O presidente Jair Bolsonaro exonerou, nesta quinta-feira (6), o então ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. O ex-secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, já foi anunciado como novo titular da pasta. A saída de Canuto é a quinta mudança de ministro da gestão Bolsonaro. No entanto, caso ele não assuma nenhum outro cargo dentro do governo, ele será o quarto demitido pelo presidente, que já deslocou o então ministro Floriano Peixoto da Secretaria-Geral da Presidência da República para a presidência dos Correios.
As três demissões marcaram importantes momentos do primeiro ano do governo. Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência da República), saiu após discutir com o presidente através da imprensa e das redes sociais, Ricardo Vélez Rodriguez (Educação), foi retirado ao não conseguir controlar a pasta, enquanto General Santos Cruz (Secretaria de Governo do Brasil), deixou o cargo por conta do desgaste com a chamada "ala ideológica" do governo.
Relembre agora as demissões e as consequências das saídas para o governo Bolsonaro:
Queda de Bebianno foi prenúncio do racha no PSL
Primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro, o então homem de confiança do presidente, Gustavo Bebianno, que era secretário-geral da Presidência da República, caiu enquanto o capitão da reserva estava internado para a retirada de uma bolsa de colostomia no mês de fevereiro. Pressionado pela imprensa por conta de acusações de liderar um esquema de candidaturas-laranja, o então ministro afirmou que não havia crise no governo e que já havia falado com o presidente três vezes naquele dia.
Poucos dias depois, a demissão de Bebianno foi oficializada pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. O motivo da decisão teria sido de "foro íntimo do presidente". Desde sua saída do governo, Bebianno se tornou crítico do presidente e chegou a afirmar que Bolsonaro "atira em seus aliados pelas costas".
Considerado por muitos o grande responsável por trazer Bolsonaro ao PSL, Babianno é bastante próximo de Luciano Bivar, presidente da sigla. Políticos de carreira, a dupla nem sempre via com bons olhos a truculência do presidente e de alguns aliados próximos, em especial os filhos de Bolsonaro. A queda de Bebianno, ainda nos primeiros meses, acabou sendo o primeiro grande sinal de desgaste entre Bolsonaro e o partido.
O presidente rachou sua base aliada ao meio ao declarar guerra ser flagrado em vídeo criticando Bivar e pedindo para não ter o nome associado ao do parlamentar. Então líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) foi uma das que acabou rompendo com o governo, perdendo o cargo no processo.
Após a ebulição da crise, Bolsonaro, acompanhado pelo filho mais velho, Flávio, optou por deixar a legenda para fundar a sua própria sigla, que vai se chamar Aliança pelo Brasil. É esperado que pelo menos 30 parlamentares do PSL e de outros partidos da base aliada acompanhem o presidente. O PSL sozinho emplacou 52 deputados na Câmara Federal nas últimas eleições.
Após a breve passagem de Floriano Peixono no ministério, Jorge Antônio de Oliveira Francisco assumiu a pasta em junho de 2019.
Chamado para ser bombeiro, Weintraub jogou gasolina no MEC
Seguidor de Olavo de Carvalho, Ricardo Vélez Rodríguez foi uma das escolhas mais polêmicas de Bolsonaro para ocupar um ministério. Algumas decisões como a de permitir que livros didáticos não passassem por revisão e a de encorajar diretores de escolas a enviar vídeos dos alunos cantando o hino nacional dentro das escolas viraram motivo de críticas da oposição, que chegou a convocar o colombiano para uma sabatina no Congresso. No entanto, foi a briga interna dentro da pasta que derrubou o educador.
Após ter escolhas criticadas por Olavo de Carvalho, Vélez voltou atrás e exonerou uma série de servidores, substituindo-os por alunos do filósofo. "Inimigos" do ideólogo dentro do governo, os militares entraram na briga e emplacaram algumas nomeações. Por não conseguir manter o controle do ministério, o colombiano acabou sendo descartado por Bolsonaro, que no mesmo dia anunciou Abraham Weintraub para o cargo.
Após ajudar a escrever a reforma da Previdência, o economista era visto pela base do governo como um bom nome para apaziguar os ânimos na pasta, que até então era considerada internamente como o grande fracasso da gestão.
Visto como técnico e comedido, Weintraub acabou se mostrando uma figura ainda mais polarizadora que o antecessor. Usuário assídio das redes sociais, o ministro briga e debocha de opositores. Assim como Vélez, também já elogiou o polêmico Olavo de Carvalho e chegou a defender conteúdos com revisionismo histórico. Ele também gerou controvérsia ao dizer que as universidades federais tinham "plantações de maconha" e "laboratórios de droga".
Como administrador, o ministro também tem tido problemas. Problemas na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) geraram críticas ao titular da pasta da Educação, que levantou a possibilidade de uma suposta fraude. O ministro é alvo de uma ação de congressistas no Supremo Federal Federal (STF), que pedem o impeachment de Weintraub por suposto crime de irresponsabilidade.
Saída de Santos Cruz escancara desgaste com ala militar
Considerada a ala mais rebelde e, curiosamente, mais progressista do governo Bolsonaro, os militares entraram em rota de colisão com a chamada "ala ideológica", liderada por Olavo de Carvalho e os filhos do presidente, desde o início do governo. Em junho de 2019, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi exonerado da Secretaria Geral da Presidência da República. Ele foi o terceiro ministro demitido pelo presidente e, assim como nos casos de Bebianno e Vélez, a saída também teve relação com a ala ideológica.
Crítico ferrenho de Olavo de Carvalho, Santos Cruz trocou farpas com o filósofo através da imprensa e das redes sociais. O militar também se indispôs com Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente. A exoneração de Santos Cruz nunca teve um motivo oficializado pela base do governo, mas o general já reclamou publicamente do modo como saída foi conduzida.
No mesmo mês da saida do ex-ministro, dois outros militares foram exonerados de agências importantes do governo: Franklimberg Freitas deixou a Funai, enquanto Juarez de Paula Cunha foi demitido dos Correios.
Ainda que não tão veemente quanto Bebianno, Santos Cruz também criticou o governo após deixar o ministério. O militar disse que viu "muitos gastos desnecessários de dinheiro público" e ainda afirmou que o governo Bolsonaro havia se afastado do combate à corrupção. Apesar disso, o general segue elogiando pessoalmente o presidente.
Luiz Eduardo Ramos foi nomeado como titular da pasta em julho de 2019. Próximo do Congresso, ele um dos homens fortes de Bolsonaro na articulação com o parlamentares.