"Reunião sigilosa" de Bolsonaro contou com 40 pessoas

Participaram do encontro presidentes de bancos públicos, assessores especiais, ajudantes de ordens, cinegrafista e fotógrafo

15 mai 2020 - 11h51
(atualizado às 12h09)

Tratada agora como "sigilosa" pelo governo de Jair Bolsonaro, a reunião ministerial do 22 de abril, a última com a participação do ex-titular da Justiça Sérgio Moro, foi presenciada por ao menos 40 pessoas. Os "segredos de Estado", conforme alega o governo, foram conversados na presença de todo o primeiro escalão, presidentes de bancos públicos, assessores especiais, ajudantes de ordens, cinegrafista e fotógrafo. A quantidade de pessoas pode ser conferida nas imagens divulgadas pelo Palácio do Planalto.

Presidente da República, Jair Bolsonaro durante 6ª Reunião do Conselho de Governo em fevereiro deste ano
Presidente da República, Jair Bolsonaro durante 6ª Reunião do Conselho de Governo em fevereiro deste ano
Foto: Marcos Corrêa/PR

Os detalhes deste encontro estão sendo averiguados no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a acusação de Moro de que o presidente Bolsonaro tentou intervir no comando da Polícia Federal. O governo quer que apenas parte da reunião seja divulgada.

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O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, argumentou que divulgar que o vídeo na íntegra da reunião, que agora é alvo de inquérito, é "quase um atentado à segurança nacional". "Pleitear que seja divulgado, inteiramente, o vídeo de uma reunião ministerial, com assuntos confidenciais e até secretos, para atender interesses políticos, é uma ato impatriótico, quase um atento à segurança nacional", escreveu no Twitter na quarta-feira, 14.

Para evitar a divulgação do vídeo, a Advocacia-Geral da União (AGU) alegou, na semana passada, "assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado". O presidente tem adotado o mesmo discurso, dizendo que não há problemas em divulgar o trecho alvo de investigação, mas alega que "assuntos comerciais, de relações internacionais e questões pessoais" se mantenham em sigilo.

Água e café

Entretanto, até o inquérito envolvendo o ex-ministro da Justiça, a preocupação com segurança das conversas sigilosas não era tamanha. Durante os conselhos de ministros, garçons da Presidência também entram na sala para servir água e café no início e, eventualmente, retornam à sala para repor as bebidas. Nesses encontros, técnicos de som, responsáveis pela operação dos microfones, também costumam ter acesso ao local.

Além dos ministros e assessores sentados à mesa, uma foto ampla mostra cinco pessoas em pé. Em outra imagem, é possível verificar que o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, e outros três assessores estão sentados em uma outra fileira de cadeiras, encostada na parede.

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O cuidado mais evidente ficava por conta dos celulares. Nestas ocasiões, para evitar vazamentos, todos os participantes são obrigados a deixar o celular do lado de fora da sala. O único que costuma ser exceção é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Já o telefone do presidente costuma ficar nas mãos de um ajudante de ordens.

Os encontros eram gravados na íntegra e armazenados pela Secretaria de Comunicação com conhecimento do presidente, que eventualmente publica trechos em suas redes sociais.

"Nossa reunião é filmada e fica no cofre lá o chip", comentou Bolsonaro no dia 28 de abril. Na ocasião, ele mesmo sugeriu a divulgação do vídeo. "Mandei legendar e vou divulgar. Tirem as conclusões de como eu converso com os ministros." Dois dias depois, porém, disse que havia desistido.

Após a investigação, o governo passou a alegar que apenas trechos eram gravados para a divulgação, mas, por fim, entregou o conteúdo da íntegra da reunião do dia 22 de abril atendendo ao pedido do ministro Celso de Mello.

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Novo formato

O caso está forçando uma mudança nos procedimentos dessas reuniões. O presidente afirmou que agora privilegiará as conversas individuais com os ministros e passará adotar um café da manhã mensal para "confraternização."

A tendência agora é que as reuniões com ministros deixem de ser filmadas, como já ocorreu na última terça-feira no Palácio da Alvorada.

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