O deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) é acusado de ter beneficiado a Orla Rio Associados, empresa privada que controla quiosques no calçadão de praias do Rio de Janeiro, enquanto era secretário municipal de Ordem Pública da cidade e tinha como uma de suas funções fiscalizar a concessionária. Segundo reportagem da revista Época, em dezembro de 2009, Bethlem autorizou a Orla Rio a ampliar seu local de atuação, instalando barracas na areia para a venda de produtos. A Orla Rio informou que nunca chegou a atuar com barracas na areia.
A publicação afirma ter recebido documentos que apontam a suspeita de que a concessionária teria contribuído para o caixa dois da campanha do deputado federal em 2010. Época afirma ter recebido da ex-mulher do parlamentar, a empresária Vanessa Felippe, anotações feitas à mão pelo próprio Bethlem sobre doações para a sua campanha. O nome Orla aparece anotado em quatro folhas e, segundo Vanessa, se refere à Orla Rio Associados. Concessionárias de serviço público não podem fazer contribuições a candidatos.
Uma das tarefas de Bethlem à frente da secretaria de Ordem Pública era justamente organizar o comércio de alimentos e bebidas nas praias do Rio. A revista afirma ter recebido de Vanessa uma série de e-mails que Bethlem trocou com o vice-presente da Orla Rio, João Marcello Barreto, que mostram a intimidade entre os dois. Em um deles há um anexo em que a Orla Rio pede autorização da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para instalar barracas, cadeiras de praia e guarda-sol na areia, com o timbre da prefeitura e o nome de Bethlem, que deveria assinar e encaminhar à SPU.
Em um e-mail, João Marcello pede para o então secretário rubricar o papel. Segundo Época, em dezembro de 2009, Bethlem assinou um convênio permitindo à Orla Rio atuar nas areias. A concessionária disse à revista que não contribuiu com a campanha de Bethlem e não foi favorecida por ele.
A concessionária Orla Rio, que administra 309 quiosques da orla carioca, informou em nota ao Terra que, após vencer a licitação pública realizada em 1999, nunca fez qualquer doação à campanha eleitoral de políticos e nem foi favorecida por Bethlem. Segundo a empresa, em agosto de 2009 solicitou à prefeitura pontos de apoio aos quiosques na areia e o pedido foi negado em maio do ano seguinte.
Segundo a revista, Bethlem acompanhou detalhes da criação da Associação dos Barraqueiros da Cidade do Rio (PróRio), comandanda por João Marcello. De acordo com Época, a PróRio ganhou autorização para explorar barracas na praia. O então secretário foi copiado em email enviado por funcionário da secretaria da Ordem Pública a João Marcello, em que o funcionário dizia que assim que a PróRio obtivesse inscrição na Receita Federal, um aditivo em convênio poderia ser assinado com a secretaria. Esse convênio com a Pró-Rio foi assinado em dezembro de 2009, segundo a revista.
A Orla Rio disse que foi convidada pelas entidades Abafla, Ascolpra, Praia S.A. e Asquibarra a integrar a Associação Pró-Rio, que estava sendo criada para ordenar e qualificar o trabalho nas areias das praias. “No dia 16 dezembro de 2009, a Orla Rio comunicou, em carta ao prefeito Eduardo Paes, o seu desligamento da entidade. Após a saída da concessionária, o Ministério Público Estadual abriu um inquérito para verificar a regularidade do convênio firmado. Após quatro anos de investigação, o inquérito foi arquivado, o que corrobora que não houve qualquer favorecimento à concessionária”, disse a concessionária, em nota.
Procurado, o deputado Rodrigo Bethlem disse por meio de sua assessoria que não está concedendo entrevistas sobre o assunto.