Religioso, Toffoli dá lição ao liberar Jesus gay da Netflix

Derrubada da censura contra sátira do Porta dos Fundos fortalece liberdade dos humoristas em geral

10 jan 2020 - 12h00
Fábio Porchat e Gregório Duvivier em material de divulgação do polêmico especial 'A Primeira Tentação de Cristo'
Fábio Porchat e Gregório Duvivier em material de divulgação do polêmico especial 'A Primeira Tentação de Cristo'
Foto: Divulgação

Em fevereiro de 2019, na estreia do programa Em Foco da jornalista Andréia Sadi, na GloboNews, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, admitiu se pautar pela fé e até mostrou uma miniatura de terço católico que sempre carrega no bolso. Essa revelação diante das câmeras, evidenciou a religiosidade do homem que ocupa a cadeira mais poderosa do Judiciário brasileiro.

Foi esse mesmo devoto de Nossa Senhora de Fátima que suspendeu a censura ao especial de Natal 'A Primeira Tentação de Cristo', da produtora Porta dos Fundos. A retirada do vídeo havia sido determinada por um juiz do Rio de Janeiro, atendendo ao pedido de uma associação católica — ou seja, de praticantes da mesma religião de Toffoli.

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"Não se descuida da relevância do respeito à fé cristã (assim como de todas as demais crenças religiosas ou a ausência dela). Não é de se supor, contudo, que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2 (dois) mil anos, estando insculpida na crença da maioria dos cidadãos brasileiros", escreveu o ministro em seu despacho.

Por conta do respeito e culto que tem pela imagem de Cristo, Dias Toffoli provavelmente seja contra a insinuação de que o filho de Deus teria tido uma experiência homossexual, como sugere a produção do Porta dos Fundos, disponível na plataforma de streaming Netflix desde 3 de dezembro. Mas, como guardião máximo da lei, ele passou por cima da fé pessoal para garantir a liberdade de expressão, um valor constitucional inegociável assim como a liberdade de crença religiosa.

No saldo final, esse episódio fez bem aos humoristas. A todos, não apenas aos do Porta dos Fundos. A corte máxima do País, na figura de seu presidente, deu um recado importante a quem acha que a censura é opção no combate ao politicamente incorreto.

Toda pessoa ou grupo tem o direito de protestar contra eventuais excessos e supostos desrespeitos, desde que não recorra ao autoritarismo ao tentar impor a sua razão. Se essa moda pegasse, não sobraria quase nada da programação da TV, dos serviços de streaming e canais de YouTube. Há sempre alguém se sentindo ofendido por algum conteúdo. Bem-vindos à pluralidade do mundo.

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