesmo tendo sido o relator do processo de impeachment de Dilma Rousseff e defendido o governo Temer, Jovair não tem a confiança total do Planalto, que teme mudanças de postura ao longo de negociações sobre a pauta da Casa de acordo com interesses próprios ou do bloco.
André Figueiredo (PDT-CE)
Também na disputa, mas com poucas chances de alavancar sua candidatura, o deputado conta com o apoio da sua própria legenda e do PT, que decidiu apoiá-lo depois de ter tentado negociar, sem sucesso, cargos na Mesa Diretora com Rodrigo Maia.
O atual presidente acabou mantendo a promessa de dar a primeira-secretaria da Casa, uma espécie de prefeitura, para o PR.
Figueiredo foi ministro das Comunicações do governo Dilma, mas tem baixa influência sobre seus colegas de oposição.
Rogério Rosso (PSD-DF)
Também representante do centrão, Rogério Rosso (PSD-DF) lançou seu nome no início do mês como mais um contraponto do bloco ao favoritismo de Maia. Ele chegou a suspender sua candidatura por uma semana sob o argumento de que aguardaria uma decisão do STF sobre a legitimidade da reeleição de Rodrigo Maia.
Na segunda, ele decidiu voltar ao páreo porque não há prazo para que a Corte analise o caso. Nenhuma das ações sobre a questão já apresentadas ao Supremo foi incluída na pauta da sessão desta quarta no tribunal.
A volta de Rosso é encarada por Jovair Arantes como fundamental para levar a eleição para o segundo turno.
No ano passado, o deputado do PSD teve o apoio de Arantes na disputa pelo comando da Câmara após a cassação de Cunha, mas acabou derrotado por Maia.
Júlio Delgado (PSB-MG)
Último a entrar no páreo, Delgado decidiu disputar a vaga mesmo sem apoio formal do seu partido, que aderiu à candidatura de Maia. Apesar disso, ele acredita que terá votos de alguns colegas de legenda.
Esta é a terceira vez que o mineiro concorre na eleição para o comando da Câmara. Na primeira, em 2013, foi derrotado por Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e na segunda, em 2015, perdeu para Cunha (PMDB-RJ).
Ele também ingressará com um mandado de segurança no STF para impedir a candidatura de Maia. Os outros três candidatos assinaram o documento. Delgado argumenta que o presidente da Câmara assinou, em dezembro, um ato da Mesa Diretora sobre o rito da eleição desta semana. Para ele, o parlamentar não pode assinar algo que possa beneficiá-lo diretamente.
SENADO
Eunício Oliveira (PMDB-CE)
Com apoio de quase a maioria do Senado, sua vitória é dada como certa até mesmo por opositores.
O peemedebista vem construindo seu nome para o cargo muito antes de a Casa pensar sobre o assunto. Desde que foi eleito, em 2011, ele já vislumbrava assumir o posto, mas teve de ter paciência e esperar seu colega, Renan Calheiros (PMDB-AL), se eleger na época para o quarto mandato à frente do Senado.
Desde então, Eunício se colocou como o sucessor de Renan. Neste tempo, enfrentou incertezas, já que surgiu a possibilidade de indicação do nome de Romero Jucá (PMDB-RR) para o posto e seu nome foi citado em delações da operação Lava Jato.
Com a queda de Jucá do Ministério do Planejamento no ano passado, Eunício se fortaleceu. Apesar de não ser tão próximo a Temer, tem dado demonstrações de fidelidade ao governo quando, por exemplo, votou a favor do impeachment de Dilma e, como líder do PMDB, organizou a bancada para aprovar medidas como o teto de gastos federais.
José Medeiros (PSD-MT)
Suplente do atual governador do Mato Grosso, Pedro Taques, Medeiros chegou ao Senado em 2015. Começou a se destacar ao defender fortemente a saída de Dilma Rousseff - integrante da comissão que analisou o processo contra a petista, o senador travou fortes embates com os defensores dela.
Sua candidatura ao comando do Senado, no entanto, é vista como uma tentativa de atrair mais atenção para o seu nome.
Senadores próximos não acreditam que ele possa ter um desempenho razoável no pleito. Mas apesar do pouquíssimo apoio, o parlamentar diz não cogitar retirar sua candidatura.
Como serão as votações
A eleição do Senado, que está marcada para começar às 16h desta quarta, será comandada por Renan Calheiros. Para ser eleito, o candidato terá de obter a maioria absoluta dos votos dos presentes - ou seja, apoio de ao menos 41 dos 81 senadores.
A votação só poderá começar quando mais da metade dos parlamentares estiver no plenário. Há a possibilidade de apresentar candidaturas até o início da sessão.
A disputa na Câmara, por sua vez, está marcada para começar às 9h desta quinta-feira e só pode ser realizada se a metade dos deputados estiver presente.
Como no Senado, vence quem obtiver os votos de no mínimo metade dos parlamentares, neste caso 257 dos 513. Caso essa maioria não seja alcançada, um segundo turno será realizado com os dois mais votados.