O depoimento de um ex-integrante do Primeiro Comando Capital (PCC) foi o ponto de partida para a Polícia Federal começar a investigar e descobrir o plano que a facção criminosa tinha para sequestrar e assassinar autoridades, incluindo o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Uma reportagem exclusiva do Fantástico mostra detalhes do depoimento da testemunha.
O homem, que está ameaçado de morte após decidir deixar a vida do crime, procurou as autoridades para denunciar os antigos comparsas. De acordo com a PF, o plano dos criminosos estava prestes a ser colocado em prática e o ataque só não aconteceu porque os policias descobriram tudo.
Confira detalhes do relato da testemunha revelados pelo Fantástico:
Testemunha: "Estou procurando pelo fato de estar jurado de morte e fiquei sabendo que uma pessoa com alcunha de NF, essa pessoa pertence à facção, é o mais incumbido de tirar minha vida."
Promotor: "O nome dessa pessoa é Janeferson Aparecido Mariano Gomes. O apelido dele é NEFO ou NF. É isso mesmo?"
Testemunha: "Conheci ele como NF [chefia de um setor da organização criminosa chamado de 'sintonia restrita' - responsável de tirar a vida de ex-integrantes da facção] ".
Promotor: Esse setor da restrita tem alguma função de atentados ou algum ato ato criminoso contra autoridades?
Testemunha: Contra faccionados e também de atentados a agentes públicos
Promotor: "O senhor ficou sabendo de alguma outra situação, algum outro plano em que o NF tenha se envolvido?"
Testemunha: "Recentemente, o que eu fiquei sabendo é que ele planeja atentados contra autoridades, inclusive citou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro."
Promotor: O senhor sabe que tipo de atentado seria?
Testemunha: Sim. Ele falou que exatamente essa pessoa [Janeferson] está incumbida de levantar [informações] e sequestrar.
Foi o ex-integrante da facção que também revelou que, além de Sergio Moro, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya também seria morto.
Segundo as investigações, os ataques seriam realizados como forma de retaliação a transferências de chefes da facção para presídios federais e devido a mudanças no regime de visitas dos presos.
Gastos milionários com plano
A Polícia Federal encontrou diversas informações relativas à contabilidade da quadrilha suspeita pelo plano de ataque a autoridades. Segundo o jornal O Globo, somando os diferentes valores registrados pelos criminosos, o total gasto foi de pelo menos R$ 1,2 milhão, com base no relatório elaborado pelo Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise).
Segundo o jornal, os gastos constam na representação remetida à Justiça Federal. Esses dados foram encontrados em diferentes celulares e endereços de e-mail indicados por um ex-integrante da facção criminosa, que foi quem delatou o plano ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Os aparelhos telefônicos e os e-mails estavam sendo monitorados pelos policiais federais com autorização judicial, mediante quebra do sigilo telemático.
Segundo a publicação, uma anotação no bloco de notas de um dos aparelhos mostra diversos gastos vinculados a "Tokio", apelido usado para se referir a Moro, conforme apontam os investigadores. A lista inclui R$ 50 mil de custos iniciais, R$ 12 mil com viagens, R$ 55 mil para comprar um carro, R$ 50 mil para aluguéis e manutenção e R$ 110 mil com um fuzil, além de outros gastos.
Já uma das contas de e-mail mostrava gastos com aluguéis de diferentes imóveis em Curitiba, no Paraná, cidade onde o ex-juiz e sua família moravam, incluindo a locação de um apartamento a R$ 10 mil, uma casa a R$ 6 mil e uma chácara a R$ 5 mil. Os suspeitos também investiram R$ 3,5 mil em móveis, R$ 1 mil em viagens, R$ 17,8 mil com carro e R$ 2 mil em alimentação e combustível.
Além disso, uma conta no WhatsApp apontou gastos em outubro que incluem R$ 500 com hotel, R$ 1 mil com TV, R$ 200 com gasolina e R$ 25 mil com um carro. Além de R$ 6,9 mil com passagem, R$ 620 com gasolina, R$ 2.040 com mercado, R$ 600 com uma bateria e R$ 200 com um corta-grama, por exemplo.