Ramos explica aproximação do governo com o Centrão em carta

Mensagem foi enviada após o Estadão mostrar que militares passaram a negociar cargos com partidos em troca de apoio a Bolsonaro

27 mai 2020 - 18h58
(atualizado às 19h37)

Responsável pela articulação política com o Congresso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general da ativa Luiz Eduardo Ramos, se justificou com os colegas do Exército pela aproximação do Planalto com o Centrão.

General Luiz Eduardo Ramos
General Luiz Eduardo Ramos
Foto: WERTHER SANTANA / Estadão Conteúdo

Em uma mensagem enviada aos integrantes da turma de 1979 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Ramos argumentou que o presidente Jair Bolsonaro precisa de uma base no Congresso, mas que não há corrupção no governo e que, por ele, "não passa nada que não seja republicano, legal e ético". O ministro disse, ainda, que pensava em voltar ao Exército neste ano, mas afirmou que não o fará porque "a guerra continua".

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"Senhores, estou aqui pelo Brasil! Achei que essa missão seria cumprida e eu pudesse retornar para minha farda ainda este ano, mas a guerra continua e não tem data para o armistício, e não posso abandonar minha posição", escreveu Ramos.

A explicação foi dada pelo ministro nesta terça-feira, 26, após o Estadão mostrar que militares passaram a negociar cargos com partidos em troca de apoio a Bolsonaro, que tenta evitar a abertura de processo de impeachment no Congresso. O papel negociador do governo já foi exercido por políticos como Geddel Vieira Lima, Antonio Palocci e José Dirceu, auxiliares de Michel Temer, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente. Apelidada em Brasília de "Centrão Verde-Oliva" e "Centrão Militar", a aproximação gera desconforto nas Forças Armadas.

Em um longo texto, Ramos disse aos amigos que não é político, mas um soldado, discípulo de Caxias. "Soldado não escolhe missão, ele a recebe e a cumpre", escreveu. "Como em qualquer missão, o terreno e as forças adversas são condicionantes que temos que superar e assim o farei", emendou o ministro, ressaltando que foi convocado por Bolsonaro e autorizado pelo comando do Exército.

A negociação feita por Ramos, eventualmente com a participação do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, tem o aval do presidente. Do outro lado do balcão, o principal negociador é o líder do Progressistas na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), que, informalmente, passou a exercer a liderança do governo. O Centrão de Bolsonaro ainda conta com Republicanos, PL, PSD, Solidariedade, PTB e parte do DEM.

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O ministro Ramos disse que jamais trairá o Exército e fez ataques à imprensa. "A imprensa ideológica parcial é nociva e buscará a todo custo denegrir a imagem das Forças Armadas, como tem feito ao longo de nossa história", observou.

Na mensagem, o ministro afirma que a formação de uma base no Congresso é fundamental para aprovar projetos do governo. "Não acreditem nas falácias diárias que tentam nos abater o moral. Não existe corrupção nesse governo! A formação de uma Base Governamental é necessária para a aprovação dos inúmeros projetos clamados pela sociedade e é parte importante da minha missão, que será cumprida! Por mim não passa nada que não seja republicano, legal e ético! Por isso tenho sido alvo de constantes ataques", insistiu.

Aos colegas da Aman, Ramos disse, ainda, que os cargos que estão sendo entregues aos novos aliados do Centrão são substituições de funcionários de governos anteriores, que não apoiam o projeto de Bolsonaro. Ele destacou que nenhuma nomeação, sob sua responsabilidade, ocorre fora dos critérios técnicos e "após intensa pesquisa da vida pregressa do indicado, sob aspectos morais, jurídicos e político-ideológicos, realizada pelo SINC (Sistema Integrado de Nomeações e Consultas)."

"Peço que o Exército confie em mim, como sempre confiou até a promoção ao último posto da carreira", disse Ramos, afirmando que não decepcionará colegas de farda. O ministro chegou ao governo em julho do ano passado. Antes, estava no Comando Militar do Sudeste, em São Paulo.

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