Regina Duarte diz que recebeu ataques "de uma facção"

Em entrevista ao 'Fantástico', nova secretária de Bolsonaro lamenta 'acusações' contra sua indicação

9 mar 2020 - 00h46
(atualizado às 08h11)

A nova secretária da Cultura, Regina Duarte, disse que os ataques recebidos desde que assumiu o cargo vieram "de uma facção" que quer ocupar a vaga para a qual foi indicada. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, Regina respondia indiretamente aos ataques que recebeu do guru bolsonarista Olavo de Carvalho, que dois dias após ela assumir o posto usou as redes sociais para afirmar que a atriz não tinha capacidade de exercer o cargo e pediu "perdão" ao presidente Jair Bolsonaro por ter apoiado sua indicação.

Foto: RD1

Sem citar Olavo diretamente, Regina reagiu às críticas. "Só lamento ter perdido tanto tempo desfazendo intrigas, fake news", disse a atriz, acrescentando que passou os primeiros dias na nova função tentando esclarecer "acusações não verdadeiras a respeito das propostas da equipe que está comigo".

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"Estamos começando a trabalhar na semana que entra porque até aqui estivemos ocupados, com enormes dificuldades de toda uma facção que quer ocupar esse lugar, quer que eu me demita, que eu me perca. Já tem uma hashtag #ForaRegina e eu nem comecei", disparou a secretária.

Ao ser lembrada de que cobrou de Bolsonaro a "carta branca" que ele teria lhe dado ao convidá-la para o cargo, mas que, ali mesmo, o presidente avisou que tem o poder do veto, Regina Duarte mostrou o desconforto com a situação do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. A secretária já deu sinais de que gostaria substituí-lo, uma vez que ele deu declarações polêmicas negando a escravidão no País.

Regina Duarte chamou Camargo de "ativista", mas sinalizou que está esperando a poeira baixar para resolver o problema, ainda mais depois que Bolsonaro fez questão de publicar nas redes sociais uma foto ao lado de Camargo, sinalizando que o apoia.

"Voltamos aí a essa situação da política que interfere no fazer cultural. Temos uma pessoa que é um ativista, mais do que um gestor público", atacou, mas mostrando cautela para lidar com a situação. "Estou adiando esse problema porque essa é uma situação muito aquecida. Não quero que esse desequilíbrio que estou percebendo aí ganhe mais espaço. Eu quero que baixe um pouco a temperatura e logo logo a gente vai ver", disse a secretária.

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Regina Duarte concordou com a demissão de Roberto Alvim, seu antecessor no cargo, afirmando que "ele foi tomado por um personagem e esqueceu que era um secretário". Para ela, o episódio em que Alvim gravou e divulgou um vídeo com referências ao nazismo foi "gravíssimo", e ele "caiu" porque não teve "entendendimento para o cargo que ocupou".

Na entrevista, a atriz repetiu que prega a "pacificação" e criticou "a polarização que foi sendo estimulada a partir do 'Ele não'", em referência às manifestações contrárias à eleição de Bolsonaro em 2018. Regina, porém, não fez menção ao fato de o próprio presidente e seus aliados endossarem o clima de polarização.

"Eu acho que a polarização que foi sendo estimulada a partir do 'Ele não' é gravíssima. É um tiro no pé da categoria. Por que a gente precisa passar por isso se o que a gente quer é a mesma coisa, se expressar artisticamente?", questionou ela, ponderando que "dá prá fazer muita coisa" e que está "de portas abertas" para receber seus colegas. "Queremos receber todas as insatisfações para resolver como vão andar juntos", afirmou.

A nova secretária pediu desculpas por ter postado uma foto com artistas que a apoiavam, reconhecendo que o endosso não era ao fato de ela ter aceitado o convite para ser secretária do governo Bolsonaro. Mas, se dizendo esperançosa, comentou que "existe uma grande maioria que está em silêncio" e que essa maioria "vai chegar" porque "seria pouco inteligente desprezar neste momento o que está sendo oferecido à classe artística".

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Regina disse que aceitou a "missão" por "patriotismo", mas reconheceu que, nos primeiros dias, "viveu altos e baixos", com "momentos muitíssimos angustiantes porque tinha de lidar com situações bastante complicadas, de política, que não estava acostumada", já que muitas pessoas estavam "usando os cargos para fazer ativismo". Apesar disso, a nova secretária diz que "no nosso caso, queremos fazer cultura". Em seguida, avisou que demissões são necessárias e que quer assumir o cargo tendo ao lado pessoas de sua confiança.

Na entrevista, ela assegurou que não vê risco de censuras ou de a cultura retroceder, pelo perfil conservador do presidente Bolsonaro. "A história segue. Não corre risco de andar pra trás. Ninguém fica olhando no retrovisor. Vamos fixar no presente e olhar pra frente", disse.

Lei Rouanet

Para Regina, a Lei Rouanet, que concede incentivos para artistas produzirem seus espetáculos no Brasil, "precisa de alguns ajustes". Ela adiantou que "está pensando seriamente" nesse tema para que a lei possa ser "mais democratizada", e o bolo, repartido por "fatias mais justas".

Na opinião da secretária, o dinheiro público deve ser "usado com diretrizes importantes", de acordo com o que defende a população que elegeu o presidente. No entanto, ponderou que "todos estão livres para se expressar, desde que busquem seus recursos" na iniciativa privada para isso. Ela argumentou que não se trata de deixar de lado as minorias, mas avisou que "não vai fazer filme pra agradar minoria com dinheiro público" e que estes segmento deve "buscar patrocínio".

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Regina Duarte comentou que não faz questão que a Secretaria volte a ser ministério. "Não precisarei de um ministério para fazer uma gestão rica, colaborativa e construtiva", afirmou a atriz. Ela acrescentou que essa é uma discussão que cabe a quem está acima dela hierarquicamente. Sobre a falta de recursos para a sua pasta, afirmou que acredita que "dá pra fazer arte com os recursos possíveis" e repetiu o que disse no discurso: "Se precisar, passo o chapéu."

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