Desde que assumiu a Presidência da República em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro coleciona polêmicas no Brasil e no mundo. 2021 não foi diferente. Em ano de CPI da Covid, cúpula do G20, atos antidemocráticos durante o 7 de setembro, ameaça à concessão da TV Globo, Auxílio Brasil e PEC dos Precatórios não faltou material para este especial que relembra alguns destaques do governo federal neste ano, o penúltimo do atual mandato de Bolsonaro, que deve tentar a reeleição no pleito de 2022. Confira:
CPI da Covid
Uma das principais 'pedra no sapato' para Jair Bolsonaro, a CPI da Covid recomendou em outubro, em seu relatório final, que o presidente seja investigado e responsabilizado por sua conduta no combate a pandemia da covid-19 no Brasil. No documento, os senadores citam por crimes comuns, por crimes de responsabilidade e por crimes contra a humanidade envolvendo Bolsonaro, além de familiares e aliados políticos.
Isolamento no G20 e ausência em cúpula do clima
Em um dos eventos de maior repercussão midiática mundial, Jair Bolsonaro pareceu deslocado e com uma agenda indicando isolacionismo do chefe do Executivo brasileiro na cúpula do G20 - reunião das 20 maiores economias do mundo - em outubro. Pressionado por causa das políticas ambientais, na mesma época, Bolsonaro preferiu não marcar presença em um outro evento de peso - a COP26. Na ocasião, seu vice Hamilton Mourão confessou que o mandatário evitaria a reunião do clima porque iriam jogar "pedras" nele.
Homenagem controversa na Itália
Ao invés de ir à COP26, em Glasgow, Bolsonaro permaneceu na Itália - onde ocorreu a cúpula do G20 - para visitar a cidade de Anguillara Veneta e receber a cidadania honorária. A honraria, no entanto, foi duramente criticada por grupos progressistas. A fachada da prefeitura chegou a ser pichada com os dizeres "Fora Bolsonaro". A concessão partiu da prefeita de Anguillara Veneta, Alessandra Buoso, pelo fato de o bisavô de Bolsonaro ter nascido na pequena cidade de pouco mais de 4 mil habitantes.
Influência política no Enem
Os alunos que prestaram o Enem em 2021 enfrentaram obstáculos impostos pela pandemia da covid-19, mas também relataram apreensão após Jair Bolsonaro dar a entender que iria interferir na prova. Em declaração em novembro, o chefe do Executivo afirmou que "o Enem começa a ter a cara do governo". A fala fez com que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, fosse ao Congresso se explicar. Ele negou que houve intervenção no exame. No mesmo mês, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo informou que Bolsonaro pediu ao ministro que o golpe militar de 1964 fosse citado como "revolução" em questões da prova. O exame, porém, trouxe questões sobre racismo, uma charge do cartunista Henfil e até um trecho da música 'Admirável Gado Novo', de Zé Ramalho.
Desfile de 7 de setembro e ameaça à democracia
Jair Bolsonaro usou o 7 de setembro deste ano, data de comemoração da Independência do Brasil, para convocar atos em todo o País com argumentações antidemocráticas. Em São Paulo, o presidente discursou durante o protesto. Ele chamou as eleições de "farsa", disse que só sai da presidência "preso ou morto" e exaltou a desobediência à Justiça. As manifestações, no entanto, esgarçaram ainda mais a relação entre os Poderes e boatos sobre impeachment começaram a surgir. Diante deste cenário, Bolsonaro passou a adotar um tom mais comedido ao falar sobre o STF.
Protestos dos caminhoneiros e recuo com ajuda de Temer
Depois de fazer os dos discursos mais inflamados de seu mandato no último dia 7 de setembro, Jair Bolsonaro recuou do tom em nota divulgada pela Presidência. "Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum", justificou-se. Ao Estadão, o ex-presidente Michel Temer confirmou que participou ativamente da produção do documento e que alertou o presidente sobre a paralisação dos caminhoneiros, que se formou após os atos da Independência. "Mais cedo ou mais tarde, com desabastecimento, aumento de preços, essa greve vai cair diretamente no seu colo", alertou Temer, que enfrentou uma greve de caminhoneiros em 2018.
Condução do País na pandemia
Priorizando a economia ao invés de medidas de proteção desde o início da pandemia de covid-19, em junho, Bolsonaro quis desobrigar o uso de máscaras em todo o território nacional àqueles que já estiverem vacinados contra a doença. Em diversas ocasiões, o presidente apareceu sem a proteção em eventos públicos. Apesar das ameaças, a máscara ainda é obrigatória no Brasil, principalmente em locais fechados. Em dezembro, durante a chegada da variante Ômicron, o governo decidiu ir contra as recomendações da Anvisa e optou por não exigir 'passaporte da vacina' a turistas que desejam entrar no País. Ao invés disso, os passageiros precisam apenas apresentar um teste negativo para covid-19 e realizar uma quarentena de cinco dias. Em dezembro, entretanto, os ministros do STF votaram para manter uma liminar que determina a exigência de passaporte de vacina - uma derrota para o governo.
Furo do Teto de Gastos, Auxílio Brasil e PEC dos Precatórios
Em outubro, o governo levantou a possibilidade de furar o Teto de Gastos para financiar o Auxílio Brasil (que substitui o programa Bolsa Família) no valor de R$ 400. A hipótese desagradou economistas e derrubou índices no mercado financeiro, como o Ibovespa. O ministro Paulo Guedes chegou a vir a público explicar a decisão. Posteriormente, a chamada PEC dos Precatórios - que fatia o pagamento de dívidas da União - foi o recurso usado para viabilizar o programa com a marca Bolsonaro.
Ameaça à concessão da TV Globo
Em 2022, 3 dias após o primeiro turno das eleições presidenciais, a licença de funcionamento da TV Globo vai expirar. Alvo frequente de críticas de Bolsonaro, a emissora tem sido ameaçada com declarações do presidente dizendo que não irá conceder concessão à emissora. “A Globo tem um encontro comigo no ano que vem, né? Encontro com a verdade, não vou perseguir ninguém. Mas tem que estar com as certidões negativas em dia, um montão de coisas aí", chegou a dizer a um apoiador em novembro. A decisão, porém, não é tão fácil assim. Caso Bolsonaro não renove a concessão, ele precisará convencer dois quintos da Câmara (206 deputados) e a mesma fração no Senado (33 senadores) a aprovar e ratificar sua decisão.
Revista compara Bolsonaro a Hitler
Também no mês de novembro, Jair Bolsonaro criticou duramente a capa de uma revista que usou sua foto com um bigode à la Adolf Hitler onde se lia a palavra "genocida". A matéria repercutia os desdobramentos da CPI da Covid. O governo processou a publicação, mas a Justiça decidiu trancar o inquérito que investigava o suposto crime contra a honra do presidente.
Presidente é quem menos aprova propostas no Legislativo
Levantamento realizado no mês de dezembro pelo Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB) mostrou que Jair Bolsonaro é o chefe do Executivo federal que menos aprovou projetos no País desde a redemocratização. A pesquisa apontou que, em 2021, apenas 27,7% das proposições enviadas pelo Executivo para a Câmara obtiveram sucesso.