A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse nesta terça-feira a senadores que a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, não foi um bom negócio. A executiva defendeu a posição da presidente Dilma Rousseff, segundo a qual o Conselho de Administração da estatal aprovou a compra de metade da unidade sem conhecer duas cláusulas contratuais.
"Não há como reconhecer na presente data que foi um bom negócio", disse Graça Foster, ao comentar a fala do ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, na semana passada, que classificou a compra como um bom negócio. A executiva reconheceu US$ 530 milhões em perdas da estatal com Pasadena, que custou US$ 1,25 bilhão à Petrobras. A ida de Graça Foster ao Senado é uma tentativa de enfraquecer a criação de uma CPI para investigar denúncias envolvendo a empresa.
"De todas as leituras, de todas as vezes em que eu vi o ex-presidente da Petrobras, eu não ouvi o Gabrielli dizer que tenha sido um excelente negócio. O que Gabrielli reporta é que, à época, foi considerado um bom negócio", acrescentou.
Então presidido por Dilma Rousseff, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou em 2006 a compra de 50% da unidade em Pasadena por US$ 360 milhões e precisou, com base em uma cláusula do contrato, adquirir a outra metade da refinaria em um negócio que custou mais de US$ 1,2 bilhão. Depois de divulgados os detalhes do negício, Dilma disse que a compra foi aprovada com base em um relatório falho e que não daria o aval se conhecesse duas cláusulas do contrato.
Na semana passada, José Sérgio Gabrielli, que presidia a Petrobras em 2006, disse que Dilma não tinha todas as informações para dar aval à compra, mas também afirmou que o negócio foi correto, acompanhando uma estratégia da companhia de refinar petróleo do exterior. Graça Foster também afirma que, para a época, o negócio era mais atraente e seguia uma estratégia traçada em 2004 para o refino de petróleo, mas ressaltou que não há como considerá-lo correto agora.
Para a presidente da estatal, Pasadena transformou-se em um projeto de baixa probabilidade de recuperação dos resultados. Segundo ela, hoje o Brasil tem parques de refino mais complexos e adaptados ao petróleo brasileiro.
"A Petrobras tem o seu parque de refino no Brasil e óleo mais leve que tinha naquela época. O nosso parque de refino hoje é capaz, com todo o investimento feito, de refinar, de uma forma econômica, muito mais rentável, do que àquela época (...). Então, a presidenta disse que não compraria, não encaminharia, o conselho disse assim, e nós, hoje, não encaminharíamos, não aprovaríamos na nossa direção do colegiado hoje a refinaria se tivéssemos todos esses dados sobre a mesa", disse Graça Foster. "Tenho convicção de que o Gabrielli não fala dessa refinaria de forma empolgada. Não é para ele um excelente negócio", acrescentou.
Apesar de não considerar um bom negócio, Graça Foster ressaltou que a refinaria de Pasadena teve um bom resultado no primeiro trimestre deste ano. "Temos uma refinaria que opera com segurança, que em janeiro deste ano, em fevereiro desse ano e em março deste ano deu resultado positivo", disse.
Resumo deveria citar cláusulas
No início de sua apresentação aos senadores, a presidente da Petrobras disse que "não existe operação 100% segura" em atividades comerciais na área de petróleo e gás. Ela defendeu que o relatório apresentado ao Conselho de Administração da Petrobras pelo então diretor Nestor Cerveró foi falho por não especificar duas cláusulas importantes: a put option e a marlim. A primeira obrigava uma parte a comprar toda a unidade em caso de desacordo comercial, enquanto a outra exigia lucro mínimo de 6,9% ao ano para a empresa belga.
"Quando nós fazemos uma apresentação para o Conselho de Administração, uma apresentação no PowerPoint, quando nós tratamos do resumo executivo, ele deve conter todas as informações necessárias e suficientes para a devida avaliação do que se pretende fazer. E, além disso, é obrigação de quem leva para a Diretoria apontar os pontos fracos e frágeis da operação. Não há operação segura 100%. Não existe isso, imagino, em nenhuma atividade comercial e, certamente, não existe na indústria de petróleo e gás", disse.
Graça disse que as cláusulas só foram conhecidas em 2008, quando a Petrobras passou a entrar em desacordo com a Astra Oil sobre investimentos em Pasadena. A brasileira queria fazer investimentos para processar óleo pesado na unidade, que só recebia óleo leve; a belga não concordava com os planos.
Apesar de confirmar o montante de US$ 1,25 bilhão do negócio, Graça disse que investigações internas da Petrobras apontam que a belga Astra Oil não pagou US$ 42,5 milhões por Pasadena à americana Crown Central Petroleum, como vinha sendo divulgado. “Nós temos no âmbito da apuração da Petrobras uma série de evidência contábeis, nos balancetes, que a Astra pagou à Crown muito mais que R$ 42,5 mi de dólares. No mínimo, a Astra pagou a Crown, 360 milhões de dólares”, disse.
"Constrangimento" com prisão
Durante a audiência, Graça Foster afirmou que os contratos envolvendo o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal, são alvos de investigação. Ela disse que a detenção causou "grande constrangimento" dentro da companhia.
"Aconteceu um grande constrangimento para a Petrobras com a prisão do ex-diretor Paulo Roberto. Todos os processos relacionados, os contratos relacionados a eventual ou potencial participação do Paulo estão sendo avaliados", disse.
Graça Foster afirmou ter sido cobrada por colegas de trabalho por explicações. "As pessoas querem, sim, informações, querem saber o que está acontecendo, em especial, com a última revelação sobre o nosso ex-diretor. Isso cria muita tristeza, muito constrangimento dos nossos colegas. Quando você vem lá das bases da estrutura, você não vive no mundo só da diretoria; você tem um mundo muito realista, e a cobrança é muito grande", afirmou.