O agora ex-corregedor da Receita Federal João José Tafner, que teve sua exoneração publicada nesta quinta-feira, 9, era próximo da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o indicou para o cargo que deveria ocupar até 2025. Tafner pediu demissão na quarta-feira, 8, e foi exonerado por Fernando Haddad, ministro da Fazenda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Tafner relatou ter sofrido pressão para não apurar denúncias envolvendo informações sigilosas de desafetos do ex-presidente.
De acordo com a reportagem, Tafner conquistou o cargo após se aproximar da família Bolsonaro. Em fotos em redes sociais, ele aparece em atos da campanha para a Presidência de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Um dos registro mostra Tafner ao lado do então candidato a deputado federal Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente. Na foto, ele usa uma camisa da Seleção Brasileira, que virou um símbolo da campanha bolsonarista.
Tafner chegou à Corregedoria da Receita Federal depois que membros da família Bolsonaro reclamaram de uma suposta perseguição por meio de acessos ilegais de dados e vazamentos de informações sigilosas envolvendo outro filho de Jair, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Quem é
Segundo perfil publicado no site da CEAGESP, onde ele já foi diretor administrativo financeiro, Tafner é formado em Análise de Sistemas e Ciências Jurídicas, tendo atuado tanto na administração pública quanto na privada.
Na Receita Federal, já atuou por mais de 20 anos como auditor, tendo passado pela administração aduaneira em Brasília e unidades do Estado de São Paulo.
Pressão
Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, as intimidações que João José Tafner recebia, de acordo com ele, partiam do então secretário da Receita Julio Cesar Vieira Gomes, e do então subsecretário-geral, José de Assis Ferraz Neto, que pediam para Tafner amenizar possíveis punições contra o ex-chefe de inteligência do órgão, Ricardo Feitosa, que teve acesso a dados sigilosos do coordenador responsável pela investigação do suposto caso das 'rachadinhas', que envolveram Flávio Bolsonaro.
O nome de Julio Cesar Vieira Gomes, aliás, apareceu no noticiário recentemente por seu envolvimento no caso das joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, retidas pela Receita no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), que seria um presente da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O Estadão apurou que, para conseguir reaver as joias, Vieria pressionou servidores de diversos departamentos através de mensagens de texto enviadas por aplicativos como WhatsApp, áudios, telefonemas e e-mails sobre o assunto.
De acordo com apuração da jornalista Andréia Sadi, da TV Globo, Vieria também atuou ativamente no escândalo ao contatou Jair Bolsonaro pouco antes de seu ajudante de ordens, Mauro Cid, enviar um oficio comunicando a ida do sargento 'Jairo' ao Aeroporto de Guarulhos. Lá, Jairo, pressionou as autoridades e, mesmo com o envolvimento de Vieira, não foi conseguiu liberar as joias com o representante do Fisco no local. As fontes disseram que Vieira tentou, sem sucesso, "dar uma carteirada" para liberar o presente milionário sem seguir as regras fiscais do País. Depois disso, Vieira recebeu um cargo em Paris, na França, adido do Fisco na capital francesa.
A atuação de Vieira Gomes no caso das joias também era alvo de denúncia de servidores na corregedoria do Ministério da Fazenda. Tais servidores já haviam manifestado preocupação com a autonomia do agora ex-corregedor para investigar o escândalo, justamente por causa de sua proximidade com a família Bolsonaro, e ameaçavam uma demissão coletiva. (*Com informações do Estadão Conteúdo).