Quando João Amoêdo pisou no saguão do aeroporto internacional dos Guararapes, no Recife, os celulares de sua claque passaram a funcionar. Os cerca de 40 militantes que se reuniram para recepcionar o candidato a presidente do Novo compunham grupo modesto, mas preparado: logo revezaram-se na tarefa de transmitir ao vivo o ato político.
Desconhecido de grande parte do eleitorado - e ainda sem o traquejo de quem está acostumado a abraçar eleitor, beijar criancinhas e mordiscar pastel de feira -, Amoêdo, candidato de um partido jovem e nanico, tem usado as andanças de campanha para municiar suas redes sociais, espaço onde guerreia em melhores condições com rivais.
Esse esforço digital começa a transparecer, mesmo que de forma incipiente, em sondagens eleitorais. Em duas pesquisas nacionais divulgadas na semana passada, encomendadas pelo BTG e pela XP Investimentos, Amoêdo apareceu com 4% das intenções de voto no cenário estimulado, no qual os nomes dos candidatos são apresentados. É o suficiente para deixá-lo embolado, considerando o limite da margem de erro das pesquisas, com Alckmin, Ciro e Marina. Antes, ele vinha pontuando, no máximo, 2% nas pesquisas nacionais.
Os indicativos de crescimento ainda são tênues e o início da propaganda eleitoral pode mudar tudo rapidamente - o Novo tem só cinco segundos na TV nos dias em que há propaganda para presidente -, mas as pesquisas animaram a militância e a cúpula do partido. "São resultados importantíssimos porque tiram o João do terreno da dúvida e o colocam no terreno da relevância", diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e coordenador do programa de governo de Amoêdo. "O próximo passo será da importância e, depois, da dominância. Mas uma coisa de cada vez".
O sinal de avanço fez com que Amoêdo se tornasse alvo de ataques de militantes de candidaturas rivais - tanto do campo da direita, como da esquerda. Passaram a povoar redes e grupos de WhatsApp mensagens e "memes" classificando o Novo como versão repaginada do PSDB e taxando-o como partido de banqueiros, referência à trajetória de Amoêdo que fez fortuna no mercado financeiro.
O ataque virtual indica que a candidatura passou a incomodar em alguma medida. "Embora o apoio a Amoêdo seja ainda muito incipiente, numa corrida tão fragmentada como essa, pode ser suficiente para influenciar a definição de segundo turno", diz o cientista político Rafael Cortez, sócio da consultoria Tendências. Para ele, o desempenho de Amoêdo pode prejudicar outras candidaturas de direita, especialmente a de Alckmin.
A estratégia do Novo, porém, não passa pelo embate com o tucano nem com qualquer rival, diz o economista Daniel Guido, coordenador de mídias digitais de Amoêdo. "Nosso foco são os eleitores de centro, os indecisos e os desencantados. Muitos deles até pensam em votar no Alckmin, mas porque ainda não conhecem o João", afirma.
Desde maio, 12 pessoas estão dedicadas a cuidar das redes sociais de Amoêdo, entre editores de vídeo, produtores de conteúdo e profissionais responsáveis pela interação com o público nas diferentes páginas. Há atuação no Twitter, no Instagram, no WhatsApp, mas o foco principal está mesmo no Facebook, onde a presença passou a ser reforçada com a compra de anúncios. Em dez dias, foram desembolsados R$ 51 mil para "impulsionar" 22 postagens. É uma cifra pequena frente ao orçamento milionário de outras campanhas, mas representa 10% de todo o valor arrecadado até o momento por Amoêdo, segundo a Justiça Eleitoral.
Estratégias. O discurso liberal do candidato, que alimenta as redes sociais e é distribuído para 70 mil pessoas via WhatsApp, é replicado por um grupo aguerrido de militantes que o Novo vem conseguindo arregimentar, especialmente entre as classes média e alta. Os apoiadores de Amoêdo costumam ter alta identificação com o partido. É comum que voluntários uniformizados com camisas laranjas, a cor do Novo, saibam citar passagens do estatuto da legenda e explicar parte do programa de governo.
"Comecei a estudar a agenda liberal, o empoderamento do cidadão. Sou um filiado engajado e que viu uma campanha sair do zero", afirma Fagner Feitosa, de 38 anos, funcionário público no Pará, que votou em Lula e em Marina e diz hoje ter "orgulho de ser militante" do Novo.
Em São Paulo, Angela Quintanilha, de 60 anos, participa de "por baixo, vinte grupos de WhatsApp" de apoiadores da campanha de Amoêdo e ajuda a organizar ações de panfletagem em parques e em ruas da capital paulista. "A gente se cotiza, faz vaquinhas para comprar material", afirma Angela, que diz ter votado em diversos partidos, apesar de "nunca ter sido da esquerda". Ela diz que os militantes do Novo fazem "um trabalho de formiguinha", mas está animada: "Nossa onda laranja está virando tsunami".