O hacker Walter Delgatti Neto foi preso preventivamente nesta quarta-feira, 2, durante operação da Polícia Federal que apura a suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Delgatti Neto ficou conhecido por h
ackear trocas de mensagens do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, hoje senador, e do ex-procurador da República e deputado cassado Deltan Dallagnol. Essa é a terceira vez que ele é detido.
Segundo a PF, a ofensiva investiga crimes que ocorreram entre 4 e 6 de janeiro, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ 11 alvarás de soltura de presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A corporação ainda faz buscas em endereços ligados à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Com codinome Vermelho, Delgatti Neto já havia sido preso, em julho de 2019, na Operação Spoofing. À época, ele admitiu aos investigadores ter hackeado o celular de diversas autoridades do País. O hacker também afirmou que repassou o conteúdo das supostas mensagens entre Moro e Dallagnol ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, sem cobrar contrapartidas financeiras para repassar os dados.
As conversas mostrariam que Moro teria orientado investigações da Lava Jato ao sugerir mudança da ordem de fases da operação, dar conselhos, fornecer pistas e antecipar uma decisão a Dallagnol. Os membros da Lava Jato nunca reconheceram a autenticidade das mensagens. Entretanto, o conteúdo foi utilizado como fundamento para a 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba anular todas as decisões tomadas por Moro contra o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, por exemplo. Além disso, os arquivos obtidos à época pela Operação Spoofing foram usados pela defesa do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva na decisão do STF que considerou Moro suspeito para julgar o petista - o julgamento foi em 2021.
O hacker afirmou em nota, divulgada pela sua defesa e obtida pelo Estadão na época, que o conjunto das mensagens extraídas nos celulares de autoridades encontra-se guardado por terceiros no exterior. Em outra parte do documento, Delgatti Neto diz espantar-se com "a fragilidade do sigilo no Brasil", sugere melhoria nos sistemas de comunicação nacional e "convida a uma regulamentação e à transparência quanto ao acesso e o uso de ditas redes de informação pelo poder público, em plena defesa do melhor interesse público".
Em outubro de 2020, Delgatti passou à condição de liberdade condicional, mas voltou a ser preso novamente em junho de 2023 após violar a ordem judicial que o impedia de acessar a internet. Um mês após, juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, autorizou a soltura do hacker.