A cerimônia de diplomação dos 177 eleitos em 2014 para o próximo mandato pelo Rio de Janeiro, na tarde desta segunda-feira, teve um elemento surpresa. O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), recluso há meses e longe de qualquer holofote desde que virou alvo de duros protestos nas ruas, em 2013, reapareceu para acompanhar o evento, no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa. Um verdadeiro "beija mão" ao ex-governador pôde ser registrado durante cerca de uma hora.
Foram incontáveis os deputados federais e estaduais, de situação e oposição, que receberam seu diploma e foram até o local onde o peemedebista estava sentado para cumprimentá-lo. O próprio governador eleito, Luiz Fernando Pezão (PMDB), afilhado político de Cabral, não foi tão prestigiado quanto o padrinho, avalista de sua candidatura ao Palácio Guanabara. Mesmo com o assédio, o ex-governador escapou do evento antes do final, acompanhado da esposa Adriana Ancelmo. Não sem antes demonstrar estar muito à vontade, disparando beijinhos em direção a Pezão e a esposa, Maria Lúcia.
O evento ainda contou com outro fato inusitado. Os deputados estaduais e federais eleitos pelo Psol fluminense foram para a Assembleia munidos de cartazes com as inscrições: “a violência contra a mulher não pode ter voz no Parlamento”. Os papeis foram erguidos para a plateia que lotava a Casa no momento em que o deputado federal do PP Jair Bolsonaro recebeu seu diploma de eleito. O protesto foi em alusão a sua declaração, repetindo o que falou em 2003, dirigida à deputada Maria do Rosário, do PT, de que não a estupraria porque ela não merecia.
“O parlamento não pode ser o espaço da produção do ódio. A democracia tem que ser fortalecida no exercício do parlamentar. Por isso é importante a diferença, termos deputados mais à esquerda, mais à direita, mas o parlamento não pode representar aquilo que ameaça a democracia”, declarou o deputado estadual reeleito Marcel Freixo, o mais votado do Rio na disputa de 2014. “O discurso de ódio, que leva ao crime, reproduz e alimenta a violência, é inaceitável”, completou.
A família Bolsonaro, aliás, protagonizou outro momento da cerimônia. O deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), filho do polêmico parlamentar, foi aplaudido com intensidade ao ser chamado a receber seu certificado e teve direito até a claque.
Nada de chapéu
Conhecido pelo jeito sisudo e intempestivo, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, Bernardo Garcez, que conduziu parte da cerimônia, não fugiu à regra mais uma vez. Com aparente mau humor, disse que quem não estivesse no local não receberia o diploma, afinal, “já são 14h”, horário marcado para o evento começar. Ele ainda arrancou risos da plateia ao ordenar que um dos deputados presentes tirasse o chapéu, em respeito ao evento. O desembargador lembrou do simbolismo do prédio, que sediou a votação da Constituinte de 1946, da qual o seu avô materno foi membro pela UDN.
E não parou por aí. Garcez disparou: “é difícil fazer discurso numa Casa em que estão os especialistas em discurso. Mas, mais difícil ainda é discursar sem ter nada a dizer”. Disse que o povo espera dos eleitos que cumpram seus deveres e que façam leis “aplicáveis” e não rígidas demais, que “depois acabam sendo amaciadas”. Ele citou a “Lei do Desarmamento”, afirmando que em algumas localidades do Brasil o Exército é usado como uma espécie de “capitão do mato” para combater os altos índices de criminalidade.